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5 de Março de 2022 - 19:34

Carlos e eu ficamos parados esperando ele passar, numa esperança de ouvir os passos descalços dele sumirem. Foi isso que fizemos, ficamos quietos e apreensivos até que os passos de Troco desapareceram no meio da mata. Carlos então sussurrou:

- Precisamos aproveitar que ele me seguiu até aqui e ir atrás das meninas na casa agora.

Eu assenti com a cabeça, eu e ele nos levantamos e saímos em passos leves na direção da casa. Nos primeiros segundos senti esperança e achei que conseguiríamos sair da mata e chegar até o pasto sem sermos vistos, foi quando começamos a ouvir os mesmos passos pesados voltando da mesma direção que foi, era Troco, ele estava voltando.

Carlos sinalizou para andarmos rápido, mas não estava adiantando pois os passos de Troco se aproximavam mais rápido do que nós nos afastamos. Até que notei que ele estava muito perto quando ouvi ele repetir aquela mesma palavra que disse quando matou Luana, com a mesma voz gutural:

- UM! - E ficava cada vez mais alto - UM!

Carlos já corria na minha frente e eu o acompanhei, foi quando a voz de Troco ficou muito alta e ao olhar para trás vi que ele estava próximo, seus olhos esbugalhados vasculharam toda a mata até que chegaram em mim e eu então gritei pra Carlos:

- CORRE CARALHO, ELE ME VIU!

Nós aceleramos o passo enquanto Troco veio em nossa direção e eu parei de olhar para trás para correr ainda mais rápido.

- UM! - Repetia Troco cada vez mais alto, se aproximando cada vez mais - UM!

Nós chegamos ao pasto aberto e eu passei a correr ao lado de Carlos, virei a cabeça pra trás, para onde viemos, para onde Troco estava e vi que ele acabara de sair de dentro da mata e parecia se aproximar cada vez mais da gente.

Como o espaço era totalmente aberto agora, não tinha como despistá-lo, então Carlos disse ofegante:

- Ele está atrás de mim, vou correr pra outra direção, você procura as meninas e espera eu chegar pra fugirmos.

- Você não sabe se ele está atrás de você....

Antes que eu terminasse de falar o desgraçado do Carlos já corria se afastando de mim para a direita, e como ele havia dito Troco foi atrás dele.

Por que?

Questionamentos pra depois, eu apenas corri na direção da casa que já era visível na distância, o bosque era bem mais visível com suas árvores altas, o local onde Luana morreu.

Guarde para depois, pensei.

Preciso aproveitar o tempo que Carlos está ganhando, corri na direção da casa olhando Troco ir atrás dele e vi que ele provavelmente tinha pensado em ir na outra ponta do bosque que ficava próximo a casa. Eu não podia subestimar Carlos, ele iria conseguir, não posso duvidar dele.

Após alguns minutos correndo e arfando igual a um velho eu cheguei pelo mesmo local de onde saí correndo, eu tentei evitar olhar mas assim que passei vi o corpo de Luana e...

As memórias voltaram e a voz dela ressoava na minha cabeça:

O que você sente por mim?

E logo em seguida a cabeça dela sendo esmagada e sua voz sumindo junto com sua vida. Eu não podia perder mais ninguém, foi isso que me tirou da hipnose em que eu estava, Carlos havia ganhado tempo pra mim e eu não podia gastar o precioso tempo que ele ganhara.

Eu me forcei a não pensar na morte dela e corri na direção da casa fui pela mesma porta que entrei anteriormente passando pela área da piscina, assim que entrei na casa escancarando a porta eu gritei:

- OLÍVIA! - Eu falava com dificuldade, pois estava sem fôlego - SOU EU, HEITOR, PRECISAMOS SAIR DAQUI, RÁPIDO.

Não ouvi resposta, subi as escadas e repeti as mesmas palavras, abrindo as portas de todos os quartos, até que quando abri a porta do segundo quarto e entrei senti algo puxando a minha perna.

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