Culpa
— Juan? — agachou-se ao lado dele e tocou-lhe no ombro duas vezes, ele levantou a cabeça dos joelhos na direção dela e limpou as lágrimas — O que se passa?
— Não sabia que tinhas vindo aqui.
— E eu não sabia que vinhas aqui. Quem é que vieste ver? — o namorado voltou a olhar para a sepultura pequena à frente e quando olhou para o mesmo sítio Sarah leu "Laura Gómez; 18/08/2022 - 24/11/2022" — Quem é?
— Era irmã da Sofia, gémea dela.
— Não sabia que a Sofia tinha uma gémea.
— Acho que nem ela sabe.
— O que aconteceu? — sentou-se ao lado dele no chão de terra e pousou-lhe a mão nas costas.
— Vais ficar com as calças sujas, são brancas.
— Achas mesmo que me vou preocupar com as calças quando te vejo a chorar no cemitério? — encostou o queixo ao ombro dele — O que se passou?
— Ela morreu.
— Bem, eu já tinha percebido isso... — deu-lhe um beijo na bochecha e acariciou-lhe o cabelo — Não tens que falar sobre, mas posso ficar a fazer-te companhia se quiseres. — o rapaz voltou a apoiar a cabeça nos joelhos e deixou o silêncio tomar conta da situação por uns momentos.
— A culpa foi minha.
— A história não deve ser bem assim.
— É, é mesmo assim. Ela estava a chorar e eu peguei-lhe para lhe dar mimos ou sei lá, mas deixei-a cair... ela parou de chorar, então voltei a pô-la na cama. — parou mais uma vez e fungou — Mais tarde, a Sofia começou a chorar com fome e acharam estranho a Laura não chorar, porque tinham comido na mesma altura. E eu, sem saber o que se estava a passar, inocente como qualquer menino de três anos, disse o que tinha acontecido. Eu lembro-me que ele estava mais preocupado em bater-me do que em levá-la ao hospital... então quando eles saíram eu liguei à minha avó, ela veio buscar-me e levou-me sem ninguém saber. Depois contou-me que a Laura estava num sítio melhor — limpou as bochechas com as costas da mão direita — e que eu não tinha culpa, porque era uma criança e podia acontecer até a um adulto. Mas ele fez questão de me culpar a vida toda, nem sequer me deixava pegar na Sofia porque dizia que eu ia fazer-lhe o mesmo que fiz à Laura. Imagina. — escondeu a cara entre os braços e sentiu-a entrelaçar os dedos com os seus.
— Eu lamento. Mas... — ficou calada e ele percebeu que estava a pensar em qualquer coisa para lhe dizer — A tua avó tinha razão, não achas? Eras um niño¹, ninguém te devia cobrar nada.
— Ele tem razão, mesmo que neguemos.
— Não, Juan, ele não tem. Ele não pode culpar uma criança por um acidente, são coisas que acontecem a qualquer um. Só querias ajudar, qualquer irmão o faria! E até ele a podia ter deixado cair.
— Mas não foi ele! Fui eu. Fui eu que a deixei cair. — a González desembrulhou-o e deixou-o abraçá-la.
— Carregas peso a mais nas tuas costas, amor. — afagou-lhe as costas e depois os cabelos ondulados — Peso desnecessário. Não te culpes por isso, a sério, foi um acidente! — beijou-lhe a bochecha e envolveu-o, ele apertava-a e amassava a camisola grande dela entre as mãos enquanto chorava no seu ombro como um bebé — Eu sei... Eu não sei como te sentes, mas devias trabalhar para... expulsar essa culpa de ti, entendes? Eras uma criança e tenho a certeza que a Laura não te culparia, como a tua avó, como eu e como qualquer outra pessoa que tenha o mínimo de decência. Não deves importar-te com o que esse homem diz, nem ele nem os outros.
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Fiquei com um pedacinho teu
عاطفية[DUOLOGIA SARAH - 2] Sarah González foi o nome que Diego escolheu para dar à filha, como se fosse uma substituição da Sarah que perdera. A Sarinha vai viver aventuras, passar por problemas, namorar e com sorte viver um romance tão forte como o dos...