Episódio 4 (pt.4)

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A garota, enraivada, agarra os cabelos da outra com força, arrastando-a para fora do lavabo. A joga no chão do corredor, mas a agressão não para. São tapas atrás de tapas, sem nenhum revide da outra parte. Os alunos logo formam uma roda para assistir ao espetáculo, alguns deles filmam. Wesley vem correndo, tentando atravessar a multidão, sentindo que algo de errado está acontecendo. A cena que ele vê é Isabela caída no chão, com Nayla sobre ela, a esbofeteando. Sem pestanejar ele vai para o centro da roda, agarrando a agressora e tirando-a de cima da outra moça.

– Me solta! É isso que essa puta merece! – esbravejava.

– Para com isso! Você ficou louca? – berra.

Nayla o encara, emputecida.

– Você é um verme. Vai defender a amante assim, na cara dura?

– Vamos resolver isso em outro lugar.

– Você não podia ter feito isso comigo. – seus olhos enchem de lágrimas. – Por quê, Wesley?

– Eu sinto muito, de verdade – lamenta.

– Não me venha com desculpas. Eu só quero saber o por quê.

– Isso é irrelevante agora.

– Você ama ela? – ele fica em silêncio. – Fala! Seja homem ao menos para dizer a verdade!

Wesley olha no fundo de seus olhos, suspirando com pesar.

– Eu amo – diz.

A garota sente um forte impacto no peito, junto com um gosto amargo na boca.

– Vocês também deveriam pular do terraço – fala.

Ela empurra o rapaz, e atravessa a multidão no corredor, para longe dali. Wesley flexiona os lábios, triste pela dor que causou. Se agacha junto a Isa, analisando o seu rosto arranhado. A ajuda a levantar.

– A festa já acabou, podem ir embora, porra – diz em alto tom para os alunos que estavam ali em volta.

– Eu vou pedir pro Óscar me liberar – murmura.

– Eu ajudo você.

– Não! – tenta se afastar. – A gente já causou problemas demais juntos. Só fica longe, tá?

A campainha tocava repetidas vezes, sem resposta. Ele bate os nós dos dedos contra a madeira escura da porta. Estava prestes a desistir, talvez não houvesse ninguém em casa. Mas então Isaac aparece, vestindo um pijama e com o cabelo desgrenhado. Nicolas observa.

– O que aconteceu? Você sumiu do nada. Tá tudo bem com você? – diz, entrando na sala.

Junto do sofá estão duas bolsas fechadas, com objetos volumosos dentro.

– O que são essas coisas? – torna a perguntar.

– Eu juntei todos os seus pertences que estavam aqui, pra você levar embora – sua voz está levemente rouca.

– Como assim?

– Não tem mais como eu fazer isso. É humanamente impossível.

– Fazer o quê? Do que você tá falando?

Isaac suspira, fechando a porta e se aproximando do sofá.

– Eu ficava tão entregue a você, que eu estava esquecendo de mim mesmo. Eu achava que eu podia lidar com tudo, porque eu te amava. Mas eu deveria ter caído fora no primeiro sinal vermelho – limpa o nariz com um lenço de papel.

– Eu sei, e eu tô tentando melhorar. Eu só preciso que alguém acredite que é possível.

– Nem você acredita em você mesmo. Eu estava disposto a fazer tudo por você. – a voz fica trêmula. – Até descobrir que você matou alguém pra esconder que é gay. Eu poderia ter lidado com absolutamente tudo, menos uma coisa dessas – seus olhos enchem de lágrimas.

DominóOnde histórias criam vida. Descubra agora