Silêncio

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Um fato curioso que Rohan sabia sobre armas de fogo, era que, escutando-as ao longe, pareciam apenas pequenos estalos. Lembravam um pouco pequenos fogos de artifícios que eram vendidos em barraquinhas para que crianças se divertissem explodindo-os. Eles pipocavam de um lado para o outro, e causavam apenas uma leve queimadura caso explodissem em suas mãos, mas nada que realmente fizesse algum estrago.

Durante suas aulas no palácio, Rohan e Yuren aprenderam a disparar algumas armas de fogo, mas elas eram pesadas e pareciam inúteis em batalhas, era difícil carregá-las, levava um certo tempo. Foi assim que, ouvindo de perto, percebeu quão irritante era o som dos disparos. Eram como estampidos que perfuravam os tímpanos, deixando-os tontos. Flechas eram muito mais rápidas, silenciosas, baratas e leves, ou seja: eram as armas perfeitas para serem usadas a distância, logo, eram também as mais utilizadas.

Após aquelas duas aulas, era de se imaginar que não voltariam a tocar em armas de fogo por serem mais um transtorno. Então, Rohan nunca iria imaginar que seu fim pudesse ser pelo mesmo tipo de armas que tanto ignoraram.

Foram diversos disparos. Um, dois, três, quatro, cinco... quantos homens estariam ali embaixo? Seis, sete, oito, nove... os flashes de luz que surgiam nas pontas dos canos o cegaram rapidamente.

Rohan tombou no chão, sem conseguir falar. Demorou alguns segundos para conseguir, realmente, sentir a dor dos buracos que as balas fizeram em seu corpo... Houve um grande silêncio, até que um último disparo foi feito bem na cabeça do ex-Governador.

Logo, a dor excruciante veio ao mesmo tempo em que uma poça chegou ao seu rosto, praticamente afogando-o no líquido vermelho pois sequer conseguia levantar o nariz do chão.

Seus olhos, contudo, estavam focados no rapaz ao seu lado... as vestes brancas agora possuíam manchas vermelhas enormes e seus olhos perdiam, aos poucos, o pouco de vida que ele ainda mantinha.

— Sun... mei... — Rohan murmurou... foi o murmúrio mais baixo que havia saído de seus lábios em toda sua vida. Tão fraco, tão pequeno... que nem mesmo ele foi capaz de ouvir.

Os homens que dispararam os tiros agora pareciam comemorar o feito, conversando uns com os outros enquanto limpavam as armas e discutiam os próximos passos.

Rohan chorava. De dor, desespero, angústia, raiva... mas seus olhos, já enfraquecidos pelos disparos, tentavam a todo custo focar no rosto pálido de Yuren que ainda movia seu, respirando com dificuldade.

— Su... n.. me... — Tentou chamá-lo novamente.

Ambos sabiam que, em poucos segundos, a morte os levaria. Era como um sentido primordial, cru e gélido... era como um instinto animal que sabia quando estavam com sono, quando precisavam beber água, quando precisavam descansar... naquele momento, o instinto dizia que morreriam.

Yuren, deslizando uma das mãos sobre o sangue, parecia procurar por Rohan ao seu lado e o rapaz fazia o mesmo. Eram como imãs... era natural para eles, natural que buscassem um ao outro até mesmo entre as últimas respirações.

— Eu.. te... a... am.. — Rohan tentou falar, mas não conseguia mais pronunciar palavra mais nenhuma palavra. Estava fraco... fraco... fraco...

Queria que Yuren entendesse, rezou para todos os deuses que ele compreendesse. Ele precisava entender seus sentimentos... se os deuses fossem piedosos, nada mais importava naqueles últimos segundos...

Então finalmente seus dedos se tocaram.

Naquele exato instante, uma gigantesca explosão aconteceu, levando a casa pelos ares e todos aqueles que estavam nela.




Houve silêncio... 

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