Capítulo 14

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-E que tal esse?- Emma aponta para um vestido branco, estilo princesa, com uma saia enorme toda trabalhada nos folhos.

-Eu não gostei muito...- murmurei em resposta, entendiada, e me joguei na primeira poltrona livre que apareceu.

Hoje é quinta-feira, estamos a dois dias do "jantar intimista" da mãe dela, que afinal terá 500 convidados. Só ontem ela me disse que a mãe dela é a Nicole McGarret, ícone cinematográfica atemporal, e que por isso o tal jantar será um puta evento regado de media. O dress code é overkill, seja na cor, no modelo, nos acessórios, penteado ou maquiagem, o objectivo é exagerar. Como não tenho nada que faça jus à isso no meu armário, decidi aceitar o convite das meninas e vim com elas às compras. Baldámo-nos às aulas e estamos aqui desde às 9h. Deixamos dona Chloe, dona Nicole e a Camila dentro do ateliê da Pnina Tornay, que ficou de fazer o vestido da aniversariante, eu e Emma viemos em busca dos nossos. Já passamos por seis lojas, eu escolhi o meu há duas lojas, já a indecisa da Emma...

-Hm... E esse?- ela apontou para um vestidinho verde que era impossível aquilo conseguir cobrir-lhe os peitos e a bunda ao mesmo tempo. Lhe lancei um olhar entediado, erguendo uma sobrancelha.- Okay, entendi.

Me levantei e passei a acompanhar de perto o processo de seleção. Demos umas quinhentas voltas, ela experimentou uns dois vestidos e acabou por escolher nenhum.

Saímos da loja e caminhamos por mais alguns corredores do shopping, até Emma dar o seu gritinho que indica satisfação extrema, sorrindo imensamente e saltitando que nem louca.

-É ESSEEEEE!- ela berrou repetidamente, batendo palmas e gargalhando. Todo aquele escândalo chamou atenção às pessoas, que passaram a encarar minha amiga. Emma não se importou, e continuou seu showzinho de criança que encontrou o brinquedo dos sonhos. Eu só sorri, a observando.

Fui arrastada pra dentro da loja, e me sentei numa das poltronas diante dos provadores enquanto Emma foi experimentar o vestido.

-Aceita?- uma mulher me estendeu uma taça de champanhe, que eu recebi de bom grado.

Enquanto bebericava a bebida, meu telemóvel vibrou, John Decker brilhando na tela.

-Alô?

-Oi Emilly. Precisamos conversar.

-É sobre domingo? Se for, não te preocupes, já tenho tudo sobre controlo. Quase tudo.

-Não é sobre isso, e se for possível, gostaria que nos encontrassemos pessoalmente.- a mulher voltou com uma bandeja recheada dos mais variadíssimos canapés. Provei um e arregalei os olhos para a mulher, espantada com o sabor. Coloquei alguns no guardanapo de papel e dispensei-a com um agradecimento.- Pode passar lá nas meninas por volta das 19h?

Afasto ligeiramente o telemovél da orelha, só pra constatar as horas, 17h32.

-Aham, estarei lá.- nesse instante, Emma abriu as cortinas do provador da forma mais dramática que conseguiu desfilando até ao degrauzinho no centro, entre a parede de espelhos e o sofá.- Falamos depois, bye bye.

Desliguei, sem aguardar resposta. A imagem de Emma naquele vestido gigantesco branco com ornamentos dourados se tornou na minha mais nova devoção. Estava extasiada com a visão. O decote em V deixou-a no limiar entre o conservadora demais e o demasiado exposto, a cor em perfeito contraste com a sua negritude.

-Entãaao, o que achaste?- Emma virou-se pra mim com um sorriso frouxo, que rapidamente se tornou em uma gargalhada ao me ver com a boca aberta.-  Deduzo que seja um sim.

Seus olhos assimétricos  encaravam os meus, na expectativa. Bonita? Elegante? Linda? São meros eufemismos diante do que ela é e está nesse momento.

SomedayOnde histórias criam vida. Descubra agora