Ritual

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UM som de craquelar ecoou por aquela pequena caverna do poço, era um som inumano, difícil de descrever, que gelava os ossos e que vinha da silhueta escura logo a frente, que havia parado de caminhar um pouco antes de chegar à luz, parecendo encará-los de alguma maneira, como se estivesse bolando algum tipo de plano ou esperando o momento certo para atacar.

— Purin, não se mexa! — Ordenou ao feneco, que pareceu querer correr até a silhueta. Yuren, que estava em suas costas, sussurrou em seu ouvido:

— Quando tudo começar, me largue no chão e tente levá-lo até o feixe de luz... — O quê...? — Sussurrou de volta, sem tirar os olhos da figura à frente.

— Ele vai atacar no primeiro movimento que perceber. Nesse estágio, a pessoa age como um animal que ataca quando se sente ameaçado... e a luz pode ajudar a confundi-lo, esse processo funciona melhor na escuridão.

Rohan piscou algumas vezes, absorvendo a informação e tentando se mexer o mínimo possível.

— Poderia ter dito isso tudo antes! — Sussurrou entre dentes.

— Acabei esquecendo quando você aplicou o remédio... — Ele pareceu arrependido. O mago suspirou baixinho, incapaz de achar que aquilo foi proposital. — E é melhor que o feneco não interfira... não é um inimigo que ele deva enfrentar.

Rohan murmurou uma concordância e disse ao animal:

— Purin, não se meta, fique guardando a entrada do túnel do poço caso alguma criatura tente passar, mas só se mova até lá quando eu ordenar. — Deu o comando ao feneco apenas fez um barulho em concordância, sem se mexer. Ficaram daquela maneira por mais alguns segundos, até que a espera já estava se tornando incômoda — Yuren... vamos ficar só nos encarando por quanto tempo?

— Me solte e ataque.

— Hein?

— Agora! — Gritou o bruxo, jogando o corpo no chão. Rohan girou os calcanhares e bateu com força na figura que havia corrido na direção de ambos como um monstro furioso, chiando e balbuciando coisas desconexas. Ele havia sido jogado contra a parede, mas já estava de pé.

— Avise quando for fazer essas coisas! — Berrou Rohan, correndo para perto do feixe de luz enquanto mexia a mão livre em uma ordem específica de movimentos. Uma barreira se formou diante de si no momento em que o corpo reanimado se jogou contra ela e, ali, foi possível ver sua aparência por um momento.

Aquele General Branco estava um pouco mais inchado que o normal, sua pele que deveria ser branca como a de Yuren, estava em um tom amarelado estranho. Mas o que era, de fato, o mais perturbador da aparência daquele monstro, eram os vermes, ratos e pássaros que sua pele parecia absorver aos poucos por todos os lados. Em seus braços, seu rosto, suas pernas, suas mãos... Os cabelos lisos, longos e brancos eram a única coisa que pareciam normais nele, apesar de estarem completamente bagunçados e sujos.

Rohan, que teve vontade de vomitar ali mesmo com aquela visão presa atrás do escudo, sentiu a gola de sua camisa ser agarrada pela frente e uma luz roxa atingiu seu peito.

— Ele consegue usar magia ainda! — Gritou Yuren do outro lado da pequena caverna. O mago, que conseguiu usar mais uma vez o escudo, daquela vez em seu peito, quando viu a mão indo em sua direção, bateu de costas na parede com o impacto.

— Você também poderia ter dito isso antes! — Ele gritou, tentando acertar o General Branco morto-vivo com seu cajado, este que desviava e parecia rir da sua cara mesmo que seus movimentos fossem estranhos e definitivamente não humanos.

— Desculpe, eu assumi que você já soubesse! — Yuren gritou de volta. Rohan estalou a língua, ainda incapaz de ficar realmente aborrecido com aquele bruxo.

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