𝗝𝘂𝘀𝘁 𝗹𝗲𝘁 𝗶𝘁 𝗼𝘂𝘁

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DEITEI EM MINHA CAMA relaxando minhas costas. Sinto um aperto no meu peito, parece que perdi alguém. Fechei meus olhos tentando deixar isso de lado, mas não consigo. Olhei para a lua e ela está bonita, como sempre. Quando pequena queria ser astronauta, desafiar a lei da gravidade, se é assim que fala. Me sentei e olhei para a porta, parecia que a qualquer momento alguém iria entrar. Eu adivinhei.

Lá estava Axl com lágrimas nos olhos e me olhando como se tivesse levado um tiro no peito. O olhei confusa, mas não ignorei o aperto no meu peito. O ruivo se aproximou de mim e se sentou na cama. Estou ansiosa.

── O que foi, Willian? ─ Perguntei preocupada.

── É a Maria. ─ Parece que as palavras não saiam de sua boca.

── Minha mãe?

Concordou com a cabeça.

── O que aconteceu? ─ Perguntei nervosa.

O ruivo respirou fundo e me abraçou como se precisasse se sentir bem.

── Ela teve uma overdose.

Paralisei. Senti aquela sensação mais forte, como se eu tivesse sido baleada agora. Não percebi quando prendi minha respiração. Minha mãe morreu? Axl me abraçou mais forte. Eu quero chorar, mas não consigo.

── Fizeram de tudo para ela voltar, mas parece que a morte realmente a levou. O velório é amanhã, não se preocupe eu cuidarei disso. Eu sinto muito, meu bem. ─ Axl me consolou, mas agora eu só quero morrer.

[...]

Coloquei uma blusa e uma calça preta, já que preto é a cor do luto. Fiz um rabo de cavalo no meu cabelo e coloquei meu all star. Está frio, então coloquei um moletom preto do Beatles. Me olhei no espelho e respirei fundo. Minha mãe morreu. Os meninos vão comigo para o velório. Axl não para de chorar.

── Vamos? ─ Steven perguntou me estendendo a mão.

Peguei sua mão e descemos as escadas. Willian estava apoiado na porta com a cabeça baixa, chorando. Steven apertou mais minha mão tentando me confortar. Entramos no carro e no rádio tocava Cherry Bomb da banda The Runaways, não estou no clima para gritar o refrão. Fechei meus olhos encostando minha cabeça no ombro de Duff.

Chegando no cemitério, Axl ainda derramava lágrimas. A mulher que eu chamo de mãe estava pálida, fria e morta. O seu caixão é bonito e seu vestido vermelho a deixa mais bonita. Todos me olharam quando peguei sua mão e me aproximei do seu rosto.

── Estou tentando deixar você ir, estou morrendo para deixar você saber como estou progredindo. Eu não chorei quando você foi embora de primeira, mas agora que você está morta, dói. 

Eu não estou totalmente aqui, metade de mim desapareceu. Meus olhos se encheram de lágrimas e comecei a chorar igual um bebê. Alguém colocou a mão em meu ombro e aproximou o rosto do meu ouvido.

── Vá em frente e chore, garotinha, você sabe que o seu pai também chorou, você sabe pelo o que sua mãe passou. Você tem que deixar isso sair logo, só deixe sair.

Então me virou para me abraçar. Era Slash. O abracei forte colocando minha dor para fora e molhando sua jaqueta de lágrimas quentes. O cacheado rodeou minha cintura, de vez em quando passava sua mão pelo meu cabelo. Axl chora perto do caixão e eu choro vendo que ela também me deixou.

── Slash, não quero ver minha mãe sendo enterrada. ─ Sussurrei, sentindo as lágrimas diminuindo.

── Vamos na frente, então. ─ Slash desencostou sua cabeça da minha. ── Vou na frente com a Kourteny.

O restante ficou para consolar Axl e eu fui apoiada no ombro de Slash até na casa deles.

── Não precisa ser forte, Kourteny. Você é humana, você também deve chorar e ser triste. Não tenha vergonha de colocar seus sentimentos para fora.

Suas palavras são gentis, entram no meu ouvido como a voz do Freddie cantando Love Of My life. Me deixa calma e segura.

── Obrigado. ─ Agradeci.

Sua respiração estava ofegante, parecia cansado de andar. Isso mostra que é tão sedentário quanto eu. 

── Qual é seu verdadeiro nome? ─ Perguntei.

── Saul.

── Posso te chamar pelo seu nome, então? ─ Perguntei.

── Como quiser.

Dei um sorriso e viramos a esquina. Assim que Slash abriu a porta corri para meu quarto. Me joguei na cama sem fechar a porta do quarto, estou com cheiro de cemitério.

── É melhor tomar um banho. ─  Slash agora agia como um adulto cuidando de uma criança que apanhou na escola.

── Eu já vou. ─  Respondi, ficando de barriga para cima.

Agora eu me sinto tão perdida, não sei o que fazer. Pensava enquanto o cacheado me olhava sorrindo, as vezes isso é assustador. Me pergunto como Slash consegue enxergar alguma coisa com seus cachos na frente de sua vista. 

── Vou te deixar só. ─ Disse e saiu finalmente. 

Eu preciso que essa dor saia de mim.

 ࣪ 𖤐˚. 𝐏𝐑𝐀𝐘 𝐅𝐎𝐑 𝐌𝐄, 𝗦𝗹𝗮𝘀𝗵Onde histórias criam vida. Descubra agora