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ACORDEI COM BEIJOS PELO MEU rosto, era Slash. Abri meus olhos com um sorriso preguiçoso. O cacheado estava em cima de mim com um sorriso em seus lábios. Agora quando eu o vejo eu me sinto bem, como se toda aquela tristeza que carrego saísse das minhas costas. Eu gosto tanto de me sentir assim.
── Bom diaaa. - Saul disse animado.
── Bom dia. ─ Ri.
O homem se deitou do meu lado se encostando em meus peitos. Seus cachinhos se enrolam perfeitamente em meus dedos, o que me faz sentir seus fios sedosos.
── Eu sei que você não quer, mas vamos para a casa do Axl, porque eu moro lá e tenho que ensaiar.
── Então me deixe aqui.
Não quero ver Axl depois do que ele iria fazer comigo. Estou magoada com ele. Virei minha cabeça para a porta, eu não gostei do que ouvi.
── Não fique triste com Axl, ele só quer te ajudar.
Me levantei da cama e fui para o banheiro, encarei meu reflexo e não vi aquela Kourteny de ontem, vi a que queria morrer. Slash me abraçou por trás deitando sua cabeça em minhas costas, logo passou suas mãos pelo meu cabelo me deixando menos nervosa.
── As roupas já secaram, vou trazer e você toma um banho. ─ Slash disse antes de sair.
Peguei uma toalha e apenas tomei um banho rápido. Sinto que alguma coisa vai acontecer se eu for para casa de Axl. Me seco e quando agora porta vejo Saul colocando minha roupa na cama, como uma mãe.
── Obrigado.
Slash veio até mim e encostou sua testa na minha, isso está parecendo uma despedida.
── Vou trazer seu café.
Vesti minhas peças íntimas sem me olhar no espelho, ainda sinto agonia de mim mesma. Coloquei uma calça jeans e uma regata branca, por cima minha blusa de frio marrom. Me sentei na cama olhando para o teto e depois coloquei minha bota. Slash entrou com uma xícara e um bolo.
── De milho, o seu favorito.
── Como sabe? ─ Perguntei rindo.
── Eu sou bastante observador.
Peguei a xícara e tinha café com leite em pó.
── E Tommy, Saul? Hoje vou voltar, não quero decepcionar.
Slash fez uma cara que nem eu entendi. Parecia querer falar alguma coisa para mim, deixei isso de lado.
── Não quer falar, não fala.
Depois te ter tomado o café da manhã escovei meus dentes e descemos, agora iremos de carro. Me sentei no banco da frente, porque Slash pediu, mas não gosto, pois todos consegue me ver. O caminho foi silencioso, o que eu gostei, pois não estava mais bem.
[...]
Chegamos na frente da casa de Axl e antes de eu colocar a mão na maçaneta Saul me virou para ele.
── Você tem que superar isso sozinha, mas você ficará bem, Kourt.
Estranhei o que Slash disse. O homem colocou suas mãos em meu rosto e depois pelo meu cabelo, depois escorregaram para minhas mãos. Então, me beijou. Um beijo necessitado, parecia que eu iria ir embora para um lugar longe.
Abri a porta e tinha quatro homens parados na minha frente. Na hora saquei tudo. Olhei para Slash.
── Não, por favor. ─ Meus olhos já se enchiam de lágrimas.
Os homens foram em minha direção e eu tentei correr, eu corri pela casa toda, me agarrei em Izzy, mas nada adiantou. Esse não pode ser meu fim. Os homens me pegaram e me levaram para dentro da ambulância.
── Eu odeio vocês! ─ Gritei antes de me empurrarem para dentro daquele carro nojento.
Destinada a sofrer. Tudo que eu vivi se transformou em memórias ruins. Eu acreditei que alguém me amou, mas na verdade eu apenas fui enganada. Esse é o fim, e se eu pudesse escrever eu também escreveria assim. Ser feliz não é para mim.
Costumo dizer que quando estamos muito tristes, com a alma triste até a morte, é como se estivéssemos atravessando um desfiladeiro em uma corda bamba. O que tem embaixo é um abismo, e o que está acima é o céu. Se você olhar pra baixo, você verá o abismo. O abismo atrai o olhar, mas o abismo é morte certa, e ao olhar para ele você pode entontecer e cair. Portanto, nunca olhe para o abismo.
Mas também não olhe para o céu. O céu é como um sonho, e ele pode estar belíssimo, muito azul, com um Sol radiante ou com uma lua linda e repleto de estrelas, não importa: não olhe para o céu, porque de tão belo ele pode fazer você esquecer de que precisa manter o equilíbrio e seus pés bem firmes na corda.
Desta forma, eu te digo: o único lugar para o qual você deve olhar é para a frente, onde está o horizonte. O horizonte é onde está tudo o que você pode descobrir viver e alcançar. Basta seguir em frente. Se você olhar para trás, poderá ver teus familiares e amigos dizendo: 'siga em frente'. Mas se você não conseguir ouvir isto, concentre-se em teus pensamentos, porque é na verdade o que você quer: seguir em frente.
Então apenas mire o horizonte, mantenha teus passos bem firmes e você atravessará o desfiladeiro, onde do outro lado haverá um mundo, pessoas, e uma vida que esperam, sinceramente, que você siga em frente
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho ficou perdida a minha face?