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5 de Março de 2022 - 19:10

Não sei por quanto tempo eu corri, só parei porque não aguentei mais dar um passo sequer. Aquela cena se repetiu a cada minuto na minha mente, a cabeça da minha melhor amiga sendo esmagada contra um tronco de madeira. Agora que parei, passei a mão por cima das gotas de sangue dela que estavam sob a pele do meu rosto. Me senti sujo, fraco e incapaz.

Mas o que caralhos eu poderia ter feito? O que um homem enorme com grilhões partidos, um preso a cada braço, está fazendo no meio do nada? E por que... Pela primeira vez pareço processar o que de fato aconteceu com Luana. Lágrimas começam a descer de meus olhos e se misturam com o sangue dela no meu rosto. Eu me ajoelhei e abaixei a cabeça no meio da mata, só agora notei que havia cruzado o pasto inteiro correndo e havia conseguido entrar na mata que ficava em volta dele. Soquei o chão algumas vezes e comecei a soluçar de tanto chorar, eu estava acostumado a não fazer barulho enquanto chorava, me acostumei tanto que agora que eu queria gritar e fazer o máximo de barulho que eu pudesse eu não conseguia.

Tentei ao máximo tirar a dor de mim, parar de pensar naquela imagem da cabeça de Luana sendo esmagada, mas não consegui, a única coisa que fui capaz de fazer foi chorar agachado, de cabeça baixa e socar o chão repetidas vezes, até minha mão começar a doer.

Todos aqueles momentos que vivemos, tudo aquilo que passamos juntos se foi e a última coisa que eu fiz foi mentir pra ela, mentir que não lembrava do que ela tinha dito. E no fim eu nem consegui dizer o que eu sentia por ela.

CARALHO. Que ódio. Eu ergo minha cabeça e começo a dar tapas na minha cara com ambas as mãos, alternando entre os lados.

- Idiota, lixo - Digo a mim mesmo - Filho da puta, escroto, mentiroso.

Foram tantos tapas que o som deles ecoavam pela floresta vazia e meu rosto provavelmente já estava marcado, mas isso não importava. Eu parei, olhei pra cima vendo as copas das árvores e tentei gritar mas a voz simplesmente não saía, parecia estar presa e engasgada como ar comprimido dentro de uma bomba de encher pneus.

Eu senti que iria explodir se não começasse a respirar direito, a crise de ansiedade estava me afligindo novamente e dessa vez eu não estava nem um pouco bem pra me acalmar. Meu cérebro começou a girar dentro do crânio e eu comecei a me sentir tonto, me levantei rapidamente, senti que fosse desmaiar então me forcei a respirar mais devagar engasgando em meio a lágrimas e chorando igual a uma criança.

Passei a pensar direito agora, a ideia de ser encontrado por aquele homem sorridente dos olhos esbugalhados com os grilhões nos braços me veio a mente e coloquei as duas mãos na frente da boca e encarei todos os lados numa velocidade imprescindível. Corri mais adentro na mata e me agachei novamente ao lado de uma grande árvore caída, agora num silêncio forçado ouvindo meus próprios passos e os sons assustadores da mata eu comecei a pensar no que diabos eu ia fazer.

O que você sente por mim?

As últimas palavras de Luana ditas com olhos apreensivos ecoam na minha cabeça como pontadas dolorosas de agulhas quentes entrando por todos os poros da minha cabeça.

Por que eu simplesmente não respondi antes?

Por que eu não consegui fazer nada para ajudá-la?

Nesse instante acho que eu seria capaz de explodir meus próprios miolos caso tivesse uma arma de fácil acesso. A dor e aquelas imagens simplesmente não paravam de aparecer na minha cabeça, senti como se fosse sufocar com tanto peso sobre meus pensamentos.

E como se não fosse ruim o suficiente, fiquei tão distraído em meus pensamentos que não prestei atenção a minha volta durante todo esse período de tempo.

Virei a cabeça rapidamente para todos os lados numa tentativa de que meus olhos encontrassem alguma coisa que estivesse me perseguindo, mas antes que eu pudesse olhar para minhas costas eu senti uma mão extremamente gelada encostar no meu ombro.

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