Memórias de Um Casarão

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O caminho até o palácio possuía um tom mórbido e Rohan estava angustiado e ansioso. Enquanto ambos eram escoltados de volta aos aposentos de Yuren, estava preparando todo um discurso para apresentar diante do Governador, assumindo toda a culpa, nem que tivesse de mentir que ele havia arrastado o rapaz a força para fora do palácio, contudo, aquele que encontraram no meio do caminho foi ninguém mais, ninguém menos que lorde Dorev.

— Claro... senhor Rohan está obviamente envolvido nisso, como eu desconfiava. — Foi a primeira coisa que Dorev falou quando ambos pararam a sua frente.

— Lorde Dorev, com todo respeito, achar que Rohan é o culpado por tudo é o mesmo que duvidar da minha capacidade mental de tomar decisões por mim mesmo. Então, por favor, peço que meça suas palavras e as escolha com muito cuidado. — Yuren, realmente, não estava agindo como de costume. Era quase impossível vê-lo dar ordens, principalmente daquela maneira fria e impaciente, mas seu tom e postura pareciam surtir efeito, pois até mesmo lorde Dorev abaixou sua cabeça.

— Perdão, Vossa Graça, não foi minha intenção ofendê-lo, estava apenas preocupado com seu bem estar.

— Pois não fique, estou extremamente bem! — Respondeu o rapaz, ríspido. Lorde Dorev, que antes era obviamente maior do que duas crianças de onze e doze anos, agora parecia pequeno perto de ambos adolescentes altos e esguios. Mais uma vez, o mais velho abaixou a cabeça.

— Fico feliz com isso, Vossa Graça. Contudo... seria meu dever informar a Sua Excelência do que aconteceu hoje...

— Não foi meu pai quem mandou os guardas? — Yuren contraiu a testa, confuso.

— Não, Vossa Graça, fui eu, seu pai não está no palácio no momento... e por isso, peço mil desculpas e também peço que não me interprete mal pois, como disse anteriormente, estava apenas preocupado.

— Entendo... então, você deu ordens para que fossem atrás de mim e agora diz que vai contar a meu pai? — Era possível que o rapaz quisesse dizer muito mais que aquelas palavras repetidas. Rohan sabia como ele andava nos últimos tempos, como ele praticamente segurava uma raiva estranha dentro de si, mas felizmente ele ainda conseguia controlá-la.

— Como eu disse, Vossa Graça, "seria" meu dever. Imagino que podemos manter isso entre nós...

O jovem herdeiro ficou em silêncio novamente pela surpresa que aquela frase lhe causou.

— E como podemos ter certeza que isso não chegará nos ouvidos de Vossa Excelência? — Rohan perguntou, colocando-se um passo a frente, erguendo mais sua postura. Lorde Dorev abriu um sorriso diferente daquela vez, seu nariz estava torcido como se tivesse um saco de lixo abaixo de suas narinas. Sabia exatamente que as pessoas não possuíam muita simpatia por si, achavam que Yuren o protegia demais e que ele, sendo apenas um ex-escravo e nascido em uma nação inimiga, não estava em seu "devido lugar".

— Senhores. — Lorde Dorev chamou os guardas educadamente, com aquele mesmo sorriso ainda em sua boca. — Devo avisar a vocês que se qualquer coisa sobre a saída de Sua Graça chegar aos ouvidos de qualquer outra pessoa, principalmente Sua Excelência e a Primeira Dama, irão haver consequência... para todos vocês.

Rohan sentiu que o "todos vocês" de Dorev o incluía, mas não deixou-se intimidar, mantendo a mesma postura estufada e o olhar sério. Sua prioridade, afinal, era manter Yuren a salvo de qualquer um e qualquer coisa.

— Vossa Graça, acho que está na minha hora de deixá-los. Agradeço sua benevolência e compreensão. Espero vê-los em nossa próxima lição. — Lorde Dorev e Rohan se cumprimentaram, assim como os guardas reverenciaram em direção a Yuren antes de marcharem de volta aos seus postos.

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