Sacerdote

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Talvez fosse por sua pouca experiência, talvez fosse por nunca ter tocado os lábios de alguém com tanta ânsia e desejo, que Rohan não sabia exatamente como agir e se deveria pensar em cada movimento que fazia com todos os seus músculos.

Sabia apenas que estava tremendo, que estava nervoso a ponto de apenas se deixar tombar por cima de Yuren que acabou recostando na cabeceira da cama de tanto que o mago havia empurrado o próprio corpo para frente. Segurava também o rosto pálido com uma das mãos, puxando-o mais para perto de si, temendo que ele pudesse simplesmente desaparecer se o soltasse.

O bruxo suspirou contra sua boca, talvez fazendo algum pedido, talvez apenas deixando com que seus sentimentos saíssem em forma de som, como se estivessem presos ali e precisasse ir para algum lugar.

Mas foi quando separaram os lábios por meio segundo, que Yuren pareceu despertar daquele pequeno transe em que se colocaram. Rohan não teria percebido aquela mudança tão repentina se não fosse pelo próprio bruxo afastar o rosto, parecendo chocado.

— Eu... — Yuren falou, confuso.

— Yuren...? — Rohan o chamou, angustiado. O que poderia ter acontecido? Havia feito algo de errado? Havia beijado o bruxo contra sua vontade? Havia lhe machucado? Muito se passou em sua mente, diversos cenários traumatizantes, diversos cenários onde qualquer movimento seu poderia ter causado algum trauma em Yuren, por mais que soubesse que sequer tinha sido o primeiro a tomar a iniciativa e sequer tinha feito algo que pudesse, de fato, ofendê-lo ou machucá-lo.

— Eu... sinto muito, eu... preciso de um ar. — Ele falou, apressado, levantando da cama quase que em um pulo. Seus movimentos tinham sido tão rápidos que provavelmente o sangue de seu corpo mal tivera tempo para acompanhar, o que fez o bruxo perder um pouco o equilíbrio.

— Cuidado! — Rohan se apressou, tentando segurá-lo, mas o mais velho deu um passo à frente, evitando o toque entre eles. — Yuren... por favor.

— Preciso de ar... — O rapaz repetiu, saindo porta a fora como se estivesse fugindo do seu pior inimigo.

Rohan pensou em correr atrás dele, mas do que adiantaria? O que iria perguntar? Foi um beijo, sem explicação, sem um motivo aparente. Eles não eram nada um do outro, apenas companheiros de uma missão de alto risco. Para o mago, esperar respostas não faria sentido algum, já que sequer estavam em um relacionamento. Ambos possuíam pessoas em suas vidas que se machucaram, pessoas pelas quais cicatrizes foram feitas e, pelo visto, ainda estavam abertas.

Só era impossível não sentir um sentimento de ter sido desprezado, abandonado ao ser deixado deixado ali, sozinho, após algo tão íntimo. Rohan respirou fundo e esfregou o próprio rosto, tentando não se angustiar com tudo, se torturar não adiantaria de nada. Então, também resolveu sair daquela casa, precisava ver Purin e descobrir onde Azuri e Narya estavam.

Ao voltar para o cômodo anterior, encontrou suas próprias roupas, agora limpas e aparentemente remendadas. Rapidamente as vestiu e pegou seu cajado, que estava junto aos tecidos, e saiu do casebre ainda sentindo os lábios pinicarem e o coração levemente machucado.

O local, contudo, fez com que seu foco mudasse. Ao botar os pés para fora da casa, encontrou um mundo novo diante de seus olhos.

Casinhas feitas de madeira escura, entalhadas delicadamente por quase todos os lados. Algumas possuíam algumas cores, outras eram apenas daquele marrom intenso e natural. A estrada que unia a pequena vila onde se encontrava era de pedras lisas e azuis.

Estavam ao redor de uma intensa floresta, com árvores do mesmo tom de marrom escuro das casas, mas estas árvores eram tão grandes que pareciam estar dentro de uma cúpula feita de folhas de um verde também escuro.

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