Festival das Flores

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— CHEGA! É o suficiente! — A voz gritou em seu ouvido, como se ecoasse dentro de si. Rohan sentiu seu corpo ser sugado de volta para uma realidade mais presente, onde não havia neve, não havia sangue em suas roupas, onde não podia mais ver aquele par de olhos escuros que o encararam.

— Caro Yuren, isso é parte normal do processo de...

— Com todo respeito, sacerdote, não estou inclinado a ouvir sua explicação.

O tom de animosidade na voz rouca de Yuren fez com que o mago voltasse completamente a si e percebesse um pouco da situação atual. Estava encostado no bruxo, de pé, mas sentia o forte aperto em sua cintura como se estivesse sendo segurado para que não fosse ao chão, suas costas tocavam a parte frontal do corpo do General Branco, no momento, estava com o rosto tão vermelho que parecia queimar.

— Yuren? — Chamou pelo rapaz que rapidamente voltou sua atenção a si.

— Rohan, você está bem? Como se sente?

— Ele está bem, Yuren. Foi o próprio Rohan que concordou e quis acessar essas memórias. Quando alguém procura respostas e você possui um meio de ajudar, não é correto ocultá-las.

Houve um grande silêncio no recinto. A voz de Min'Rutai soou estranhamente pesada, como se sugasse o ar ao redor. Yuren, que segurava-o com força pelo ombro, afrouxou seu aperto.

Rohan voltou com sua postura normal, como se nada realmente tivesse acontecido, como se não tivesse passado por vários anos de traumas, mas, por dentro, sentia-se sem fôlego e com a mente acelerada.

— Talvez seja melhor auxiliar seu companheiro, mago branco, ele provavelmente reviveu muita coisa. — Disse Min'Rutai com um novo sorriso nos lábios finos. — Iremos nos ver novamente. — O mais velho disse, olhando nos olhos de Rohan enquanto passava por ambos em direção a porta. — E, da próxima vez, vamos torcer para não haver interrupções.

Min'Rutai tocou em seu ombro antes de continuar e sussurrou em seu ouvido.

Quando foram deixados a sós no cômodo, Yuren ainda parecia agitado. Sentiu as mãos apertarem seus ombros com mais força que o normal e sua voz rouca soava um tom acima.

— Está tudo bem, Rohan? Como se sente? — Era claro que ele estava preocupado. Será que parecia tão ruim assim esse feitiço para quem via de fora? Bem, não seria de se estranhar, já que suas memórias não carregavam quase nada de positivo nelas.

— Por que interrompeu...? — Estranhamente, Rohan respondeu de maneira automática com aquela questão que fez Yuren franzir o cenho. Por que estava tão chateado por ter despertado? Deveria estar grato, pois a quantidade de informações detalhadas sobre memórias dolorosas e um pouco apagadas pela passagem do tempo eram muito para absorver. Uma de suas mãos estava sobre seu coração, apertando o peito com força enquanto olhava intensamente para o mais velho.

— Porque... — Seus lábios continuaram abertos, parecendo sem uma boa resposta para dar.

— Eu escolhi passar por isso tudo de novo... e você interrompeu quando... quando... — Rohan sentiu a garganta engasgar ao lembrar do que iria acontecer no momento em que fora puxado de volta à realidade.

— Quando o que, Rohan...? O que você viu? O que iria acontecer? — Os dedos pálidos e frios ainda apertavam seu ombro com tamanha apreensão que o mago poderia jurar que conseguia ver seus olhos muito abertos por trás do tecido alvo.

— Eu iria vê-lo novamente... — Foi sua resposta, murmurando.

— O que...

— Você me acordou bem quando eu veria aquela pessoa novamente... eu...

Histórias de Sol e LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora