Capítulo um

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Assim que Dante deixou-me no apartamento de Lorenzo, um temporal caiu sobre a minha cabeça. Seattle estava tendo o seu próprio dilúvio.

Segui para dentro do enorme apartamento na cobertura, o meu coração faltava saltar pela boca.

Eu odiava tempestades.

Odiava trovões.

Eu odiava a sensação de medo que tomava conta de todo o meu corpo quando o mundo tremia sob os meus pés. Eu simplesmente detestava o ataque de pânico que vinha quando os raios cortavam o céu e aquele barulho ensurdecedor o acompanhava em seguida.

Tentei me manter calma, eu estava sozinha naquele apartamento e ter crise de pânico ali não iria me ajudar, contudo, era muito difícil raciocinar quando o coração batia tão rápido que fazia o sangue correr nas veias com tanto afinco que nos deixava momentaneamente surdos.

Sentei-me no sofá e encolhi minhas pernas, peguei duas almofadas e as coloquei no meu ouvido para abafar o som dos trovões do lado de fora. Fechei meus olhos com tanta força que por um instante acreditei que os meus cílios iriam grudar no meu rosto.

Entretanto, todos os meus esforços eram em vão, visto que as grandes janelas de vidro não ajudaram muito, pois sempre que o relâmpago vinha, a sua luz iluminava todo o local.

Senti todo o meu corpo tremer e as lágrimas quentes escorrerem pela minha bochecha.

Eu nem sempre odiei aquele evento da natureza, teve uma época em que eu até gostava, mas essa época se foi quando minha mãe se casou com o asqueroso do Mario.

Ele não era meu pai, não, nós nem dividíamos o mesmo sangue.

Eu não conheci meu pai biológico, tudo que eu sabia era que ele me amava e morreu quando eu tinha dois anos, em menos de um ano minha mãe estava casada com Mario e três anos depois ele tirou a minha inocência da pior forma possível.

Numa noite tempestuosa igual aquela.

Aquele pedófilo desprezível.

Por culpa dele as tempestades deixaram de ser o que eram para mim, para sempre.

Engasguei com as lágrimas quando o trovão fez todo o apartamento tremer. Eu precisava sair daquela sala, daquele cômodo.

Andei aos tropeços até um quarto aleatório e enfiei-me no closet. Eu não era muito pequena, mas o closet era enorme e me coube perfeitamente.

Encolhi-me no meio de todos aqueles ternos e camisas e fechei a porta. Encostei minha perna no meu peito e apoiei a minha testa nos joelhos, fechei os meus olhos com força e com a palma das minhas mãos tapei os meus ouvidos.

Durante toda aquela eternidade agonizante, desejei que a morte me levasse o mais rápido possível.

* * *

Acordei com um cutucão no braço, protestei alguns resmungos, mas quando recebi outro cutucão fui obrigada a abrir os olhos.

A chuva havia ido embora e eu havia pegado no sono de um jeito muito desconfortável, assim que tentei ficar com as costas mais eretas, gemi de dor.

— O que você está fazendo aqui?

Olhei para o dono da voz e encontrei Lorenzo me olhando com os olhos negros cheios de curiosidade.

Toda vez que eu olhava o rosto daquele homem o meu coração doía, a morte da esposa dele foi algo falado durante meses entre as rodas das mulheres fofoqueiras. Todas sabíamos o quanto ele amava a esposa, não era segredo para ninguém, e todas sabíamos também o que a morte dela havia causado nele.

O Soberano da Cosa Nostra - Os Mafiosos, 3Onde histórias criam vida. Descubra agora