Águas do Fervedouro

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Viajar não era algo que Rohan costumava fazer, principalmente nos últimos onze anos. Distanciar-se de seu casebre no meio do lago com certeza deixava uma sensação estranha, como se estivesse em um sonho ao voar tão alto em cima de Azuri, com a ilha que chamava de lar já muito, muito distante para ser vista.

Ao seu lado, estava aquele dragão branco de penas e acima dele estava o rapaz de longos cabelos brancos e ondulados, que esvoaçavam e pareciam chamar ainda mais atenção agora que trajava vestes de um tom verde água escuro. O mago pensou que ele parecia bem melhor com aquela cor.

Yuren constantemente olhava em sua direção, então constantemente Rohan era pego entre aqueles olhares analíticos e curiosos que jogava em direção ao bruxo. Ele sempre abria um sorriso mínimo, talvez de vergonha, talvez de cortesia, mas podia ver seus lábios flexionarem para cima.

Estavam voando há algumas horas e fizeram uma parada em uma ilhota que flutuava no céu. As ilhas rochedos eram todas suspensas no ar, ninguém sabia exatamente o motivo, mas existiam diversas delas, assim como as ilhas-tartarugas que viviam no mar, uma das quais Rohan habitava.

Apesar de existirem rochedos e tartarugas de extensões gigantescas, onde viagens de uma ponta a outra poderiam levar semanas à cavalo, também existiam ilhotas, pequenos rochedos suspenso no céu, longe de outros lugares, às vezes tão pequenos que era possível ir de uma ponta a outra em cinco minutos. As ilhotas do mar não eram em cima de cascos de tartarugas, pedaços pequenos de terra assim eram realmente pedaços de terra, sem nenhuma criatura as levando nas costas.

O local que usaram para descansar era uma pequena ilha que possuía alguns arbustos e árvores, o suficiente para lhes proporcionar um pouco de sombra enquanto descansavam e alimentavam os animais. Água não seria um problema, pois conseguiam retirar os sais e impurezas da água do mar, tornando-a doce e própria para o consumo. Aquele tipo de magia era complexa para pessoas com pouca magia, mas simples para magos.

Rohan, após tomar um o último gole de sua água, percebeu Yuren de costas para si, talvez observando o horizonte. Será que ele também achava estranho estar tão acima do mar? Ou será que o bruxo morava em algum rochedo? Gostaria de perguntar isso a ele, mas resolveu não fazê-lo.

— Vai escurecer daqui a pouco. — Comentou Rohan, tentando chamar atenção do General Branco, este que não se virou totalmente ao ouvi-lo, apenas pareceu inclinar um pouco mais a cabeça em sua direção.

— Uhum... — Sua voz rouca soou distante, como se estivesse mergulhado em seus pensamentos.

— Talvez devêssemos dormir aqui?

— Uhum... — Yuren respondeu com o mesmo tom de voz perdido. Rohan resolveu se aproximar por trás e viu, em uma das mãos pálidas, um raminho de uma planta com pequeninas flores brancas em sua ponta.

— Hm... Trigo-sarraceno. — Apontou Rohan para a planta. Yuren virou o rosto um pouco lento, parecendo ter acordado recentemente.

— Esse é o nome desta planta? — Questionou o bruxo, então acenou com a cabeça positivamente para ele.

— Uhum. O trigo que ela produz é comestível. — Rohan complementou, abrindo um sorriso. Yuren voltou a olhar para sua mão com a planta e a fechou entre seus dedos com grande delicadeza.

— É realmente incrível você conhecer tanto de botânica. — A voz de Yuren, mesmo rouca e pesada, parecia soar sempre muito suave quando ele estava calmo ou pensativo. Rohan deu uma risadinha ao ouvir tal elogio e balançou a cabeça em negação.

— Sendo sincero, não sei muito sobre a flora dos rochedos, só algumas poucas coisas mais necessárias... — A voz de Rohan diminuiu ao falar aquela frase e logo percebeu que seu entusiasmo causado pelo elogio tinha se esvaído tão rápido quanto uma piscada de olhos. Yuren olhou em sua direção e depois para a planta.

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