Troco

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5 de Março de 2022 - 19:48

A mão que agarrou minha perna vinha de baixo da cama de casal do quarto que eu havia acabado de entrar, logo ouvi uma voz dizer:

- Cala boca seu idiota ele vai nos ouvir - Era a voz de Martha e a mão dela segurava a minha perna.

- Martha, você sabe onde está Olívia? Precisamos estar prontos para sair daqui agora - Eu falei tentando manter um tom de autoridade na voz.

- Eu tô aqui - Respondeu Olívia que pareceu estar ao lado de Martha embaixo da cama - Não podemos sair, Troco está nos procurando.

- Não, não está, Carlos está despistando ele nesse exato momento para que possamos usar o carro e sair daqui.

Olívia estica a cabeça pra fora da cama do lado oposto em que estou:

- Nem fodendo, eu acabei de ver ele passando lá embaixo.

- Isso faz quanto tempo? - Questionei.

- Pouco mais de dez minutos.

É mais ou menos o tempo em que vi ele lá na mata, será que ele era rápido assim? Será que ele pegou Carlos? Eu não podia me dar ao luxo de fazer questionamentos agora, eu tinha que estar pronto com o carro de Olívia pra sair daqui com Carlos. Ele vai chegar, ele vai chegar.

- Ele nos alcançou nesse meio tempo Olívia, vamos ficar prontos no seu carro esperando Carlos pra sair o mais rápido possível daqui.

- Velho você não tá pensando direito - Disse Martha ainda debaixo da cama - Se esconde e espera um pouco junto com a gente.

- Cala a boca Martha - Olívia me encarou assustada, e até eu me assustei um pouco com minhas palavras - Você não sabe nada sobre meus pensamentos, só vamos logo esperar Carlos no carro.

- Você acabou de sofrer um trauma Heitor - Ela pareceu menos arrogante em seu tom de voz - Não podemos confiar no que você está falando.

- Martha, eu acho que ele tem razão - Olívia me encara e parece notar o desespero em meus olhos - Heitor não parece estar mentindo ou pensando errado.

Ouvi Martha bufar e dizer:

- Tudo bem então - Ela começou a sair debaixo da cama, Olívia também pelo outro lado - Se der merda a culpa não é minha.

Eu começo a ir na direção das escadas e então digo:

- Vamos rápido, eu não sei quanto tempo temos.

Nenhuma delas respondeu, isso me assustou um pouco, mas mesmo assim segui em frente e desci as escadas indo em direção a porta. Assim que saí segui na direção esquerda onde estavam estacionados os carros, olhei pra trás e vi que Olívia e Martha me seguiam respectivamente. Olívia avançou em passos largos na minha frente e destravou o carro que piscou em luzes amarelas. Eu avancei na direção do carro e me sentei na parte de trás, Martha foi no passageiro e Olívia ficou como motorista.

- Quanto tempo esperamos por Carlos? - Exclamou Martha.

- Quanto tempo for necessário - Respondi de forma dura.

- Mas e se ele for pego...

- Ele vai chegar, só espera - Eu cortei a fala de Martha - Vai dando a ré e fica pronta pra sair pela estrada Olívia.

Numa sincronia macabra eu comecei a ver Carlos correndo vindo de dentro do bosque, a alguns metros do corpo de Luana.

- EU CHEGUEI PORRA, CHEGUEI, CADÊ VOCÊS! - Gritou Carlos, meu coração se aqueceu e eu senti uma felicidade momentânea por ele estar vivo.

Eu abri o vidro do carro estendi meu corpo pra fora e gritei com todas as minhas forças:

- ESTAMOS AQUI CARLOS, ACELERA!

Ele parece notar onde estamos e se vira na nossa direção. Troco está logo atrás dele e ainda posso ouvir ele dizendo com a voz gutural as mesmas palavras de antes. Ele está próximo de Carlos, assustadoramente próximo. Olívia liga o carro, acende os faróis, abre seu vidro e grita pra ele:

- VAMOS CARLOS, ACELERA!

- TÔ TENTANDO! - Diz ele ofegante.

Isso é mal, ele está no seu limite. Quando acho que as coisas não podem piorar vejo Carlos olhar pra trás e num relance ele tropeça no que parece ser uma das raízes de uma árvore. Quase que em câmera lenta vejo Troco se aproximar dele com o sorriso macabro e os grilhões balançando em seus braços, ele se abaixa e segura a parte de trás da cabeça de Carlos erguendo-o da mesma maneira que fez com Luana, as cenas se entrelaçam em minha mente e eu vejo Troco prestes a matar meu último amigo.