– Você tem mesmo um amor platônico pelo Henry? – minha melhor amiga pergunta e eu apenas assinto com a cabeça – Tu não tá batendo bem da cabeça. – rimos.
Eu, Caroline, Caroliny e Caio estamos sentados no chão da sala da casa da Caroliny enquanto bebemos e fofocamos. Eu nem sempre fui rico e quando não era, estudei em uma escola pública – difícil eu admitir, mas é verdade – e os conheci lá. Havia um amigo a mais entre nós, porém ele fez merda e acabamos nos afastando dele. Enfim, eu guardo esses merdinhas no coração já faz 10 anos e por mais que a gente não converse tanto quando estamos afastados, nunca perdemos a química e nossas reuniões sempre são cheias de nostalgia.
– Concordo com a Caroliny! – disse Caroline que é sempre cheia de pensamentos próprios. Isso foi ironia.
– Falou a que só teve péssimos relacionamentos – olho para Caroliny – e a que nunca se relacionou com ninguém e é apaixonada por um amigo que diz não querer nada com ninguém no momento, mas saí com outras – digo rápido e as encaro enquanto falo.
– Ai! – diz Caio que não tem muita propriedade para falar no assunto.
– Foi mal! – sorri de lado – Mas, vocês vão me julgar mesmo? Eu vou ter que me defender.
– E eu continuarei te julgando! – responde Caroline.
– Ai, vamos nos maquiar! – Caroliny levanta e vai para o seu quarto.
Caroline segue-a e eu vou logo atrás. Deito em sua cama e começo a fazer carinho em sua cachorrinha que está dormindo. Caio chega com quatro latinhas de skol beats e entrega uma para cada um, agradeço.
As meninas demoram um século para se maquiar. Eu continuo na cama bebendo e o Caio está no chão. O tédio começa a tomar conta de mim e eu entro no Instagram. Começo a rolar pelo feed a procura de algo interessante e nada. Vou até o direct e vejo que o Henry está online. Abro e fico encarando o meu "Oi!" sem resposta.
Lembro que alguns dias atrás ele postou em seu twitter que queria que alguém o convidasse para F1. Talvez essa seja a minha oportunidade. Começo a digitar e quando termino, encaro a minha vergonha: "Bora F1?". Aperto em enviar.
O assunto finalmente volta no quarto e nós já estamos ficando bêbados. Começamos a dançar, a cantar alto e a passar vergonha. Eles não ficam bêbados com muita facilidade e hoje finalmente eu consegui.
A lanterna do meu celular pisca e eu paro de dançar para ver o que é. Meu coração quase para quando eu vejo que o Henry respondeu a minha mensagem. Aperto na mensagem e vou direto para o direct. Leio repetidas vezes a sua resposta antes de respondê-lo.
H: Opa, onde é o rolê?
P: Na casa de uma amiga.
P: Vai aparecer mesmo?
H: Posso?P: Pode!
H: Posso levar uma migo meu, Bernardo?
P: Sim!
Ele pediu o endereço e eu enviei. Encarei a Caroliny, pois sei que ela não vai gostar nada disso. "Como assim você tá convidando dois estranhos para a minha casa?", já consigo ouvir ela mandando eu cancelar. Ele diz que vai chegar em meia hora e eu bloqueio o celular.
Me aproximo dela e deu para ver sua desconfiança em seu olhar.
– Eu meio que convidei o Henry para vir pra cá! – digo sorrindo.
– Cancela! – diz, já irritada – De onde você tirou que pode convidar estranhos para a minha casa? – negou com a cabeça e revirou os olhos.
– Como é importante para mim, eu pensei que...
– Pensou errado. – me cortou – Se ao menos ele viesse com o Bernardo. Eu estou afim de pegar ele.
– Ele falou que iria vir com ele – ela arregalou os olhos.
– Então manda ele vir logo. – ajeitou o cabelo – Não, pera. Eu estou ridícula. Manda ele demorar, que ai dá tempo de eu me arrumar.
– Ele falou que chega em meia hora! – deu para ver o desespero em seu olhar.
– Tenho que correr então.
– Nós temos um problema!
– Qual? – Caroline perguntou.
– Eu o convidei para fumar maconha. Só que eu não tenho e não fumo – eles começaram e rir e eu não achei nada engraçado.
– Se fodeu! – diz Caio.
Eu não imaginei que ele aceitaria, muito menos que responderia a mensagem. Estou fodido!
Começo a andar de um lado para o outro esperando uma solução para o meu problema enquanto o tempo passa e rápido. Como que eu vou conseguir maconha, sexta–feira, às dez horas da noite, sem nenhum contato? Dinheiro eu tenho, o que me falta é contato... Contato... Eu tenho contato. Saio do quarto e vou correndo para o banheiro. Tranco a porta e logo o som alto é abafado.
