CAPÍTULO 5

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Porsche se sentia extremamente surpreso consigo mesmo pelo quanto havia mudado ao longo de um ano, surpreso com como seu coração não doía mais como antes.

Ele havia se afogado tanto em mágoa e dor por meses que era quase como se tivesse sido sufocado pelo peso de sua própria tristeza.

Porsche sempre teve uma vida consideravelmente tranquila, com problemas normais de pessoas comuns e uma família... bom, uma ótima família, mesmo que bagunçada. Tinha um emprego que gostava no bar e por mais que tivesse sido sujeito a problemas pelas dívidas do tio, ainda se considerava um sortudo.

Era confuso, atrapalhado, um caos particular, mas por mais que fosse completamente do avesso ainda tinha boas pessoas com quem contar. Tinha formado sua própria família desde então, junto do seu irmão, seus amigos do colégio e trabalho, então, teoricamente tinha uma boa vida.

Mas então conheceu Kinn e foi exatamente aí que seu mundo se transformou por completo. Porsche entrou em um mundo desconhecido onde nada parecia ser certo. Estava perdido, obrigado a lidar com pressão, castigos e sangue, muito sangue.

Naquele lugar as pessoas eram frias e agiam pelo poder, simplesmente pelo poder. A máfia era um lugar frio e sombrio, onde sua luz ia se apagando aos poucos, onde sua vontade já não mais existia. Estava ali por Porchay, para que ele continuasse os estudos e tivesse uma vida diferente da sua.

Engoliu a humilhação e o constrangimento, ignorou a dor e o medo, tudo por ele.

Quando tudo parecia perdido, por um "erro" do destino, se viu junto daquele que nunca imaginou e pela primeira vez havia se entregado a um homem. Não só seu corpo o pertencia, mas o seu coração também. Entregou a Kinn o que tinha de maior valor e contou com a sorte para que desse certo.

Era bom, era intenso, era seu... mas era extremamente complicado e no fim das contas lhe trouxe dor.

O primeiro mafioso tinha uma vida completamente diferente da sua e as coisas para ele iam e vinham fáceis demais, sem apelo, sem apego... sem sentimentos.

Mas um dia ele admitiu amá-lo, então tudo foi simplesmente incrível, como um sonho. Até Kinn mudar, de novo.

Não era um ex, não era uma ordem de seu pai, não era pela primeira família. Era apenas por Kinn, porque foi Kinn quem quis mudar e Porsche nunca soube o real motivo.

Porsche tinha duas opções: ficar assustado ou de coração partido, ou os dois ao mesmo tempo. Estava sempre preocupado em amar e hesitante em ser amado.

Mas Kinn tinha ido embora. Ele mostrou a Porsche como era o amor incondicional e depois simplesmente lhe deu as costas, frio, cru... sem dizer nada.

ou... o amor não era amor.

Se alguém perguntasse a Porsche como ele pensou que encontraria o amor de sua vida, ele não teria dito que esperava encontrá-lo deitado nu na praia quando fosse dar um passeio ao nascer do sol enquanto estava de férias, mas ele queria esbarrar com ele... pelo menos uma vez na vida.

Porsche não sabia o que era pior, ter vivido esse amor, ou nunca tê-lo encontrado.

A questão é que doeu tanto para se curar desse amor que achou que fosse morrer. Kinn fez questão de agir como estranho, ignorando qualquer tentativa de contato que pudessem ter.

E então Porsche se viu sozinho de novo, só que agora ele não conseguia mais ter sua vida normal de volta. De cabeça para baixo, despedaçado, magoado e desacreditado... esse era o novo Porsche.

Superar Kinn foi um processo muito longo, doloroso e completamente insano. Havia feito tantas coisas para tentar esquecê-lo. Buscou novas memórias com garotas, buscou atividades perigosas, buscou ler livros, buscou até mesmo outras gangs de mafiosos, mas nada parecia funcionar.

Estava à beira de um precipício psicológico e sua última saída foi tentar ficar com outro homem. Dizem que um novo amor substitui um antigo, mas não tinha certeza sobre isso também. Porsche Júnior se recusava a ajudar, foi aí que tacou o foda-se para tudo.

Se a vida queria fode-lo, simplesmente viraria o rabo para ela. Pronto!

Ter esbarrado com Kinn de novo naquela ocasião, desestabilizou a barreira imensa que criou ao redor de si, foi bom... foi fantástico, mas...

...virar o rabo para a vida, Porsche!

Com esse pensamento, Porsche pegou suas roupas espalhadas por aquele quarto familiar, vestiu-se de qualquer jeito com as peças e vazou daquele lugar impregnado com o cheiro de Kinn.

Quando deu as costas para o homem nu sobre a cama, pensou uma, duas... três vezes em voltar para o seu lado, mas pisou firme no chão e bateu na própria cara em alerta.

— Foco, é só uma arma... uma... NÃO! É uma pistolinha. — Conversou consigo mesmo na tentativa de se convencer.

Olhando por sobre o ombro, o ex-guarda mordiscou o lábio inferior. — Mas é uma pistolinha tão gostosa... — Arregalou os olhos em surpresa das próprias palavras.

Tirou um cigarro do bolso e mais que rapidamente o acendeu, levando aos lábios. — Foda-se, que adianta ter pistola boa se o cartucho não é confiável.

Jogando o cigarro no chão, Porsche pisou ali para apagá-lo, seria a única lembrança que deixaria ainda fresca naquele quarto.

Ninguém precisa de um relacionamento perfeito. Tudo o que Porsche precisava é de alguém que amasse sua estranheza, que quisesse passar um tempo consigo e o respeitasse.

Gostava de ficar sozinho, mas também queria alguém para ficar sozinho, se isso fizesse algum sentido. A cura levaria tempo, mas viria e quando isso acontecesse, encontraria uma felicidade tão brilhante que ficaria cego para tudo o que já o atormentou. Estava pronto para novas experiências das quais não precisaria se curar.

— Eu só quero ser feliz. Não confuso, não magoado, não estressado, apenas feliz. — Conversou sozinho pelas ruas escuras daquele bairro chic. — Da próxima vez que eu sentir amor por alguém, vou  jogar um tijolo na minha cabeça!

Porsche ainda se lembrava do seu último contato visual.

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Red Lights [KinnPorsche Vol1]Onde histórias criam vida. Descubra agora