Julio está no corredor, sozinho, guardando seus livros no armário. Coliseu se aproxima dele.
- Você vai querer uma carona hoje? Quer dizer, o seu amigo. É que eu já tô indo - fala.
- Obrigado, mas ele vai para mi casa hoy. Tu también pode vir, se quiseres - sorri.
- Valeu, mas eu acho que vou pra minha casa mesmo - coça a nuca.
- Tem certeza? - Julio o encara.
- Quem sabe outro dia? - sorri, indo embora.
Coliseu tem este nome, porque, segundo o que ele sabe, o seu pai era apaixonado por monumentos históricos. Seu pai, inclusive, gostaria de ter tido um terceiro filho, para colocar o nome de Taj Mahal. Ele sempre agradeceu por não ter sido o terceiro.
Ao chegar em casa, exausto, joga sua mochila no chão e se lança no sofá. Stonehenge, sua irmã mais nova, se encontra sentada em uma cadeira. O garoto usa os próprios pés para tirar seus sapatos.
- Credo, coloca um talco nisso - ela diz, torcendo o nariz.
- Nem tá tão ruim assim - resmunga.
- Como você quer conquistar a víbora fedendo desse jeito?
- Pelo meu charme. Pela minha beleza.
- Você não tem vergonha de ser um cachorrinho? Eu teria - balança os ombros.
Coliseu ri.
- Me falaram isso ontem - ele diz.
- Alguém sábio, provavelmente - suspira.
O rapaz fica pensativo por alguns minutos.
- Você já se sentiu como se você fosse duas pessoas diferentes? - pergunta.
- Não.
- É que hoje eu senti uma-
A mãe deles entra na sala, vindo da cozinha. Ela chega falando, cortando a conversa.
- Stonehenge, me ajuda a colocar a mesa? Seu pai vai chegar daqui a pouco. Coliseu, vai tomar um banho antes de jantar, e tira esse sapato do meio da sala. Coloca um talco nisso.
- Eu disse - sua irmã murmura.
Julio está usando um pijama folgado, estirado no sofá, com um joystick na mão. Ele e Matheus jogam um jogo de Fórmula1. Matt ainda está vestido com o uniforme da escola. Há dois baldes de pipoca no sofá, um deles vazio, o outro pela metade. O estofado tem algumas migalhas no assento. Duas garrafas de cerveja estão no chão, vazias. O piso tem vários Doritos e salgadinhos espalhados. A partida do jogo acaba. Julio coloca o joystick no braço do sofá, se levanta e vai até um frigobar, que também fica na sala, e volta trazendo mais duas cervejas, dando uma para Matheus.
- Acho que eu preciso ir. Se ficar muito tarde a minha mãe vai me ligar - dá um gole na bebida.
- Tu puedes dormir aí se quiser.
- Acho melhor não. Eu gostaria de ficar um pouco sozinho, no meu quarto. - suspira. - Você tem alguma maquiagem aí? Só pra eu esconder um pouco esse roxo.
- Tu no irá contar sobre o bullying para tu madre? - franze o cenho.
- Não.
- Pero-
- Amigo, eu sou bolsista. Se eu falar pra minha mãe, ela vai querer ir na escola. E eu posso perder a minha bolsa, caso eu me meta em alguma confusão com os donos daquela escola. Eu só quero ficar quieto, falta pouco pro ano letivo acabar - dispara.
- La escuela no tiene donos. Tu eres um estudante como todos los otros - diz.
- Não. Pro Óscar, e pro conselho, é muito mais fácil me tirarem de lá, do que tirar um aluno pagante.

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Dominó
Teen FictionUma morte ocorre durante um episódio de bullying quando um valentão tem a sua sexualidade exposta para a escola inteira. Após isto, todos precisam lidar com seus atos e as consequências deles, em um catastrófico efeito dominó, que não deixará uma ún...