Capítulo 9

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Dias atuais:

As horas foram passando e eu fico perambulando pela casa com a minha cabeça a mil. Ver o Henry de novo não foi fácil e não está sendo fácil agora que eu mandei ele ir embora, porque tudo o que eu mais quero é correr atrás dele, agarrá-lo e dizer que eu o perdoo, de novo. Porém, algo mais forte do que eu não me deixa fazer isso, acho que é o senso. E também, tem aquele tiro no escuro. Aquelas tais pistas que o Gustavo me falou e que me deixou pensativo. Por que tudo sempre tem que ser tão confuso pra mim? AAAAAH

Continuo andando pela casa e encaro o iPad da Ste que está no aparador.
Olho para o relógio que está em meu pulso. Dá tempo! - penso comigo mesmo.
Pego e digito a mesma senha de sempre, entrou.
Entro em seu Instagram e procuro o perfil de uma velha amiga. Achei!

Ste:
Oi! Pietro aqui. Estou na cidade. Podemos dar uma caminhada?
Ela sempre demora a responder, então, tenhamos paciên...
Caroline: Espero que isso não seja trote ou algo do tipo...
Caroline: Aonde vamos?
Ste: Mesmo lugar de sempre.
Ste: Daqui a 30 minutos
Ste: Te vejo lá!

Bloqueei o iPad e coloquei no mesmo lugar em que encontrei.
Peguei meu celular, a chave do carro e sai.

Há tempos atrás eu e Caroline passeávamos no Engenhão, local que era meio caminho para nós dois que morávamos longe um do outro. Nessa caminhada nós conversávamos sobre a vida e contávamos um monte de fofoca - já que não nos víamos regularmente em outro local e nem conversávamos muito pelo celular. No começo, nós ficávamos calados como quem não tinha nada para dizer e depois de alguns minutos nos atropelamos nas palavras, pois tínhamos muitas fofocas para contar. Lembrando agora, que saudade desse tempo.
Chego primeiro, como de costume.
Sento nas escadas e fico lembrando dos momentos em que passei aqui. O quanto fiquei bêbado; quantas pessoas já beijei; a primeira vez que vi o Henry; todas as vezes que vomitei de tão bêbado, e por ai vai...
Continuo olhando ao redor e paro assim que vejo a Caroline. Ela está vindo em minha direção com o sorriso no rosto e eu não pude deixar de retribuir. Levanto de onde estava sentado e vou em direção a ela.

- Que saudade! - ela diz assim que nos abraçamos.
- Vamos caminhar? - ela assentiu.

Começamos a caminhar em silêncio, como nos velhos tempos. Só que dessa vez não há tempo para ficar calado.

- Onde você estava? O que você ficou fazendo? - ela perguntou antes que eu pudesse abrir minha boca - Eu mandei milhares de mensagens para você.
- Primeiro eu viajei para São Francisco. Mas não me adaptei lá. - digo olhando para baixo enquanto caminhamos - Então fui para Curitiba. E permaneço lá desde então.
- E você tem uma vida boa lá? Amigos? Namorado ou (da)? - assenti.
- Só não namoro. - sorri de lado encarando-a - Mas sim, minha vida lá é boa. - essa mentira saiu muito amarga de minha boca.
- E o que te fez voltar?
- O meu pai morreu. - digo seco.
- Sinto muito!
- Eu não. - me encarou.
- Eu sei o quão pesado foi. Mas você não acha que está sendo muito radical? - silêncio - digo...
- Henry foi me visitar hoje. - digo cortando o assunto anterior.
- E como foi?
- Mais difícil do que eu imaginava. - respirei fundo - Ele fodeu tanto a minha vida e tudo o que eu mais queria era abraçá-lo e perdoá-lo, novamente. Eu sou ridículo! - nego.
- Você é um ser humano. - disse com firmeza na voz - Não há problema algum você continuar sentindo atração pela pessoa que te machucou.
- E quantas vezes eu vou ter que quebrar a cara para perceber que nós dois não somos feitos um para o outro? - digo com uma voz cansada - Eu estou cansado disso tudo. As vezes eu queria nunca ter conhecido ele.
- Todas as pessoas vão nos machucar de alguma forma. Nossos amigos, namorados, nossa própria família... - passa a mão no cabelo - Isso nunca vai acabar e você sempre estará cansado. Então tenta levar as coisas com mais leveza possível, antes que qualquer situação possa acabar com você.
Assenti, pois ela está certa. Sempre está.

- Se você pudesse escolher, você voltaria para o seu ex ou tentaria com alguém novo? - pergunto.
- Se essa pergunta for referente a você, não vou responder. - revirei os olhos negando com a cabeça - Faça o que o seu coração manda. Ou talvez escute sua mente. - deu de ombros - Você prefere tentar de novo ou descobrir novos universos?
- Obrigado! - a abracei - Senti sua falta.
- Eu também! - diz enquanto estamos abraçados.

