Olívia bate na porta da diretoria antes de colocar a cabeça para dentro. Vê Óscar a encarando por detrás do birô, não parece bem humorado. A moça entra por completo na sala, sentindo-se levemente intimidada.
- Você vai falar o que quer ou vai ficar aí com essa cara? - dispara.
- Hã, desculpa... - se aproxima. - Eu queria, na verdade, pedir que o senhor organizasse a minha transferência.
- Você também, é? - revira os olhos. - Qual o motivo?
A jovem pigarreia.
- Bom, eu acredito que eu não vou me sentir muito confortável em permanecer estudando aqui no colégio - diz.
Franze o cenho, irritado.
- Você tem ciência de que não existe transferência entre escolas particulares para alunos bolsistas, não é? Se você sair daqui, irá para um colégio público. - fala. - Aliás, você sabe quantas pessoas dariam o sangue para ter uma bolsa integral nessa merda? E você quer simplesmente dar o fora. Eu tenho cara de idiota, garota?
- Não, senhor - o tom de voz é baixo
- É, foi o que eu pensei. - rosna. - Eu irei preparar a sua transferência, senhorita, mas saiba que você nunca mais vai estudar em um colégio como este. - tira seu óculos do rosto, colocando em cima da mesa. - Se não quiser, não precisa nem assistir as próximas aulas, pegue suas coisas e vá embora. Ou aguarde até eu lhe entregar a transferência, que se foda. Agora saia da minha sala.
Não responde nada, apenas vira seu corpo e sai, encarando o chão. Vai até seu armário, talvez devesse mesmo ir embora logo, lhe pouparia mais dor de cabeça. Abre a porta de ferro pegando seus pertences aos poucos e colocando-os dentro da mochila. Não caberia tudo, mas era possível levar os livros na mão, embora fossem pesados. Valentin chega mais perto, curioso, tentando agir como se não quisesse nada.
- Bom dia - diz ao parar a seu lado.
- Bom dia - resmunga de volta.
O rapaz a observa esvaziar o armário.
- O que você tá fazendo? - sorri, confuso.
- Eu pedi transferência, tô saindo da escola.
Pisca os olhos depressa, se esforçando para captar a informação.
- Pera aí, quê?!
- É. - suspira. - Vou cair fora. Não dá pra ficar aqui nessas condições. Você não sabe o inferno que é isso.
- Não, calma... Você não pode ir embora - fala.
- Ai, Valentin, hoje não. Eu só quero ficar em paz - bufa.
- Olívia, é sério, você não pode ir embora - reforça.
- Por quê? O que eu ganho ficando aqui? Eu não tenho que ficar só pra poder provar alguma coisa.
- Você não tá pensando direito.
- E quem é você pra decidir isso? - é um pouco ríspida. - Só me deixa sozinha.
Roberto começa a assistir aquela discussão, até que decide intervir também.
- Tá tudo certo aí? Ele tá te incomodando, amor? - murmura.
- Meu deus, sai daqui você também - revira os olhos sem nem encará-lo.
- Amor?! Que porra é essa? - franze o cenho.
- Ué, cara, achei que não tivesse problemas pra você, já que vocês terminaram mesmo - dá de ombros.
- Você nem faz o estilo dela, porra - seu tom está severo.
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Dominó
Ficção AdolescenteUma morte ocorre durante um episódio de bullying quando um valentão tem a sua sexualidade exposta para a escola inteira. Após isto, todos precisam lidar com seus atos e as consequências deles, em um catastrófico efeito dominó, que não deixará uma ún...