5 de Março de 2022 - 18:55
Segui ela até uma parte do caminho e notei que mesmo que pequeno esse bosque era cheio de árvores de todos os tamanhos e era denso, muito denso, de certo ponto de vista poderia até soar assustador, se não tivesse as luzes acima do caminho de pedras com certeza eu diria que era um péssimo lugar para se estar.
- Como eu ia dizendo - Ela esperou até que nós ficássemos lado a lado - Você me disse algo estranho.
- O que eu disse? - Eu disse ansioso pela resposta.
- Bem - Ela caminhava olhando pros lados e chutando o vento de leve - Eu queria que você tivesse esquecido o que eu te falei há cinco anos atrás.
- E pelo visto funcionou, porque eu esqueci.
- Exatamente, mas o engraçado é que nós conversamos sobre isso há um ano atrás e foi aí que você me disse... - Ela parou e me olhou - Você me disse ser capaz de fazer isso, esquecer qualquer coisa, fazer qualquer um esquecer qualquer coisa.
- Eu definitivamente não me lembro de ter te dito isso - Eu paro e a encaro.
- Isso pode estar ligado a sua perda de memória, pois eu lembro que você falava muito sério comigo sobre isso.
Eu vasculhei minha cabeça em busca de memórias sobre isso mas o nervosismo me atacou de novo e olhando pra ela agora a única coisa que minha mente gritava era:
Se declara!
Se declara!
Se declara!
Mas o que diabos eu tinha na cabeça pra falar que podia fazer qualquer um esquecer qualquer coisa? Eu só podia estar de sacanagem ou bêbado, ou drogado, ou os três. Mas ela disse que eu falava sério e não disse que eu estava alterado. Logo eu questionei:
- O que mais eu falei?
- Você só disse isso e logo desmentiu, disse que era bobagem - Ela segurou minha mão - Eu quero que você saiba de uma coisa Heitor - Ela me olhou no fundo dos olhos, senti que até minha alma foi atingida - Se tiver algo que você esconde pode contar comigo sempre, não esconda nada de mim.
E foi aí que um estalo veio à minha mente, é agora, é a hora de se declarar.
- Olha eu realmente não me lembro de ter te falado isso - Eu segurei a mão dela de volta - Talvez eu tenha esquecido com os meus incidentes com problemas de memória - Eu olhei para os lados e a encarei de volta - Mas tem uma coisa que você precisa me falar, você disse que tinha que me falar alguma coisa ontem.
- Você já tá pensando nisso?
- Não foi você quem disse pra eu não esconder nada de você? - Eu segurei forte a mão dela - Não esconda nada de mim também!
- Você também disse que iria me falar alguma coisa.
- Mas você disse primeiro - Falei com um sorriso no rosto - Me diga você primeiro que eu logo falo.
Ela pareceu ficar nervosa, olhou para os lados e bateu o pé no chão com a ponta do tênis.
- Vamos voltando, que eu juro que te falo.
Eu assenti. Enquanto voltávamos ela falou:
- Olha, eu quero que você seja completamente sincero na sua resposta.
- Tudo bem.
Nós estávamos mais próximos da área da piscina agora, o som estava mais alto e eu pude notar que todos lá estavam conversando entre si. Nisso Luana caminhou para perto de uma árvore mais alta do tronco grosso na parte de fora do caminho de pedras e me arrastou pelo braço dizendo:
- O que você sente por mim?
Meu coração pareceu sair pela boca, um enorme medo percorreu por todo meu corpo e eu pensei sinceramente em mentir, olhei para os lados e percebi que agora todos ao invés de estarem conversando estavam olhando para nós apreensivos. Foi quando o coração saiu da minha garganta por alguns segundos que eu consegui falar, ou tentei falar:
- Eu sinto... Eu sinto.
Olhei novamente para os lados e notei que principalmente Carlos olhava para nós com uma alegria no olhar e Luana provavelmente estava tão nervosa que nem notou que todos estavam nos olhando. Eu disse novamente:
- Eu sinto...
Até que fui interrompido, olhei para o lado oposto do pessoal, pra dentro da mata e ouvi um grito engasgado junto a isso vi um vulto grande se aproximar, eu não tive tempo de reação. Um homem alto, negro, de olhos esbugalhados pra fora da cara, com um sorriso cortado literalmente de orelha a orelha com roupas largas branco-amarronzadas, se posicionou atrás de Luana. Ela não teve nem tempo de olhar para trás, o homem tinha uns dois metros de altura, ele a segurou com apenas uma mão pela parte de trás da cabeça e apertou. Luana gritou, o homem a ergueu e bateu a cabeça dela contra a árvore, uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, a ponto de que o grito dela parou e seu sangue respingou na minha cara seus miolos se espalharam pelo chão e o homem me encarando com o resto da cabeça de Luana na mão direita disse com uma voz gritada e rasgada, parecia o som do próprio inferno:
- UM! - Ele gritou - UM!
Minha única reação foi correr, nem vi pra qual direção.
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Troco
Mystery / ThrillerTroco é uma antiga lenda que circula pelo Brasil e assombra milhares de crianças antes de porem suas cabeças nos travesseiros. Por algum motivo isso está conectado a uma festa que Heitor vai dar com seus nove antigos colegas do ensino médio numa faz...