❦
ABRI A PORTA DO LUGAR que costumava chamar de casa, é estranho entrar dentro dela e não ver minha mãe ali. Como previsto a casa estava bagunçada, então comecei a colocar as roupas sujas na maquina de lavar, jogar as garrafas no lixo, varrer e colocar os móveis no lugar, já que alguns estavam fora de seus lugares. Olhava para a cozinha e lembrava das palavras que trocamos, as vezes quando estou sozinha eu penso nela e dói pensar nos momentos bons e ruins. Maria era cruel comigo, mas nunca deixo de a amar, nem tentando.
Subo as escadas com a música da Abba que tocava na loja de Tommy em minha cabeça. Sem coragem abro a porta do quarto de minha mãe, ainda tem seu cheiro e na cama apenas um lençol vermelho, sua cor favorita. Dobrei o lençol de Maria Antonieta com cautela para sentir seu cheiro mais uma vez. Coloquei dentro do guarda-roupa e passei minhas mãos em seus vestidos caros, ela era tão charmosa. Respiro fundo indo arrumar as gavetas que ela nunca me deixava abrir.
Arrumava os papéis bagunçados, estava bem até eu achar um papel rosa, abri por curiosidade e quando vi o que estava escrito meu coração acelerou. Tinha um numero e em baixo escrito "Seu pai.". Respirei fundo tentando saber se li certo, coloquei o papel no meu bolso e fechei a gaveta. Entrei no meu quarto e peguei mais roupas, quero ir embora o quanto antes. Apaguei as luzes e senti um arrepio, como se alguém tivesse passado por mim. Fechei a porta e sai correndo desesperada.
(...)
Segurava o telefone na minha mão direita e o papel na mão esquerda, não consigo colocar o numero, minhas mãos tremem. Respirei fundo e joguei o telefone no sofá nervosa. Fui para a cozinha a procura de Willian e lá estava ele com sua namorada ou noiva, Stephanie Seymour. Nunca falei com ela direito, sempre arrumava uma desculpa para fugir, ela só fala sobre moda.
── Olá, Kourt! ─ Sorrio.
── Oi, Step. ─ Forcei um sorriso.
Ela me abraçou e senti o perfume de Axl.
── Desculpa atrapalhar vocês é que eu tenho que falar com você Willian. ─ Disse, e ele se desencostou da pia.
Stephanie saiu da cozinha e lágrimas começaram a surgir. Willian se aproximou de mim confuso. Passei as mãos pela minha blusa tirando o suor e peguei o papel.
── Eu fui na casa da minha mãe e eu achei esse papel com o número do meu pai. ── Disse as palavras devagar, pois ainda tremia um pouco.
Axl me olhou surpreso, agora não sei o que fazer.
── Você já ligou para ele? ─ Perguntou me entregando o papel.
── Não consigo, Willian. ─ Passei as costas da minha mão direita pela minha bochecha espalhando a lágrima pelo meu rosto.
O ruivo me abraçou e agarrei sua jaqueta chorando ainda mais. Sai dos braços de Willian e vou para meu quarto chorar ainda mais, já é tarde tenho que dormi, pois amanha será um dia longo, eu acho. Tomei uma banho e coloquei uma calça de moletom e uma roupa do Nirvana. Me encostei na cabeceira da cama e apoiei meu queixo nos meus joelhos. Fechei meus olhos e deixei as lágrimas caírem.
(...)
Sonhei com minha mãe. No sonho eu a abraçava e ela dizia que eu estava bem. Não, eu não estou bem. Olhei para o relógio e era sete e seis, dava tempo de eu tomar um banho e passar no cemitério. As vezes sinto alguém me tocando e a primeira coisa que vem em minha mente é minha mãe. Espero que seja ela. Coloquei uma calça jeans e um cropped do Snoop Dogg, por cima minha jaqueta de couro. Os meninos estão dormindo e como não sabem do meu emprego deixei uma cartinha.
"Bom dia, ou boa tarde (não sei que horas vocês acordaram) só deixei esse bilhete para dizer que consegui um emprego na loja de discos aqui na esquina, saio de lá umas 5 horas. Beijos, amo vocês!"
[...]
Chegando lá encostei minha cabeça naquela plaquinha. È estranho eu dizer que me sinto confortável com um monte de mortos? Suspirei fundo traçando linhas imaginarias na placa de pedra.
── Não há remédio para as lembranças, sua alma está me assombrando e me dizendo que está tudo bem, mas eu queria estar morta, como você.
Fiz uma pausa para soluçar.
── Tenho medo de você não estar me esperando do outro lado, mas você não existe a não ser nos meus sonhos. Não há alívio, consigo sentir você me tocando. Não há libertação sinto você nos meus sonhos dizendo que eu estou bem. ─ Me levantei e antes de ir embora olhei para trás para ver seu nome tão bonito ali.
