Episódio 2 (pt.4)

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– Qual o motivo dessa reunião? – pergunta, com a voz grossa.

– Bom, o senhor já foi informado sobre o incidente envolvendo o seu filho e um outro garoto, certo? Infelizmente o outro aluno faleceu.

– Sim, foi terrível esse acidente. Mas o meu filho não teve nada a ver com isso, o menino tropeçou e caiu. Acontece.

– É. Mas também temos outro problema. – Nicolas fica o tempo todo de cabeça baixa. – Há uma foto que foi divulgada, em que o seu filho aparece em uma situação íntima com um outro rapaz, nas dependências da escola...

Óscar pega seu celular, o entregando para Marcus. A foto está exibida na tela do aparelho.

O pai solta uma risada irônica ao ver aquilo, jogando o telefone em cima da mesa.

– Isso é claramente uma montagem. Estão querendo difamar o meu filho nesse colégio. Como não conseguiram com o acidente, agora vão tentar dizer que ele é veado. Ele não é. O meu filho é homem. – Marcus olha para o garoto. – Não é? Fala pra ele que essa foto é falsa.

Nick, que até então está em silêncio, de ombros encolhidos, ensaia algumas palavras.

– É. A foto é falsa. Eu nunca fiz isso – fala, encarando suas mãos sobre o colo.

– Levanta a cabeça, como um homem. Você não fez nada de errado. Estão querendo difamar você.

Obedece, erguendo seu olhar.

– É verdade, diretor. Não sou eu na foto, é uma montagem – consegue dizer, trêmulo.

– Não se esqueça, Óscar, que o seu dever é proteger os alunos nesta escola. E eu espero que o meu filho seja muito bem protegido contra essas pessoas que estão querendo o mal dele.

– Eu não vou esquecer. – sorri, falso. – Acho que encerramos este assunto por aqui. Eu acompanho vocês até a porta.

E assim o faz, se levantando e os guiando até a saída, fechando a porta e soltando alguns palavrões assim que eles saem.

Marcus vai para casa, e Nicolas para a sala de aula. Porém ao chegar, ele se depara com vários estudantes segurando cartazes. O professor tenta convencê-los a se sentar direito, mas os mesmos se negam. Há pelo menos umas cinco cartolinas diferentes, escritas com palavras de ordem, ou com acusações, chamando o rapaz de assassino e pedindo justiça por Matheus.

– Eu entendo, mas vamos tentar resolver de outra forma – o professor dizia.

– Eu não vou assistir mais nenhuma aula com ele – falava uma aluna.

– A gente quer que ele seja expulso! – bradava outro.

Nick encolhe os ombros, abaixa a cabeça e tenta ir se sentar no seu lugar, mas os alunos se colocam na frente dele.

– Você não vai ficar no mesmo lugar que a gente.

– Eu vou chamar o diretor – o professor coloca as mãos na cabeça, deixando o ambiente.

Ele chega na direção, falando assim que entra:

– Óscar, nós temos um problema. Os alunos estão protestando, não querem que Nicolas assista a aula com eles.

– Ai, meu cu – bate com a mão fechada na mesa, estressado.

– O que a gente faz?

– Sei lá, porra. Fala que eu morri! Vai!

Na sala, o clima começa a esquentar. Nick é empurrado de um lado para o outro. Alguém puxa sua gravata, outro bate em sua cabeça. Eis que, de repente, um copo de isopor, cheio de refrigerante, atinge seu rosto, o deixando completamente sujo e humilhado. Julio, que até então está sentado junto a parede e não participava do ato, se levanta, indo para frente dos alunos, e arrastando Nicolas para fora da sala, o segurando até o banheiro. Eles entram. O colombiano arranca a placa que ainda estava presa em suas costas.

DominóOnde histórias criam vida. Descubra agora