Vozes do Passado

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Se existia algo que Rohan ainda gostasse genuinamente de fazer, era coletar ingredientes para suas poções, chás e refeições. Era algo que havia aprendido de uma de suas mães e levado para a vida inteira. Tirando as partes difíceis de suas lembranças bagunçadas e conturbadas, sempre fazia com que se sentisse revigorado mesmo após longas horas entre subir e descer elevações, cortar plantas mais resistentes e alcançar locais mais complicados.

Ao mesmo tempo em que colhia o que precisava, Rohan parava algumas vezes, sentando em cima de troncos ou pedras para organizar seus achados, colocando-os em potinhos específicos, ou beber água. Início de outono nas ilhas de nível do mar sempre eram quentes, o clima quase nunca amenizava. Ao contrário das ilhas rochedo, onde a maior parte do tempo era frio e o inverno sempre era acompanhado de neve.

Rohan se levantou após lavar o rosto e algumas raízes em um córrego. Aproveitou também para capturar uns dois peixes. Seria bom ter um pouco de peixe para comer quando chegasse em casa. Então, resolveu que era hora de continuar suas coletas, ainda tinha muito o que colher, o estoque da botica realmente tinha diminuído muito em sua ausência.

— Purin, coloque esses tubérculos ao lado da bolsa, sim? Tenho que subir esse — Disse Rohan, estendendo um ramo para o feneco que prontamente pegou o que lhe foi dado e se afastou.

O mago, então, impulsionou o corpo para cima, conseguindo aterrizar em um dos galhos altos e espessos daquela árvore. Segurou-se um pouco mais e começou a cortar alguns pequenos frutos, colocando-os em uma bolsinha presa à cintura, mas, após alguns minutos ali em cima, Rohan sentiu aquela pontada no coração. Daquela vez... mais forte. Sua visão tornou-se escura por meio segundo e teve de se agarrar a um dos galhos com toda a sua força.

Rohan ofegou alto e apoiou todo o corpo contra a árvore, todavia, a pontada veio novamente, com a mesma intensidade, daquela vez, estava preparado. Apesar de conseguir se segurar, sabia que deveria descer, porém estava tonto e seu fluxo de magia parecia descontrolado.

— Foda-se... — Rohan murmurou para si mesmo e começou a despir a parte de cima de sua roupa, jogando-as no chão juntamente com a faixa apertada que prendia suas asas semelhantes as de Azuri, como de um morcego, ao corpo. Apenas aquele ato já fez com que se sentisse um pouco mais aliviado, mas ainda não estava completamente bem.

Então, abriu suas asas. O mago sabia que não podia voar com elas, mas serviam muito bem para que pudesse planar um pouco pelo ar ou amortecer quedas, então foi exatamente a segunda opção que resolveu seguir ao pular da árvore até o chão, batendo o par de asas.

A aterrissagem não tinha sido muito agradável, mas havia diminuído o impacto, com certeza. Porém, ainda respirava fundo, apertando o peito, ofegante, de quatro no chão. Purin apareceu correndo junto com Azuri.

— Está tudo bem... — Falou para os animais que claramente não acreditavam em suas palavras.

O pequeno feneco havia tomado sua forma gigante, puxando-o lateralmente pelas calças e Azuri estava abaixada logo ao lado e ajudou Purin com o próprio Purin a colocá-lo em cima de suas costas.

Voaram rapidamente para a ilhota no meio do lago de vitórias-régias e a viagem até lá deu tempo o suficiente para que Rohan voltasse a se sentir melhor, contudo, imaginou que deveria parar de se aventurar pelo meio do mato até o dia seguinte.

— Rohan? — Ouviu uma voz chamar no momento em que abriu a porta de casa, fazendo o mago levar um susto e quase gritar. Mais uma vez colocou as mãos sobre o peito, ofegante, pensando que aquilo definitivamente não era bom para seu coração após quase perder a consciência. — Rohan, você está bem?! — A pessoa se aproximou, parecendo extremamente preocupado.

Histórias de Sol e LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora