Deusas

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Annika e Watsana nasceram em Ilhevéu, trezentos anos antes do ano atual. Watsana, vinda de uma família abastada e Annika, vinda de uma família simples de tecelões e, ao perceber-se a única com grandes poderes mágicos dentro de si, foi enviada para estudar na maior escola para magos da região.

Ilhevéu, tempos atrás, parecia possuir um número maior de pessoas e habitações, mas era possível perceber que muito não havia mudado, talvez por seu isolamento, talvez por vontade própria de seus habitantes.

Annika era apenas uma adolescente de quinze anos quando colocou os pés no grande prédio de madeira e granito, sua personalidade era brilhante e cativante. Ela era animada, gentil, todos logo sentiram algum tipo de atração pela moça de cabelos pretos, lisos e grandes olhos cor de amêndoa, fosse essa atração apenas de amizade, admiração ou algo além.

Talvez fosse a personalidade radiante, ou talvez fosse seu sentimento de solidão, mas Watsana, de mesma idade, era uma das pessoas que se sentiram rapidamente atraídas por Annika, embora profundamente ignorada pela moça que vivia cercada de outros amigos.

Watsana era criada com certa rigidez por seus pais que já haviam traçado grande parte de sua vida. Pertencentes ao coven mais poderoso de Ilhevéu naquele século, era esperado que Watsana casasse com algum outro rapaz de potencial e linhagem mágica semelhantes e, de certa forma, já havia aceitado aquele destino... até que um dia Annika percebeu sua existência.

Havia algumas coisas as quais Watsana amava, e uma delas eram armas. Em seu coração, não havia objetivo de ferir ninguém com elas, mas apreciava aprender diferentes tipos de lutas e manuseios destes instrumentos. Claro, não era algo muito bem visto por seu coven, e pelo menos seus pais não se opunham tanto quanto imaginava.

Então, todas as noites, a moça corria para dentro da floresta atrás da instituição para poder treinar sozinha em uma clareira. Preferia lutar com foices, apesar de apreciar também lâminas menores e mais leves.

— Ei, Watsana, certo?! — Annika, de repente, surgiu de trás de uma árvore com um grande sorriso no rosto. Watsana deu um pulo, soltando a foice no chão, sentindo o coração bater rapidamente. Aquela outra moça era menor que si, mas, na verdade, não era difícil que outras moças fossem menor, já que possuía um metro e setenta e cinco de altura, o que tornava ainda pior sua vergonha, já que muitos a conheciam apenas por ser alta.

— Certo... — Respondeu, envergonhada e ainda tentando se recuperar do susto.

— Desculpe, te assustei, não é mesmo? Não foi minha intenção, mas você parecia tão concentrada e eu estava aqui há um bom tempo sem saber quando poderia ou não te chamar, então cansei de esperar. — Annika falou tada palavra tão rápido que Watsana se sentiu tonta.

— Ah... tudo bem. — Foi tudo o que conseguiu responder e, ao olhar o sorriso grande da outra moça para si, desviou o olhar para o chão.

— Ei, ei! Há quanto tempo você luta?! — Ela então se aproximou, pegando a foice do chão.

— Espere, é perigoso segurar se não souber manusear! — Watsana tentou puxar de volta a foice para perto de si, mas Annika havia dado alguns saltos para trás, examinando a arma. — É... é melhor me devolver...

— Woah, é bem pesada! — Annika girou a arma em seus dedos e Watsana quase viu estrelas por nervosismo de talvez a outra moça acabar machucada, porém, incrivelmente, ela parecia ter um bom controle. — Pode me ensinar?!

Então, Watsana franziu o cenho, confusa.

— O quê...?

— Quero aprender a lutar assim, pode me ensinar? Quando vim estudar aqui, achei que teríamos aulas de como batalhar, só que descobri que deixaram de ensinar isso há algum tempo. Sabe o quão decepcionada eu fiquei?! Minha mãe vivia contando que era incrível ver os aprendizes de mago lutando, mal pude acreditar que não aprenderia isso... então... pode me ensinar?! Prometo que não vou contar a ninguém! Na verdade, eu sei que você treina aqui há um bom tempo, mas só tive coragem de pedir agora, então, como pode perceber, eu já estou guardando segredo! Por favoooooor!

Histórias de Sol e LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora