Episódio 5 (pt.1)

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O dia estava cinzento, ameno. Julio já vestia o seu uniforme da escola e estava quase na hora de sair. Finalmente sua campainha toca. Seu pai havia contratado um advogado para lhe representar legalmente na Confederação do Equador. Ainda não havia feito nenhum tipo de contato com o filho.

O homem é um pouco baixo, veste um terno azul marinho e carrega uma maleta. Vão até a cozinha, onde o garoto lhe serve um copo de água.

–  O senhor Fernando me pediu que procurasse você. – diz. – Não sei se já está ciente, mas todos os seus bens estão bloqueados. Você só irá conseguir realizar pagamentos com dinheiro vivo.

–  Lo sé – murmura.

–  Você pode vender algum dos seus carros. É provável que eles também sejam confiscados em pouco tempo. A sua casa também.

–  Eu voy ficar sin nada?

–  O seu pai já está cuidando disso. Mas de fato, ao que parece, todos os bens usados na lavagem de dinheiro serão apreendidos.

Julio bufa, irônico.

–  Mi padre me usava para lavar dinero?

–  Por favor, não haja como se o senhor não soubesse – pondera.

O advogado coloca sua maleta em cima da mesa, a abrindo. O colombiano endireita seu corpo ao ver todas aquelas notas.

–  Meu cliente me mandou entregar isso. Tem o equivalente a um milhão de euros, em cédulas de quinhentos. – fala. – Não deposite este dinheiro em lugar nenhum.

–  Cuándo eu voy poder ver mi padre? – pergunta.

–  Não sabemos. Mas você está mais seguro aqui do que na Colômbia.

O rapaz fecha a maleta sobre a mesa. Não fazia ideia de como seu pai havia conseguido lhe mandar aquilo.

–  Nos veremos de volta em breve, assim que o senhor Fernando me der novas instruções. Você gostaria de mandar algum recado?

–  No... – suspira.

Darcy e Coliseu se aproximaram muito frente aos últimos acontecimentos. Ela estava de fato começando a confiar nele, afinal era a única pessoa com quem podia conversar. Com tudo isto a moça deu-se conta de que nunca teve amigos, nunca havia se permitido ter. Em contrapartida, o menino parou com as chantagens contra ela. Sabia que chantagem era imoral, mas chantagear uma grávida parecia ainda pior.

–  São tantas coisas se passando pela minha cabeça, mas nenhuma delas diz que é a coisa certa a se fazer – desabafa.

–  Você está com dúvidas?

–  Muitas. E se eu ficar estéril ou, sei lá, morrer?

–  Vai ficar tudo bem. – fala. – Óscar vai com você?

–  Tá maluco? É óbvio que não. Já pensou na merda que daria se ele fosse visto numa clínica de aborto junto com uma adolescente? Pior, essa adolescente é filha dos ativistas conservadores. – passa as mãos no rosto. – Seria literalmente o meu fim.

–  Então você vai estar sozinha? – franze o cenho. – Quando você vai na clínica?

–  Hoje de tarde, umas duas horas.

–  Eu vou com você, pelo menos você vai ter uma mão pra segurar.

Darcy sorri gentilmente para ele.

Isabela passa pelo corredor, de cabeça baixa.

–  Não acredito que essa vadia teve coragem de aparecer – uma aluna diz para outra.

DominóOnde histórias criam vida. Descubra agora