Soulmate

Estória extra - Parte oito

Lin LuSe respira fundo. O quanto ele está magoado é a mesma proporção do seu orgulho. De onde ele vem, sempre escutou que os relacionamentos funcionam melhor quando você conversa.

Isso é um relacionamento?

— Por favor, apenas escute e me rejeite se você não me quer nem um pouquinho. — Wen Ning não se importa se ele vai ser humilhado. Lin LuSe amou ele de volta, gostou dele, ainda deve ter algum resquício do que ele sentiu.

Não é impossível que eles fiquem juntos, nunca foi. Ele só precisa estar aberto a ser rejeitado de novo, de novo e de novo.

Assim como ele precisa estar aberto a possibilidade de dizer muitas vezes que ama Lin LuSe. Ele não se importa de gaguejar enquanto diz as coisas que sente, nem que suas mãos estejam suadas. Ele só precisa deixar claro para Lin LuSe que ele é uma opção, que ele deve ser considerado porque o ama.

Lin LuSe abre a boca e então fecha, ele deveria mesmo rejeitar Wen Ning. No entanto, ele passou muito tempo gostando de Wen Ning e todas as novas lembranças que ele tem... Ele não consegue dizer não.

Tudo que ele pode fazer é arrancar a página do caderno e sair, amassando numa bola.

— Você acabou de ser humilhado, por que está sorrindo? - Uma das pessoas no fundo está curiosa ao ponto de perguntar.

— Ele não me aceitou, mas também não me rejeitou. - Wen Ning não consegue parar de sorrir pelo resto da aula, mesmo que as pessoas que assistiram a cena estejam rindo dele.

Tudo bem, ele consegue ser feliz assim. Ele fica completamente contente em fazer o mesmo caminho que todos os dias, andando alguns passos atrás de Lin LuSe.

Dando tempo para o outro pensar, para se acostumar com a presença dele, para começar a ver que seus sentimentos são sinceros.

Mesmo que Lin LuSe não fale com eles nas próximas semanas, Wen Ning ainda espera por ele na porta de sua casa e o segue até escola. Eles fazem o mesmo trajeto depois que as aulas.

Wen Ning também faz questão de comprar chá com leite e bolhas para Lin LuSe, todos os dias quando ele volta do intervalo, há um copo ali, na sua mesa com um bilhetinho.

E quem se importa se Lin LuSe amassa o bilhete? Wen Ning é que não se importa, afinal, ele nunca viu nenhum deles ir parar no lixo e o chá sempre terá sido tomado.

Talvez Lin LuSe ainda leve um tempo para perdoar a mentira e tudo bem, Wen Ning tem bastante tempo para esperar. Ele quer esperar, ele gosta de esperar pelo tempo de Lin LuSe.

O próximo contato que eles têm é quando começou a nevar e Wen Ning não consegue achar seu guarda chuva na mochila.

Lin LuSe estava acostumado com a presença de Wen Ning, tão acostumado a ver a sombra do outro enquanto andam de volta para casa que ele se sente estranho quando, após cinquenta passos, ainda não vê Wen Ning.

Quando ele olha para trás, pela primeira vez em dias, Wen Ning fecha a mochila e puxa o capuz sobre a cabeça, sorrindo para Lin LuSe e fechando a mochila para acompanhá-lo.

O cabelo de seu futuro namorado está crescendo novamente, muito preto, tão bonito. Wen Ning até sente seu coração errar uma batida quando o olha.

— Volte. - Lin LuSe diz quando Wen Ning o alcança, parando a menos de um metro. — Está nevando.

— Não posso te deixar ir sozinho. Eu prometi, pra mim mesmo, que ia perseguir você. — Wen Ning gagueja, tentando emendar uma justificativa. — Não como um stalker, nem nada assim é só que- que- que eu...

Lin LuSe não consegue evitar sentir um derretimento no coração quando Wen Ning gagueja e tagarela suas justificativas. As bochechas coradas, os olhos sem desviar dos seus.

Ele acabou guardando todos os bilhetes, uma parte dele se sente satisfeita de guardar uma ilusão de que Wen Ning gostou dele.

Mesmo que Lin LuSe fosse ser muito feliz se ignorasse seus próprios sentimentos, ele ainda não conseguiu deixar de gostar dessa pessoa. Ele gostou de Wen Ning desde o começo, como poderia abrir mão assim?

— Você fala demais. - Ele pisca algumas vezes, tentando se livrar do pensamento que em momentos assim, ele iria se curvar e beijar Wen Ning. Se eles ainda estivessem vivendo no passado, ele ficaria muito feliz em fazer isso.

— Eu sinto muito. — Wen Ning passa as mãos nos olhos, tirando os pequenos flocos de neve dos seus cílios. Depois ele faz um gesto de trancar a boca e jogar a chave fora.

— Vamos. - Lin LuSe estende a mão e Wen Ning não hesita em segurar, mesmo que ele ache que está sonhando acordado. O guarda chuva azul paira acima da cabeça de Wen Ning e sua mão é solta por Lin LuSe, então seu capuz é colocado pra trás, derrubando neve na sua mochila. — É provável que peguemos um resfriado se ficarmos muito tempo parado.

E a mão fria de Lin LuSe envolve a sua, fazendo seu coração disparar. As duas mãos estão geladas, mas o coração de Wen Ning é tão quente que poderia derreter o gelo do Ártico.

E talvez, o amor não seja sobre as grandes estórias contadas em livros ou frases de grandes pessoas notáveis ao longo da história. É o que Wen Ning pensa enquanto eles caminham de mãos dadas.

Talvez o amor seja sobre dar o seu melhor, todos os dias e admitir que está errado. Talvez o amor seja sobre perdoar e as pequenas coisas que te fazem extremamente feliz.

E, naquele momento, o que o faz feliz é dividir um guarda chuva azul com Lin LuSe, sob a neve, duas mãos geladas se segurando enquanto as coisas, lentamente, voltam para o seu devido lugar.

Fim