Sentamos em um restaurante qualquer e pedimos coisas para beber e comer. É como se fosse nos velhos tempos; eu, ela e uma boa fofoca. Será que eu perdi muito indo embora? Eu sinto muito que sim, mas ao mesmo tempo eu sinto que foi melhor assim. Antes de ir embora, Caroline me fez prometer que não vou sumir e eu prometi, mesmo não sabendo se eu posso cumprir.

Estaciono em frente a casa da Ste e saio do carro.
Chego rapidamente na sala e estão todas aqui. Ste; Thayla; Pandora e Clarisse. Todas me encararam no mesmo momento e eu fico imóvel. Encaro uma por uma.

- Pensamos que você tinha ido embora. - Thayla começa.
- Até ver a mala no quarto - Ste continua.
- Se você pensar em ir embora de novo sem se despedir, eu te mato! - Clarisse termina.
- Eu ainda estou aqui. - digo me aproximando do sofá e sentando - Mas não por muito tempo. Tenho que estar no aeroporto antes das nove.
- Afs! - Ste revira os olhos.
- Vamos ficar mais tempo sem te ver? - Pandora pergunta.
- Não sei! - dou de ombros.
- Minha mãe ficou puta quando descobriu que você está aqui e não foi visitar ela - diz Thayla se aproximando de mim - E nem a sua afilhada você viu ainda.
- Não vi porque você não trouxe.
- Grosso! - reclama.
- Enfim, vou arrumar minha mala. - digo levantando.

Fui até o quarto em que estou hospedado e começo a arrumar a pequena mala que eu trouxe. Quando estou quase terminando, alguém bate na porta, Pandora.

- Se você veio atrás de desculpas, eu não me arrependo de nada. - digo sendo curto e grosso - Eu tentei ser gentil.
- Se você chama aquilo de ser gentil, porra...
- Você só pensa em você, Pandora. Sempre pensou. - sento na cama enquanto ela fica parada na porta.
- Ele também queria expor um segredo meu. Eu tive que fazer o que era preciso.
- Você é cheia de segredos... - a encaro por alguns segundos em silêncio - Bom, sinto muito. Mas se você tivesse sido uma boa irmã quando eu precisei, não estaríamos passando por isso. - ela assentiu.

Deu as costas e saiu.
Eu não queria ter feito o que eu fiz, mas era uma situação em que eu matava ou morria. Então, foi necessário.

Termino de fazer o que estava fazendo e a desço. Todas estão sentadas na mesa me aguardando. Havia um banquete pronto à minha espera e elas disseram que era o banquete de despedida. Sento e todos nós começamos a comer e fofocar.

A hora foi passando e logo chegou o momento de ir para o aeroporto. Insisti dizendo que ninguém precisava me levar, mas todas quiseram ir, inclusive a Pandora. Então, fomos todos. Todos entramos no meu carro - elas falaram que iriam pedir um carro de aplicativo na volta - durante a viagem até o aeroporto, todas foram colocando uma música de sua preferência e eu sou o único que me ausento disso. Apenas escuto as péssimas músicas delas.
Entrego o carro; faço check-in e agora estou parado em frente à entrada para a sala de espera. As quatro me encaram e nenhuma está com cara de choro. Já eu tenho que me controlar para que isso não aconteça. Abraço um por um e as encaro novamente.

- Dessa vez eu vou tentar manter contato! - digo - A Thayla tem meu número e vai passar para vocês. - elas assentiram - E eu prometo que irei voltar. Apenas tenha paciência.
Sorri de lado.
- Amo vocês! - nos abraçamos em grupo e elas deixaram que eu entrasse. E eu fiz isso sem olhar para trás.
Uma lágrima caiu de meu olho.

Entro em meu prédio e cumprimento o porteiro.
Subo de elevador e logo paro de frente a minha porta e, respectivamente, de costas para a porta do Heitor.

Abro a minha porta, deixo a mala lá dentro e a fecho. Viro para a porta do Heitor, encaro o número 39 e me pergunto se eu devo mesmo fazer isso. Sim. Agora é a hora. Toco a campainha e ele não demora muito para abrir. Pela sua feição, ele fica surpreso em me ver.

- Ei! Você...
Eu me aproximo dele e o abraço. Sinto a mesma coisa quando tive o meu primeiro contato com o Henry, só que agora é diferente, pois eu amadureci - pelo menos eu espero. Ele não retribui o abraço e eu não consigo soltá-lo.

- Cara, tá tudo bem? - pergunta - Se a minha mulher nos vê assim, ela vai surtar.
Mulher???? O solto e o encaro com os olhos arregalados.
- Estou brincando com você! - riu e me puxou para mais um abraço - Você não tem noção do quanto eu esperei por isso.
Diz me encarando e logo nossos lábios se encontraram.

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