O Encontro

246 39 395
                                    

• ────────────── • •

— Olá! Tem alguém aí?

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Olá! Tem alguém aí?

Depois de caminhar por horas, descalça e com os pés ardendo por causa da areia quente, a primeira novidade que não gostou de sentir, Clarke começava a se sentir tonta pelo contato direto com os raios solares sem a menor proteção para seu rosto e corpo. A pele dos ombros, já vermelha, doía ao toque, e a região das maçãs do rosto estava rígida pelo desconforto e ela só podia supor que as sardas que tanto odiava possuir quando criança estavam de volta ao seu nariz.

Assim que acordou e se acostumou com a luz natural, não ouviu ou avistou mais nada depois do gigante holograma - que ela nem tinha certeza se não o imaginou, era muito mais provável estar sonhando. Agora, com a garganta seca de tanto gritar e não obter respostas, estava começando a ficar preocupada de que não estivesse num sonho.

Parando apenas para apreciar o seu redor, ela se sentiu viva. Cresceu ouvindo e lendo como era a Terra antes do fim do mundo e em cada relato as lembranças pareciam mágicas. Nos últimos três anos, o Chanceler e o Conselho de todas as estações vinham conversando sobre a possibilidade de enviar uma expedição para verificar se o planeta natal deles permitia a vida de novo. E ela só sabia disso porque ouvia seus pais discutindo o assunto quase todas as noites quando voltavam para casa e ela fingia dormir.

Há noventa e sete anos, em 2052, devido a superlotação mundial, um apocalipse nuclear desenvolvido por uma cientista em ascensão destruiu a terra com a intenção de reduzir a população pela metade. Mas somente duas mil pessoas de onze bilhões sobreviveram em doze estações espaciais, rodeadas como satélites no exterior do planeta. Porém, em 2147, atual ano em que Clarke completou a maioridade, pouco mais de setecentas pessoas ainda sobreviviam com segurança na Arca - Estação única fundida pelas demais doze de cada nação, que buscava a aproximação e aliança de diversos países como um só povo.

Foi percebido, na prática, que o homem não sabia viver pacificamente mesmo que sua vida dependesse disso. Com o ínfimo espaço que dividir a estação permitia, mal dava para ter privacidade singularmente, cada atividade de lazer ou obrigatória era em coletivo, com exceção das cabines residenciais, que só cabiam três pessoas, afinal um casal não podia ter mais de um filho. E essa coletividade começou a ser um problema quando as revoltas se iniciaram, não dá para controlar rebeldes em um ambiente fechado que não tem saída, as celas jamais caberiam. Por isso foi implantado o Dia da Expiação, pretexto para um julgamento de menos de cinco minutos onde todas as vezes o criminoso era condenado e a pena era ser flutuado. O pai de Clarke morreu assim. E ele era um dos grandes. Não existe clemência quando se mora no espaço.

— Puta merda! Acho que vim parar na Terra.

Clarke se assustou e logo em seguida baixou os olhos aliviada, um garoto da mesma idade que ela, provavelmente, vinha andando desengonçado em sua direção cobrindo os olhos com as mãos ao olhar para o céu. Ela reconheceu ele dos dias que se escondia na enfermaria quando sua mãe atendia fora do horário. John Murphy, o garoto que foi preso por agredir um guarda quando flutuaram seu pai. Se ele, um delinquente juvenil também estava ali, então possivelmente todos os jovens presos receberam a mesma oportunidade de escolha que ela.

𝐋𝐈𝐌𝐁𝐎 ¹ | The 100Onde histórias criam vida. Descubra agora