Ela só tem quatro anos
Sarah entendia que provavelmente seria a única criança naquela escola sem uma mãe, mas não percebia porque aqueles três meninos da primária tinham que usar isso para implicar consigo.
Ela era pequena, mas inteligente, entendia as coisas.
Já tinha perguntado ao pai porque não tinha mãe, como os coleguinhas, no meio de uma conversa que ela começou para pedir um irmão.
- Papá, eu quero perguntar-te uma coisa. - sentou-se ao lado dele no sofá e espionou o que ele estava a ver na televisão.
- Está bem, diz.
- Os meus coleguinhas todos têm um mano, porque é que eu não tenho um mano? Eu quero um mano!
- Amorzinho, - despenteou o próprio cabelo e sentou a filha no seu colo - os teus colegas têm pai e mãe, mas tu só tens pai... Eu não posso dar-te um mano.
- Porque é que eu não tenho uma mamã? - ela deslocou o olhar para a mão dele e agarrou os dedos grandes para brincar - Não é justo!
- Eu não esperava que este dia fosse chegar tão cedo. - falou mais para si e Sarah perguntou-se se teria dito algo de errado, ele nunca falava sobre aquilo - A mãe... ela é uma estrelinha, tu sabes.
- Sim, uma estrelinha do céu.
- Pois, ela é a mais brilhante de todas, lembras-te? Aquela que brilha sempre muito quando vamos à janela falar com ela.
- Eu sei, mas porquê?
- Piolha... Se eu te explicar agora tu não vais perceber.
- Explica!
- Quando tu nasceste... a mãe tornou-se uma estrela, sabes? Ela foi para o céu, porque lá ela pode brilhar e iluminar as nossas vidas.
- Então porque é que a mamã é uma estrelinha, mas as dos meus coleguinhas não são? A María e a Lena também não são estrelinhas e elas são mãe do Lorenzo e do Carlos.
- Porque a tua é especial.
- Ah, está bem. - o silêncio espalhou-se por ali por poucos segundos - Eu posso fazer outra pergunta?
- Podes.
- Tu eras namorado da mamã? Como o Gonzalo e o Nico, eles também são namorados, não é? - Diego riu-se e abanou com a cabeça, logo depois mostrou o anel que tinha no dedo, igual ao que dera à Lee no próprio funeral - E tu tens saudades dela?
- Muitas, mesmo muitas. - ela viu os olhos grandes do homem ao seu lado encherem de lágrimas enquanto este se tentava distrair com a bainha do seu vestido.
- Não queres falar sobre isso?
- Não.
- Está bem, então. - deu-lhe um beijo na bochecha e ficou ali com o pai a ver o filme que passava na televisão - Mas eu aún¹ quero um mano. - ele voltou a rir-se e abraçou-a.
Então qual era o problema da sua mãe ser uma estrelinha? Talvez os outros meninos tivessem inveja porque as suas não são.
Tudo começou no dia da família. As crianças tinham que levar alguém da família ou fotografias, uma árvore genealógica ou algo parecido, para apresentar aos colegas. Diego não estava disponível, então Sarah levou a sua árvore genealógica com fotografias.
- Estes são a minha mamã, ela é bonita, - apontou para a rapariga que sorria na fotografia do meio onde também estava o namorado - e o meu papá, ele também é bonito. Eles eram namorados, mas quando eu nasci a minha mamã virou uma estrelinha, então agora eu só tenho o meu papá, mas ele vale pelos dois. Eu gosto muito dele, porque ele brinca comigo, vê bonecos comigo e dá-me muitos miminhos. Antes, quando ele ainda estava na escola, ele tinha que estudar muito, mas mesmo assim ele dava-me colo e muitos beijinhos. Nós também temos a dona Flor, - apontou para a foto da senhora - que é como uma mãe e avó para mim e o meu papá, porque ela cuidava dele quando era pequenino e também cuida de mim quando o meu papá está a trabalhar. Este é o avô, que é o papá do meu papá. O primo Nicolás é primo do papá, ele é muito divertido. O primo Mark é primo da mamã e eu também gosto dele, mas ele vive muito longe. E este é o tio Gonzalo, ele é muito, muito amigo da mamã, por isso eu chamo-o de tio, ele também é o namorado do Nicolás, então também é meu primo.
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Fiquei com um pedacinho teu
Romance[DUOLOGIA SARAH - 2] Sarah González foi o nome que Diego escolheu para dar à filha, como se fosse uma substituição da Sarah que perdera. A Sarinha vai viver aventuras, passar por problemas, namorar e com sorte viver um romance tão forte como o dos...