Agouro

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O impacto de todas aquelas explicações foi forte em Rohan, tão forte que Yuren teve de superar sua fraqueza após quebrar o feitiço que escondia suas feridas para abraçá-lo contra seu corpo. O coração do mago doeu novamente, como nunca havia doído, mas antes que pudesse sair de controle, o abraço do bruxo fez com que tudo se acalmasse...

Aqueles dois corpos, claramente afetados por toda a situação em que estavam, se apoiaram um no outro. Rohan apoiou o queixo no ombro de Yuren que fez o mesmo consigo enquanto ele murmurava palavras guturais que percebeu serem para tentar fechar suas próprias feridas.

Então, instintivamente, Rohan o puxou mais para perto pela cintura, tentando conectar mais suas magias para que aquele processo fosse mais rápido. O bruxo rapidamente notou o que ele tentava fazer e tentou se soltar.

— Não precisa se esforçar, eu consigo...

— Se consegue ou não, eu sinceramente peço que só aceite minha ajuda... — Rohan murmurou, impedindo que eles se afastassem ao pressionar ainda mais seu peito contra o de Yuren.

— Rohan... — Sua voz não soava como lamento, ou decepção, era como um chamado, o qual o mago prontamente atendeu.

Suas mãos molhadas tocaram cuidadosamente o local cortado das asas e Yuren gemeu de dor, contraindo o corpo. Rohan deitou a cabeça sobre seu ombro e murmurou:

— Desculpe... mas assim vai ser mais rápido. — Se tinha uma dor que conhecia, era de ter as asas arrancadas... provavelmente, era como perder algum membro, como se alguém cortasse um braço ou uma perna. Obviamente, nunca havia perdido nenhuma parte do corpo, mas as asas provavelmente contavam como algo similar. E a dor era tão excruciante que Rohan sequer conseguia compreender como Yuren ainda tinha forças para falar, ficar de pé e, acima de tudo, castar magias.

Então, ouviu novamente a voz gutural da magia necronômica ser proferida pelos lábios de Yuren e, ao mesmo tempo, Rohan se concentrou para usar magia de luz. Era algo completamente fora do comum, completamente estranho, que duas magias tão opostas pudessem ser usadas juntas, mas, enquanto cada um exercia sua parte, ambos entraram em um transe parcial.

Se não tivessem se segurado, provavelmente teriam se afogado. O fervedouro impedia que as pessoas afundassem, entretanto não impedia que elas pudessem cair com seus rostos na superfície. Era como se os dois ainda possuíssem seus instintos primários de proteção direcionados um para o outro. Então, quando despertaram vagarosamente, perceberam estavam grudados demais e, calmamente, se soltaram, mantendo a mesma distância.

— Deu certo...? — Questionou Rohan, olhando o rosto parcialmente coberto de Yuren. Ele acenou com a cabeça.

— Sim, obrigado...

— Ótimo...

E ambos caíram em um silêncio, ainda fixos no mesmo lugar, sem se mexer a não ser pela própria água que os movia lentamente, quase imperceptível ao toque.

— Yuren.

— Sim?

— Perdão... — Rohan murmurou, deixando de olhá-lo.

— Pelo quê? — Mais uma vez, o bruxo não parecia ciente do motivo pelo qual ele pedia desculpas.

— Por ter dito que você não compreendia... — Confessou. Era um fato que, antes mesmo de Yuren revelar que eram mais parecidos do que imaginava, ele já estava tomado pela culpa por ter pedido a paciência, por ter perdido parte do seu controle. Era uma constante em sua vida... o medo de simplesmente enlouquecer por tentar manter tudo dentro de si. Ninguém merecia receber suas ondas de frustração. — Talvez... você seja o único que entenda... — Finalizou, voltando a olhar para o rosto pálido.

Histórias de Sol e LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora