10 MESES ATRÁS
Encarava Henry enquanto ele se arrumava para jantarmos. Ele se olhava no espelho do meu quarto e eu estava sentada na minha cama já pronta há, pelo menos, quinze minutos. Henry sempre levava tempo demais e eu já estava salivando por um burrito caprichado que só a Cidade do México podia proporcionar.
– Vamos logo, já tô morrendo de fome. – Reclamei.
– Você tá sempre morrendo de fome. – Ele não riu como esperei que fizesse. Não foi uma piada para deixar o clima mais leve, foi apenas um julgamento típico dele.
– Será que é porque eu tô sempre andando pra lá e pra cá por 24 horas dentro de um hospital? – Falei sem humor algum.
– Você sempre usa essa desculpa. – Odiava quando ele usava o termo "desculpa" porque não era uma, nunca era. – Por que não desfaz esse penteado estranho e solta o cabelo? Fica mais bonita de cabelo solto.
– Não vou desfazer meu coque só porque você não acha sofisticado o suficiente. E você possui o mesmo nível de empatia de sempre.
– Que seria?
– Zero. – Me levantei e sai do quarto.
Eu fazia plantão um dia sim e um dia não. Ser médica não era nada fácil, mas eu amava minha profissão. Porém, assim como qualquer pessoa que trabalha, eu tinha meus dias bons e os ruins e normalmente Henry inventava de sair para jantar nos ruins. E ainda reclamava do meu cabelo, como se eu tivesse todo o tempo do mundo como ele para me preocupar com essas coisas.
Estava caindo de sono, mas sempre preferia jantar antes de dormir. Eu dormia após, pelo menos, uma hora depois de comer porque me deitar logo após comer ou acordar no meio da noite para furtar a minha própria geladeira deixou de ser uma opção quando desenvolvi gastrite. Mas Henry se importava mais com a combinação de cores da sua camisa e calça do que com as minhas necessidades.
– Prontinho, princesa. – Ele surgiu na sala e sua voz escorria sarcasmo.
Não respondi, apenas peguei a chave e me virei em direção a porta do meu apartamento para sairmos logo. Henry me seguiu sem dizer uma única palavra, ele provavelmente estava bravo por eu ter dito que ele não tinha empatia alguma, mas não me desculparia por isso, era verdade.
Decidi dirigir porque Henry era lerdo demais no volante. Chegamos no restaurante em dez minutos e praticamente corri para dentro após estacionar o carro. Ao parar na entrada, Henry me segurou pelo braço e sorriu olhando para frente e acompanhando seu olhar, encontrei um casal de amigos dele em uma mesa. O homem era suportável, a mulher não era.
– Chamou eles? – Perguntei.
– Sim, espero que não se importe. – Ele falou de maneira debochada.
– Não me importo nem um pouco que tenha chamado os amigos que você costumava fazer um ménage pra jantar conosco sem me avisar. – Me soltei de seu aperto e andei em frente.
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O anjo que me amou
RomansaAngel é uma médica solitária que possui apenas o trabalho como objetivo de vida. Ela não tem muitos amigos, apenas um namorado chamado Henry, um inglês muito charmoso que ela não sabe se gosta ou se odeia. Entretanto, Angel se vê completamente sozin...