Eu tenho um primo que é taxado de maconheiro e que de fato ele é. Não falo com ele há bastante tempo e não sei se ainda tenho o número dele. Procuro nos meus contatos e lá está, Alan. Sento na tampa do vaso.
Aperto para ligar.
– Pietrinho! – ele atende – Ligou errado?
– Não. – neguei com a cabeça como se ele pudesse me ver – Preciso da sua ajuda.
– Vai sair caro.
– Estou contando com isso. – deu para ouvir uma risada – Você ainda fuma maconha?
– Nunca parei. – ri.
– Então, preciso que você bole quatro para mim, por favor!
– Ah não! – diz em um tom engraçado – Você tá fumando agora, Pietrinho?
– Óbvio que não. Vou dar de presente para alguém.
– Tá.
– Daqui a dez minutos vou passar ai na sua casa. Espero que esteja pronto.
– Espera, é pra agora?
– Pra ontem! – digo um pouco alto.
– Mandão, como sempre... – silêncio – Vai...
– Custar caro! – o interrompo – Duzentos reais resolve o seu problema?
– Quanta generosidade.
– Começa a trabalhar, agora. – ordeno e desligo a ligação.
Se o Henry estava falando a verdade, ele deve chegar daqui a quinze minutos. E eu não posso vacilar.
Saio do banheiro e vou para a cozinha. Bebo bastante água, pois vou pegar no volante. Volto para o quarto e as meninas estão se arrumando enquanto o Caio está deitado no chão, tirando uma soneca. Tiro uma foto, para jogar na cara dele depois e sento no colchão.
– Pronto! – respiro aliviado – Vou buscar a maconha daqui a pouco.
– Você é maluco! – as duas disseram juntas – Nem sabe se ele quer algo com você.
– Você nem sabe se o amigo dele vai querer algo e você está se arrumando – dou de ombros – vocês só sabem me julgar. Mas são duas...
– Duas... – Caroline me encarou.
– Deixa pra lá! – levanto da cama – Vou lá buscar.
Odeio dirigir de noite, mas agora é necessário.
Não liguei o rádio para não me distrair com nada e estou sentindo um leve cansaço por conta da bebida. Ao chegar em frente ao prédio em que meu primo mora – e o qual eu cresci – entrei rápido por conta dos vários assaltos que acontecem aqui diariamente.
Passo pelo corredor principal observando, assustado, como nada mudou. Aqui é outro lugar que eu sinto uma nostalgia, pois foi muito bom ter crescido em um prédio com a minha família onde havia vários primos meus. Se alguém me perguntar se eu gostei de morar aqui, eu nego até morrer. Agora o lugar é infestado de baratas – pessoas aleatórias – que compraram ou alugaram os apartamentos.
Bato na porta do meu primo e logo ele abre. Nos cumprimentamos com um aperto de mãos e a namorada que está sentada no sofá sorri para mim. Ele abre espaço para que eu passe pela porta e eu não pretendo fazer isso.
– Estou sem tempo! – digo – Apenas me dê à maconha que eu te passo o dinheiro.
– Ficou com o nariz em pé, em! – riu – Mas todo mundo já esperava isso de você.
– Fico feliz em ter comprido com as expectativas! – sorri sem graça – Então?
Ele pegou um saquinho do bolso e me entregou com quatro baseados. Peguei o celular e entreguei para ele, que anotou a sua chave para que eu pudesse transferir. Feito!
– Passei duzentos e cinquenta – digo guardando o celular no bolso – Tenha bom proveito.
– Espero que apareça mais vezes pedindo favores. – eu ri.
Desço o prédio correndo e entro no carro.
Dou partida.
Espero chegar antes deles.
– Eles já chegaram? – pergunto assim que a Caroline abre o portão para mim.
– Não! – negou – E a Caroliny ainda não terminou de se arrumar.
– E depois quem está maluco da cabeça sou eu! – rimos.
Estávamos perto da porta da sala quando a campainha tocou. Congelei e encarei Caroline. Ela fez sinal para que eu abrisse dessa vez e entrou na casa. Escuto a Caroliny dizer "Ele não pode me ver assim!" e reviro os olhos. Garota dramática.
Viro em direção ao portão e antes de abrir, respiro fundo.
– Eae! – sorri – Pensei que vocês não viriam.
– Po, você me convidou! – Henry diz apertando minha mão – Eu não recuso um convite para fumar – sorriu – esse é meu amigo, Bernardo.
– Prazer! – digo apertando sua mão.
– De quem é esse Porsche? – Bernardo pergunta.
– Meu!
– Porra! – Henry balança a cabeça – Irado.
Nós entramos e eu disse para eles ficarem a vontade. Fui até o quarto da Caroliny, mandei o Caio levantar do chão e ir para a sala socializar. Caroline que não queria nada naquele quarto desceu junto com ele e restou apenas eu e Caroliny.
