Calor e Frio

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A névoa que cobria o local como um lençol branco acinzentado dificultava a visão de Rohan. Estava frio, úmido e mesmo com a pequena lareira ao lado, era difícil enxergar alguma coisa, mas sabia que ele estava ali, a sua frente, sentado, parecendo esperar alguma coisa, talvez esperando que o mago resolvesse falar alguma coisa por vontade própria, mas o que poderia dizer a ele? Que sentia falta? Que sentia muito?

— Está cansado? — Rohan perguntou, percebendo imediatamente que aquela questão não parecia ser a melhor no momento. Sua resposta, contudo, foi sentir a mão do outro rapaz cobrir sua bochecha, acariciando-a.

De repente, Rohan se viu novamente em seu corpo mais jovem, um corpo mais frágil e mais fino, tal qual o de um adolescente que ainda experimentava todas as mudanças que a vida trazia. O outro rapaz, quase de sua idade, deslizava o polegar em sua bochecha, parecendo dizer muito em nenhuma palavra dita.

— Sunmei... — Rohan murmurou. Sabia que o rapaz estava sorrindo no momento em que fora abraçado.

Entre muitos delírios e sonhos vívidos, o mago sabia que aquele era um sonho, e não sua mente tentando enganá-lo, mas não deixava de ser igualmente cruel. Talvez, estando consciente daquela irrealidade, tornava tudo ainda mais doloroso. O que poderia fazer? Se forçar a acordar? Possivelmente, só não queria fazê-lo.

Deitou a cabeça sobre o ombro do rapaz e segurou a ponta da trança escura entre seus dedos. Geralmente, eles não se abraçavam assim. Talvez tenham se abraçado daquela maneira duas, três vezes? Não tinha muitas memórias, na verdade, todas elas eram confusas, como se não fosse realmente capaz de lembrá-las. Rohan desconfiava que havia usado algum feitiço em si mesmo para não lembrar mais, porém, obviamente não fora feito com muita maestria. Julgando pela quantidade de anos em que não se lembrava direito, faria sentido sua magia estar confusa.

No momento atual, tinha poder suficiente para simplesmente refazer a magia e apagar por completo qualquer resquício desse passado. Algumas vezes, havia pensado seriamente em fazê-lo, contudo obviamente não possuía coragem o suficiente. Era preferível sofrer e ter as poucas lembranças que iam e vinham quando bem entendiam, do que afogá-las no esquecimento.

Rohan deixou com que o rapaz embalasse seu corpo. Estava cansado física e mentalmente, não queria sair dali... era um local seguro, aconchegante, algo que não possuía mais. Viver sem um aconchego talvez fosse contra a existência humana. Todos querem um lugar para se sentir bem, todos querem um lugar para correr quando se sentem cansados, ameaçados, entristecidos... quando você perde esse lugar, é quando você se sente perdido no mundo, ficando sempre em alerta, sempre com um rombo no coração.

— Sunmei... — Rohan chamou de novo, querendo ouvir sua voz. Mas não conseguia, sabia que não. Ele falava consigo, claro, só que nem sempre parecia realmente ser uma voz... ou eram misturas de várias, ou algo que sua mente parecia criar para preencher essa lacuna. — Queria que você voltasse... — Murmurou, de olhos fechados, tentando não pensar muito mais em outras coisas, deixando com que sua mente aceitasse aquele delírio por mais alguns minutos.

— Mas estou aqui. — Ele respondeu, deslizando uma das mãos em suas costas.

— Sabe o que quero dizer... — Rohan soava chateado, por mais que não quisesse demonstrar isso, era a verdade. Estava magoado, às vezes culpava não somente a si mesmo, como ao rapaz, por estar sozinho, o que era uma loucura... não era realmente culpa dele, e nunca seria.

— E você não sabe o que eu quero dizer. — Ele retrucou, sem qualquer irritação. A voz soava em sua mente, era leve, suave, parecia deslizar entre seus ouvidos, por mais que não conseguisse identificar ou realmente ouvi-la. Era estranho, mas familiar.

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