04:04AM

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– Eu não acredito que isso realmente aconteceu! – diz Thayla.
– Eu to cho-ca-da! – soletrou Stefanie com a mão na boca.

 E cada pessoa que está aqui se manifestou de alguma forma, sendo que todas foram similares.
Hoje acontece a reunião "obrigatória" de todos os domingos na casa da mãe da Thayla, onde o grupo original se reúne. E quando eu digo grupo original, eu quero dizer: Eu, Pandora, Thayla, Stefanie e Clarisse – que são irmãs – e Luís Gustavo. Só que sempre que pode, o Luís Gustavo falta (todo domingo).
Agora, estamos todos sentados em sua varanda ao redor de uma mesa recheada de "tira gosto" e vários tipos de bebidas. O Gustavo é o nosso barman, quando resolve aparecer; e na sua ausência nós apenas compramos bebidas alcoólicas prontas.

Encaro um a um depois da surpresa que eles tiverem e uma feição era melhor que a outra; exceto da mãe da Thayla, que saiu de fininho alguns minutos atrás, como sempre.
 Eu realmente fico com vergonha de expor a minha vida, ainda mais pessoalmente, porém chega uma hora que a gente tem que parar com a farsa e viver algo real.

 – Todo mundo sabia que você é viadinho! – Clarisse faz uma piadinha e todo mundo ri, como esperado.
– Tá, espera aí. – Thayla chamou atenção para ela – Mas vocês fizeram algo a mais ou...
– Não! – neguei – Tudo acabou aí, aonde eu terminei de contar.
– Cho-ca-da!
– Ste, já entendemos! – eu ri.
– Mas não está acontecendo rápido demais? – minha irmã pergunta.
– Diz a garota que conheceu o cara em um dia e no outro já estava aceitando o pedido de namoro – a encaro – a emocionada aqui é você! – ela revirou os olhos.

 Todos começaram a rir e nós relembramos desse fato histórico.
Pandora sempre foi o tipo de garota complicada, o famoso oito ou oitenta. Como uma pessoa pode ser totalmente previsível e ao mesmo tempo imprevisível?

Há um ano ela mudou completamente a sua personalidade e parecia ser uma nova pessoa; uma pessoa que eu fui obrigado a conhecer, novamente. Não foi fácil, mas foi preciso. Agora, nós dois nos conhecemos de verdade, pois eu também mudei. Já cansei de mentir, de fingir ser alguém que eu não sou e sorrir mesmo quando eu estou triste. E a Pandora é o oposto disso. Ela mente; finge ser alguém que não é (para certas pessoas) e é cheia de segredos.
Ok! Vamos deixar essa conversa para depois.

 – Só uma coisa me preocupa nisso tudo! – digo atrapalhando a conversa paralela – o Gustavo.
– O que tem ele? – Thayla pergunta.
– Ele também sente algo pelo Henry, mesmo sem conhecer.
– Como assim? – agora foi Ste.
– Há alguns dias atrás eu estava conversando com o Gustavo e ele acabou curtindo o Henry –todas estavam paradas me encarando – e eu disse que ele poderia ficar com o Henry, se quisesse. Obviamente foi antes de tudo acontecer.
– Ai é foda! – diz Pandora – Mas foi brincadeira, né? – assenti.
– O Gustavo só fala! – diz Clarisse – Nunca que vai acontecer nada. Ainda mais agora que ele sabe que vocês estão tendo algo. E se acontecer, a gente deixa ele careca – eu ri.
– Então não há com o que se preocupar?
– Não! – Clarisse negou – Pode viver seu romance gay e tenham um feliz para sempre – sorri de lado.

 Todas concordaram e tudo parece estar certo. Porém, não está. Por que algo dentro de mim manda eu me preocupar com a situação, pois nada na minha vida é fácil, só aparenta ser.
Continuamos comendo, bebendo e fofocando. Até o momento em que eu cansei e entrei. Fui cambaleando até o quarto da minha prima e deitei na cama debaixo do beliche. Pego o meu celular – eu bêbado e celular na mão sempre da merda – abro nas conversas. Vou rolando até ler o nome "Henry"; ele havia me enviado mensagem há duas horas.

– Henry –
H: Qual a boa de hoje?
P: Estava bebendo com as minhas primas.
P: Se tivesse lido antes eu te convidava.
H: De boas!
H: Um amigo me convidou para um barzinho. To aqui trocando uma ideia com ele.
P: Ah, legal
P: Divirta–se!

Como o Gustavo trabalha demais, hoje vim visitar ele no trabalho e vou aproveitar pra beber alguns drinks.
Ele sai detrás do balcão e vem me abraçar. Levanto da minha cadeira para abraçá-lo e logo sentei de volta, dessa vez com ele na minha frente. Essa roupa do trabalho não combina nada com ele.

– Trabalhando muito? – pergunto.
– Como sempre. Eu sou o escravo daqui! – ri.

Encaro-o com medo de entrar naquela conversa e ofendê-lo de alguma forma. Ele não seria capaz de fazer isso comigo.

– Então, finalmente está rolando algo entre eu e o Henry! – sorri de lado – e sobre aquilo de "pode ficar pra você"... Você sabe que era brincadeira, né?
– Não! – negou com a cabeça – Eu levei tão a sério, que eu convidei ele para um barzinho ontem.
– O quê? – alterei o tom de voz – Como você pode ser tão traíra assim?
– Não é minha culpa. Você não disse que estava tendo algo com ele! – colocou a mão na testa e foi subindo até o cabelo.
– Porra! – gritei – E precisava dizer, caralho?! – o encarei – Tem tanta gente no mundo e você vai dar em cima de quem eu sou afim?
– Mas... – ele olha para os lados, para ver se alguém estava prestando atenção.
– Mas porra nenhuma! – continuo gritando – Eu te convidei para sair, para contar exatamente sobre ele e você vem se fazer de desentendido?
Ele me encara sem ter o que falar e eu estou fervendo de ódio.
– Eu nunca vou te perdoar! – levanto da cadeira e saio do bar.

Acordo e pego o celular rapidamente para ver o horário.
04:04AM
Que porra é essa? Estou tão paranoico que estou sonhando com essa merda. Eu sempre disse para todos que os meus sonhos são como um aviso e eu sempre pesquiso o significado no Google – É, eu sei – Só que agora eu não preciso, por mais que esteja confuso, dá pra entender que é apenas o meu medo.
Entro na conversa com o Gustavo e mando uma mensagem para ele. "Oi, precisamos conversar!" 
O Gustavo é meu melhor amigo e eu sei que ele não me faria mal algum. Porém... Bloqueio o meu celular e o deixo em cima de mim. Encaro o teto por alguns minutos e depois me viro de lado, obviamente irei voltar a dormir. 

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