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dois anos depois
ME SENTO NA CADEIRA DA sala de música e pego uma guitarra velinha que tinha lá, apoio em minhas pernas e lembro do ritimo que tinha que seguir para cantar Runaway do Bon Jovi. Antonhy me ensinou um pouco. A gente só vem aqui as quintas, então não temos muito tempo. Lembro do cabelo do vocalista e sua alegria ao cantar, dou o meu máximo para ficar legal e ao menos parecido. Quando termino a música ouço palmas, olho para cima e é Anthony e Susana.
── Que orgulho! ─ Susana finge chorar.
── Aprendeu com o melhor, né? ─ Antonhy colocou as mãos na cintura.
Ri deixando a guitarra em seu lugar.
── Agora quero aprender outra musica. ─ Disse.
── Qual? ─ Antonhy perguntou.
── You Give Love A Bad Name.
── Meu Deus, essa menina só pensa em Bon Jovi.─ Susana disse, e pegou um cigarro de seu bolso.
Rimos e me levantei para tomar um gole d'água. Enquanto me refrescava olhava ao meu redor e vi que esse lugar virou meu lar. Eles vivaram minha família, meu conforto. Coloco o copo de plastico no lixo e vejo Susana dançar desengonçada ao som da guitarra. Era tão legal ver os dedos de Antonhy se mover rapidamente.
── Oh, you're a loaded gun, yeah. Oh, there's nowhere to run, no one can save me the damage is done. Shot through the heart and you're to blame you give love a bad name. I play my part and you play your game, you give love a bad name. Hey, you give love, a bad name. - Cantamos juntos e rimos.
Estava tudo bem até Carol abrir a porta e vir em minha direção.
── Vamos ali comigo? ─ Perguntou docemente.
── Claro.
Estreleçamos nossos braços e fomos até meu quarto que eu dividia com uma menina que apenas comia frango. Me sentei na cama e Carol sorrio, acho que é uma noticia boa.
── Vamos arrumar suas coisas, você vai embora!
Aquelas palavras foram a razão da minha tristeza de Janeiro voltar com tudo, um tiro no meu coração. Coloquei minhas mãos no meu rosto sentindo as lágrimas vindo. Chorei como uma criança. Eu não quero voltar para aquela rotina, não quero ficar sem meus amigos.
── Eu não quero, Carol.
Acho que nunca chorei tanto na minha vida quanto eu chorava agora. Peço a Deus um milagre, sou poeta não apredi a conviver comigo. Carol colocava minhas roupas na bolsa e eu observava com a cabeça inclinada para o lado direito. Eu ainda estou magoada com os meninos, principalmente Saul. Depois de dois anos sem visitas ou um sinal que estão vivos aparecem e decidem me levar de volta.
── Eu imploro. ─ Sussurrei e Carol me olhou.
── Querida, agradeça por estar saindo dessa loucura.
── Você não entende. ─ Suspirei. ─ Eu gosto dessa loucura.
Carol fechou minha bolsa e ergueu sua mão.
── Me coloquem numa camisa de força e me leve, porque por vontade própria eu não vou.
Carol era paciente, queria ser igual ela, feliz. A mulher se ajoelhou em minha frente e pegou em minhas mãos.
── Eu só quero te ver bem, então vá por mim. Aqui não é seu lugar, Laviotte!
── Me abrace. ─ Pedi, e ela me abraçou.
Me levantei e com ela fui para a recepção. Respirei fundo e ergui minha cabeça. Os cinco não mudaram nada, só Axl que deixou a barba crescer um pouco.
── Eu não posso nem falar com eles? ─ Perguntei, pois queria dar um abraço nos meus amigos.
── Infelizmente, não.
A abracei mais uma vez antes de sair. Carol era minha amiga, a mãe que eu nunca tive. Axl pegou minha bolsa e me guiou até o carro. Eles pareciam estranhos para mim, tão distantes e... tristes. Olhei minha sombra no chão e vi que engordei um pouco e estou me aceitando. Eu não quero perder outra vida. Entrei no carro ficando no meio de Slash e Izzy. Duff estava dirigindo e Axl no banco da frente. Steven estava no terceiro banco, essa carro é grande.
── Como foi esses dois anos? - Duff perguntou.
── Se estivesse interessado iria lá perguntar para mim. ─ Disse e desviei meu olhar para janela.
Os perfumes masculinos me deixavam enjoada. Eu sinto que algo vai mudar, e talvez não seja no sentindo bom.