Memórias de Escudo e Espada

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Depois dos acontecimentos daquele dia, onde havia recebido a notícia do noivado de Yuren e do seu desentendimento desproporcional com seu pai, Rohan começou a descobrir o que poderia estar causando as reações estranhas do rapaz.

Ambos costumavam se isolar em diversas partes do palácio, conhecendo até mesmo passagens secretas e câmaras onde toda a poeira acumulada indicava que absolutamente ninguém entrava naqueles locais.

Apesar de passarem a maior parte do dia juntos, existiam momentos em que não estavam na presença um do outro. Afinal de contas, os afazeres de um quase príncipe não eram os mesmos de um servo aprendiz de escudeiro. Não sabia direito o que Yuren fazia nesses tempos em que se encontravam afastados, mas imaginava que eram apenas compromissos mais diplomáticos.

Contudo, certo dia, algumas horas antes do baile que o Governador daria naquela noite, Rohan conseguiu terminar umas das tarefas um pouco idiotas que lorde Dorev havia lhe passado com uma grande antecedência e o homem, dando-se por vencido, deixou com que tivesse uma ou duas horas de folga a mais para que fizesse o que bem entendesse antes de começarem a se arrumar para o baile.

Então, animado, correu pelo palácio em busca de Yuren, mas não o encontrou no quarto. Bem... aquilo era até esperado, afinal de contas, ele deveria estar em outro compromisso. Rohan continuou sua busca, perguntando por pelo rapaz e procurando em lugares onde geralmente iam, até que resolveu procurá-lo em locais mais secretos quando notou que ninguém realmente sabia onde ele poderia estar.

Foi assim que encontrou, de costas, os longos cabelos pretos e ondulados desaparecendo por uma entrada estranha em um banheiro fora de uso. Rohan franziu o cenho, confuso. Aquele lavatório não servia para muita coisa, a não ser como um pequeno depósito, era tão afastado e tão escondido que sequer possuía mais do que quatro ou cinco caixas com coisas inúteis dentro.

Hesitante com a situação que se desenrolava, seguiu atrás de Yuren com certo silêncio, tentando se manter escondido, assim como o outro rapaz parecia fazer. Parou ao lado da porta e esperou por um tempo... mas aquela espera se tornou grande demais para alguém que entrou em um local relativamente pequeno. Estava tudo muito estranho, concluiu.

A presença de Yuren havia se esvaído, como se ele tivesse apenas sumido sem deixar rastros. Então, agindo por impulso de proteção, Rohan resolveu entrar naquele banheiro e o que encontrou não foi nada satisfatório.

Não havia absolutamente ninguém ali.

— Yuren?... — Chamou pelo rapaz com a voz baixa que mesmo assim reverberou um pouco. Ele investigou todos os cantos, por mais que eles fossem poucos. Não havia realmente algum lugar para se esconder.

Ansioso, retirou as caixas empoeiradas do lugar, mas era impossível que um adolescente pudesse espremer o próprio corpo dentro de uma delas. Já estava se sentindo completamente angustiado quando pensou em algo... o pensamento era nojento, mas não existiam mais opções.

Naquele banheiro, obviamente, estava um pedaço de madeira fino fixado sobre um banco de pedra que ia de uma parede a outra em uma parte mais estreita daquele banheiro, parte essa que formava mais ou menos uns setenta centímetros. No meio da madeira, havia um buraco para as necessidades e, com muito desgosto, Rohan inclinou sua cabeça para olhar dentro dele.

Obviamente, estava escuro... não havia cheiro, já que provavelmente não era utilizado há anos, mas algo na superfície empoeirada daquela madeira chamou sua atenção: havia marcas de mãos nas beiradas, como se alguém tivesse tocado aquele local recentemente.

Rohan franziu o cenho, percebendo que se alguém tivesse utilizado aquela privada como deveria, mais locais estariam livres de poeira. Então, ainda com um pouco receio, segurou com as próprias mãos em cima dos locais das marcas e experimentou fazer certa força. A madeira, estranhamente pesada, aos poucos começou a se mover.

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