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ME SENTEI NA CALÇADA suja encostando minhas costas no muro com desenhos aleatórios, acendi um cigarro e me permitir pensar em mim e meu futuro. Odeio saber que depende de mim. Suspirei deixando a fumaça sair da minha boca. A rua está deserta, claro, são três da manha. Não quero voltar para casa, se eu voltar vou ver minha mãe naquele chão frio se afundando nas drogas e bebidas. Suas lagrimas dizem que sofre todos os dias deste que meu pai nos abandonou. Eu me sinto culpada, mas quando o vento frio bateu em meu rosto pensei em outra coisa.
Você já passou seus dedos pela parede e sentiu a pele da sua nuca arrepiar quando está procurando pela luz? Às vezes, quando você está com medo de olhar no canto da sala vcê sente que alguma coisa está lhe observando. Medo do escuro, tenho um medo constante de que há sempre algo por perto. Sou uma mulher que caminha sozinha e quando estou andando por uma estrada escura á noite, ou passeando pelo parque quando a luz começa a enfraquecer ás vezes me sinto um pouco estranha. Um pouco ansioso quando está escuro.
Joguei o cigarro em qualquer lugar e me encolhi, a jaqueta de couro não estava mais esquentando. Coloquei meu cabelo para trás e me levantei. Andava devagar, mesmo querendo chegar rápido. Chutava algumas pedras que estavam no caminho, mas nada afastava meus pensamentos. Para onde meu pai foi? O vento veio de novo, mas agora não estava frio. Olhei para o céu em busca de esperança.
Abri a porta de casa e as luzes estavam acessas. Olhei para o sofá e lá estava ela deitada com uma garrafa de vodka em sua mão. Assim que me viu sua feição mudou, parecia estar com raiva. Oh, merda, lá vamos nós de novo!
── Você, foi você que estragou tudo! Se não fosse você meu marido estaria aqui comigo, estaria me amando. Ah, você não sabe o quanto eu te odeio.
Claro, eu ignoro, mas no fundo eu sinto muito. Subi as escadas e ela ainda fala que me odeia, mesmo eu não conseguindo ouvir muito. Tranquei a porta e me deitei na minha cama me encolhendo para chorar baixinho. Ainda sinto o cigarro, mas não sinto a calma que ele me proporcionava por curtos dois minutos. Abracei meu travesseiro e imaginei meu pai ali me consolando.