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5 de Março de 2022 - 19:23

Me assustei indo pra trás de leve. A primeira coisa que reparei foi na respiração ofegante de Carlos, que me seguiu até aqui. Seu corta-vento do Corinthians estava aberto e ele tinha lágrimas nos olhos, mas não parecia estar chorando. Sua mão estava ainda mais gelada agora e ele precisou recuperar o fôlego para conseguir falar.

- Por que caralhos você correu pra essa direção? - Disse ele ainda tentando recuperar o fôlego.

- Eu sei lá porra, Luana acabou de ser assassinada - Eu passo a minha mão no rosto e encaro as manchas de sangue que nela estão - E eu não consegui fazer nada.

- Não é hora pra isso velho - Ele tirou a mão do meu ombro e se agachou junto a mim - Nós precisamos sair daqui.

- Ela morreu Carlos - Eu digo olhando no fundo dos olhos dele - Morreu como se não fosse nada.

- Eu sei caralho - Disse ele elevando um pouco o tom de voz - Você acha que eu não vi? Todos ali viram o que Troco fez com ela.

- Troco? - Minha cabeça estava tão confusa que nem lembrei daquela história.

- O homem que matou ela era idêntico àquela história que os mais velhos contam, você nunca ouviu?

- Claro que já ouvi - Eu sacudi a cabeça de leve - Por que estamos falando disso? Nossa amiga acabou de ser assassinada.

- E você acha que eu tô pensando direito também? - Ele se encostou no tronco da árvore caída se sentando - Mas precisamos dar um jeito de sair daqui.

- Como diabos vamos fazer isso?

- Antes de vir atrás de você vi Arthur e Daiane correndo na direção do Golf de Arthur - Ele pareceu estar recuperado da corrida agora - Precisamos voltar lá pra pegar o carro.

- Ou nós vamos a pé até a estrada em que viemos.

- Se conseguíssemos chegar até lá nós teríamos que andar alguns quilômetros a pé até achar outras pessoas, precisamos do carro.

- Mas o Troco não está lá na casa?

- Ele seguiu na direção dos outros cinco que se espalharam, não vi para onde ele foi exatamente, há uma chance remota de conseguirmos sair com o nosso carro e o de Olívia.

- Não temos outra opção? - Olhei pro meio da mata ainda lembrando da morte de Luana - E se ele estiver lá?

- Vamos ter que dar um jeito de driblá-lo e sair com o carro de Olívia e logo após com o nosso - Eu escutei ele enquanto me sentava ao seu lado.

- Eu não consigo parar de pensar na cabeça dela sendo esmagada na minha frente Carlos.

- Você precisa guardar o sofrimento pra depois - Ele disse olhando pro céu - Assim como eu também tô fazendo.

- Eu não sei se consigo - Me senti ainda mais incapaz - As imagens simplesmente não saem da minha cabeça.

- Vamos nos ocupar então - Disse ele enquanto olhava ao redor - Precisamos pensar num jeito de sair daqui com o nosso carro e o de Olívia já que ele está atrás do Santana.

- Posso tentar te ajudar a pensar em algo.

- Já é um primeiro passo - Falou ele enquanto movia os olhos em minha direção - Certo, vamos lá. Temos que descobrir primeiro onde Olívia está para sairmos no carro dela ou tirar o nosso logo após ela tirar o dela.

- Você lembra pra que lado ela foi? - Carlos pareceu vasculhar sua mente em busca de uma resposta e após alguns segundos ele pareceu se lembrar.

- Ah caralho - Ele estalou os dedos - Acho que lembro vagamente de ver Olívia puxando Martha pra dentro daquela casa, elas devem ter se escondido lá dentro.

- Isso dificulta ainda mais nossa vida, mas já é alguma coisa.

- Vamos voltar até lá e procurar ela dentro da casa...

Passos foram escutados por mim e Carlos na folhagem seca, ele calou a boca na hora, notei que os som dos passos eram pesados e lentos e junto a eles escutei correntes batendo umas nas outras.

Carlos colocou o dedo na frente dos lábios e se ergueu devagar para olhar atrás da árvore caída, na direção que vinha o som. Ele olhou e rapidamente, desceu assustado e eu pude ver seus lábios dizerem baixinho:

- Troco.

TrocoOnde histórias criam vida. Descubra agora