– Esse é o meu momento! – sorriu de orelha a orelha – Sei que já estamos meio velhos, mas vamos jogar verdade ou desafio. Qualquer oportunidade desafia ele a me beijar! – assenti.
– Você está maluca mesmo, né? – ri.
– E você caidinho por um libriano, desempregado e corno – diz sendo agressiva.
– Pera ai, ele é de libra? – arregalei os olhos – Eu sei como conquistar um libriano. Ele já gostou do meu carro.
– Você quer que ele goste de você ou que ele seja um interesseiro? – parou o que estava fazendo e me encarou.
– Quero que ele se interesse por mim. – dou de ombros.
– Ai! Vamos ver no que vai dar.
Nós saímos do quarto e fomos para sala, nos enturmar. Caroliny está toda arrumada, parecendo uma emo, igual ao Bernardo. Eles se cumprimentaram e ela sentou ao seu lado. Silêncio.
– Ciroc, Red bull e Skol Beats... Vocês sabem dar uma festa – Henry diz quebrando o silêncio que se instalou no local mesmo com a televisão ligada.
– Isso não é nada. – diz Caio – A ultima vez o Pietro contratou um barman só para nós quatro.
– Sério? – eu assenti.
Olhei para a Caroliny que está com uma cara de brava. Já imagino o que se passa na cabeça dela "Você contratou o Caio para levantar a sua moral?". Se ela entendesse que cada um usa seus meios para chegar aonde quer, nós iriamos discutir menos.
– Então, bora jogar algo que envolva bebida? – Caroline propôs.
– O meu preferido é Desafio ou Desafio – diz Caio.
– Tá bom... – os encaro, pois eles não sabem fingir.
Sentamos na mesa e cada um fez o seu copo ou pegou uma latinha de skol beats, como foi o meu caso. O jogo começou e só rolava desafios chatos e entediantes. Não havia um constrangimento ou uma emoção. Meus amigos nunca foram criativos jogando desafio ou desafio e isso sempre me matou por dentro. Até que...
– Bernardo, te desafio a dar um beijo na Caroliny – digo.
– Tá! – deu de ombros e a beijou.
Parece que a Caroliny irá morrer de tanta felicidade e ela não faz questão de esconder isso. E depois disso, o jogo continuou com uma rodada entediante.
– Pietro, te desafio a ficar sete minutos no paraíso comigo! – Henry diz me encarando.
Encarei meus amigos e todos assentiram ao mesmo tempo. Ok!
Levantamos da cadeira e fomos até o banheiro. Entramos e assim que eu ia acender a luz, o Henry puxou o meu braço.
– Você nunca assistiu filmes? – me encarou – Nada de luz.
– Ok! – digo com a voz trêmula. – Então, o que as pessoas fazem no filme? – pergunto.
– Geralmente, ficam com vergonha e não fazem nada. – silêncio – Mas eu te desafiei, então...
A escuridão toma conta do lugar. A única luz que ilumina o banheiro é a luz do poste que passa por uma pequena janelinha. Eu começo a tremer e ficar mais nervoso do que estava antes. Henry se aproxima de mim e encosta seu nariz com o meu. Da para sentir sua respiração e o cheiro de cigarro que ele deve ter fumado antes de entrar aqui. O cheiro do seu perfume masculino é forte e agradável. Tomo "inciativa" e o beijo. Ele passa suas mãos pelas minhas costas e eu por seu cabelo. Continuamos nos beijando e eu nunca mais quero sair desse banheiro; pena que temos apenas sete minutos.
Ele se afasta e me da três selinhos. Eu queria agarrá-lo e fazer sabe-se lá Deus o que, mas me contive. Alguém bate três vezes na porta, o tempo acabou. Ele acende a luz e sorri de lado.
– Se isso tudo foi para conseguir a maconha, você conseguiu! – digo tirando do meu bolso e entregando para ele.
– Estava tão na cara assim? – ele riu e pegou de minha mão – Vamos fumar agora?
– Eu não fumo. – arregalou os olhos.
– Ué?!
– Eu só te chamei porque queria me aproximar de você. – dei de ombros.
– E deu certo?
– Acho que sim! – sorri de lado.
Ele me deu mais um selinho e se aproximou para abrir a porta do banheiro. Nós saímos e nos juntamos ao restante na sala. Meus amigos me encararam com uma cara de curiosidade e eu quero gritar de felicidade. Agora eu acho que entendo a Caroliny. E sim, estou disposto a fazer de tudo para conseguir o que eu quero. Sempre estive.
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PIETRO
Novela JuvenilPietro é um menino sensível, de poucos amigos e de muitos problemas. Ele não sabe ao certo a sua sexualidade, não consegue concretizar os seus sentimentos pelos outros, prefere ser uma pessoa reservada, mas nunca consegue escapar dos seus problemas;...