Capítulo 21

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-Onde vais assim, toda catita?- dona Chloe perguntou, olhando para mim de alto a baixo. Rir foi inevitável.

A mulher invadiu o meu quarto e parou atrás de mim, observando com um sorriso enorme o delineado simples que eu fazia. Os braços cruzados sob o peito faziam seus peitos saltarem pelo decote da blusa do pijama de cetim que usava.

-"Catita", mãe? A sério? Em que século é que estás?

-Não te rias, era um termo muito utilizado na minha época.- deu meia volta e entrou no meu closet.

-Ah, pois. Às vezes esqueço-me que estás a caminho de estar viva a meio século.- fechei a embalagem do rímel e fui ter com ela.- O que procura, Srta. Hobbs?

-Primeiro, vai para a puta que te pariu, menina. Ninguém olha para esse corpo e diz que eu farei 43 anos. Ainda estou mais nova do que tu, linda.- lançou-me um beijinho no ar. Eu concordei, minha mãe é tudo o que muita gente queria ser: jovial, gostosa, feliz e rica.- Segundo, procuro aquela tua saia, que compraste há dias.

-Qual delas?- caminhei até a gaveta onde eu guardava as saias, oposta às prateleiras nas quais ela procurava.

-Uma azul escura, com um corte diagonal e fenda na perna esquerda.

-Hm, aqui está.- estendi-lhe e empurrei a gaveta com a anca.- Vou levar a Chloe e a Carol para um dia de meninas. Estou com tantas saudades das minhas pequenas, mãe.- agachei-me para pegar os tênis e voltei para o quarto.

-Eu também.- ela fez um biquinho.- Quem me dera poder ir convosco, mas já tenho planos com o teu pai.

-E onde vão dessa vez, num domingo, às 9h da manhã? Não era suposto estarmos todos juntos hoje, por estas horas?

-A tua irmã nem dormiu cá em casa, tu estás a rondar a casa há horas por isso demos logo conta que ias sair, então o teu pai e eu decidimos ter um dia só nosso. Vamos à um resort, ter um dia de casal. Ainda bem que tenho a depilação em dia.- a careta de desgosto veio instantaneamente, acompanhada da gargalhada da minha mãe.

-Informação a mais mulher, informação a mais.

-Como se já não soubesses que esse "dia de casal" é um eufemismo para "passar a tarde a foder como coelhos".- meu pai falou, cruzando a porta.- Bom dia, meu amor.

O homem apertou-me as bochechas e deu uma beijoca bem audível na minha testa. Abraçou a sua mulher pelas costas e depositou vários beijinhos em seus ombros, sussurando algo que eu espero que ele tenha tido a intenção de ser inaudível e que eu ter ouvido tenha sido só um erro sistemático.

-Se deixares-me a espera tanto tempo era uma estratégia para escapares, não resultou. Esse pau continua duro e pronto para se enterrar em ti, vou foder-te até implorares-me para parar, little bunny.

-Pelo amor de Deus! Saiam daqui, agora!- levantei-me, cheia de repulsa, e apontei para a porta. Quase caí pisando nos atacadores soltos mas nem liguei, empurrei-os para fora do meu quarto.- Que tortura! Essa sim é uma boa maneira de me mandarem de volta para a terapia, seus promíscuos repugnantes!

Os dois audaciosos gargalhavam da minha indignação. Eles são casados e eu sei que eles vivem a vida a foderem-se a torto e a direito, mas ouvi-lo dessa forma deu-me voltas ao estômago.

Terminei de me arrumar e dei uma última conferida ao espelho. Vestidinho solto branco com mangas bufantes e costas nuas que vai até o meio das coxas, Air Force brancos, coque alto e gloss e delineadozinho. De acessórios, só brincos de ouro pequenos e o meu colar. Peguei na bolsa que preparei mais cedo e conferi a minha "Girl's day: to do list" nas notas do telemóvel. Emma ligou para mim no mesmo instante.

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