6 - "Tres"

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Três

Aos três anos a fala e o andar de Sarah estavam perfeitamente desenvolvidos, mas Diego decidiu que inscrevê-la na pré-escola seria bom para ela fazer mais amizades e se habituar ao contacto com outras pessoas além da família e dos amigos do pai. E ela lá foi, contragosto, mas foi.

- Tem mesmo que ser? Eu não quero ir, papá. - não queria largar a mão do pai e estava praticamente a fazer birra desde que acordara.

- Sim, tem que ser, princesa.

- Mas eu não quero ir. - fez beicinho mais uma vez.

- Vá lá, Sarah, já falámos sobre isto.

- Mas papá

- Sarah, tu tens que ir para a escolinha, querida.

- Mas e se eles não gostarem de mim?

- Claro que vão gostar, meu amor. Tu és divertida e muito fofa. Vais ver que vais fazer muitos amigos.

- Eu não quero ir. - começou a chorar e agarrou-se ao pescoço do pai.

- Princesa... - abraçou o corpo pequeno e acariciou-lhe as costas, quando ela chorava o coração dele ficava apertado e tinha vontade de chorar também - Tu não dizes que queres ser médica como eu? Tens que ir para a escolinha.

- Eu já não quero.

- Ei, tontinha, tem que ser. Tens que ir mesmo que não queiras ser médica. Vá lá, vais ver que vais gostar. - afastou-a e limpou-lhe a cara - Sabes, quando eu fui para a escolinha também chorei muito e quis ir para casa, mas depois fiz amigos.

- Mas tu tinhas o primo Nicolás.

- O primo Nicolás chorou mais do que eu. - conseguiu arrancar uma gargalhada da menina - Vais gostar, vais ver, vais fazer amigos num instante.

- Prometes?

- Sim, mas tens que ir. Venho buscar-te logo à tarde.

- Logo à tarde? Mas eu pensei que vinhas ao almoço.

- Amanhã almoçamos juntos, prometo, mas hoje tens que ficar o dia todo.

- Papá!

- E sem morros¹. Vá, vai lá piolha.

- Não quero. - agarrou-lhe o pescoço outra vez.

A educadora teve a brilhante ideia de dizer que ele podia ficar lá alguns minutos até ela se habituar ao barulho das outras crianças e ao ambiente, então obviamente que Sarah aproveitou para ficar mais alguns minutos agarrada ao pai.

Houve uma menina que a foi chamar atrás das pernas do homem e Sarah foi receosa depois de se despedir. Quando a foi buscar à tarde, ela reclamou da outra menina e ele fartou-se de rir.

- É que ela é mesmo chata! Sabes que não gosto de falar mal das pessoas, - Diego olhou para ela pelo espelho do carro e riu-se - mas ela não se calou mesmo um bocadinho. E despenteou-me, acreditas? - olhou para o pai da mesma maneira com uma feição de indignada - Fiquei mesmo chateada, mas depois houve outra menina, que já me esqueci o nome, que veio brincar comigo quando eu estava na casa das bonecas.

Contou o dia todo ao pai, ele só se ria. Por sorte o caminho até casa não era muito longo, mas ao jantar voltou a contar tudo ao avô que também não conseguiu segurar as gargalhadas.

Uns meses depois ela percebeu que o homem afinal ainda não era médico, mas que brevemente sairia da escola, como ela chamava a formatura. Ficou mais contente do que ele e arranjou-se toda para ir à cerimónia, vestiu um vestido bege cheio de florzinhas e um laço acastanhado no peito, e obrigou o pai a ver um tutorial no YouTube para lhe fazer um penteado bem bonito.

Fiquei com um pedacinho teuOnde histórias criam vida. Descubra agora