Capítulo 1

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Gwyneth B.

Havia quase uma semana desde a mudança para a minha nova casa e eu ainda não havia desempacotado sequer uma caixa de utensílios de cozinha. Eu até poderia ter feito metade do serviço se minhas costas não estivessem me matando a paulada. Não deveria ter me rendido à compulsão de fazer compras online, isso teria me poupado das incontáveis caixas recheadas de coisas (quase) inúteis para desempacotar e das faturas altíssimas do cartão de crédito.

Minha rotina não era exaustiva como a da maioria, era até tranquila, para falar a verdade. Meu trabalho no escritório como analista de sistemas não era ruim, no entanto ficar sentada por horas a fio digitando códigos, relatórios e e-mails custaram a jovialidade da minha coluna. Dos meus olhos também, já que a luz artificial das telas me causavam dores de cabeça frequentes.

Faziam seis meses desde que cheguei nesta cidade à trabalho, desde então já havia mudado de casa duas vezes contando com esta. Eu não me importava de estar longe da minha família, até porque ela se resumia apenas à minha mãe, e nós não tínhamos a melhor das relações desde que Catrin, minha irmã gêmea, faleceu. O que era realmente difícil era estar longe das minhas únicas amigas, Nestha e Emerie. Nós não estávamos tão próximas ultimamente devido às nossas rotinas individuais, eu estar em outra cidade e também o fato de as duas estarem em relacionamentos amorosos, diferente de mim, que estava encalhada desde a faculdade. Todos os encontros que tive desde que cheguei a Velaris me levaram apenas a desperdício de tempo e dinheiro, nunca imaginaria que minha vida adulta seria tão monótona, principalmente depois da mudança de cidade em busca de novos ares e melhores oportunidades, que doce ilusão.

Dirigi-me até minha nova cozinha na qual eu ainda estava me acostumando, o piso de madeira rangia de leve sob os meus pés descalços. A casa tinha uma arquitetura antiga, e eu não era fã de casas com cara de que haviam sido construídas no século passado, mas essa em específico tinha algo que me chamava atenção. A residência parecia ter personalidade própria, as madeiras polidas dos móveis e portas, ainda que simples, tinham uma certa elegância a olhos atentos como os meus. Abri o armário e tirei de lá uma garrafa de vinho tinto suave, meu favorito, isso com certeza me ajudaria a relaxar e talvez me desse coragem para começar a desempacotar algumas caixas de papelão. Tomei alguns goles do líquido roxo direto da garrafa sentindo a garganta protestar contra o leve ardor que ele causou, eu amava a leve queimação do álcool e o calor aliviante que ele trazia para o meu corpo tenso.

Minha consciência cansada do martírio da procrastinação juntamente com o vinho pareceram me encorajar a desempacotar mais algumas caixas e organizar alguns objetos de maior precisão. Deixei a garrafa de vinho no balcão da cozinha e fui em direção ao corredor. As paredes brancas contrastavam com as portas, piso e janelas de madeira marrom. Tudo era recém pintado, reformado para que pudesse ser alugado, tão recente que ainda era possível sentir o cheiro do verniz. Cheguei ao cômodo ao lado do meu quarto onde estava guardando toda a pilha de caixas e caixotes lotados de tralhas, roupas e utensílios, amarrei meus cabelos em um coque devido ao calor que o vinho já estava proporcionando em apenas alguns goles e comecei a separar as coisas em seções. A primeira caixa que abri foi a dos cadernos e projetos do trabalho na esperança de conseguir achar a minha agenda que estava perdida desde que me mudei. Minha rotina estava um caos devido ao sumiço do pequeno caderno azul, tudo de mais importante em relação ao meu trabalho e vida financeira estava ali, os horários das reuniões, os prazos de entrega dos relatórios, meu controle de gastos, tudo.

E quanto mais eu procurava, mais coisas inúteis encontrava, até minha coleção de mini Pegasus que ganhei aos oito anos estava no meio das tralhas, mas não havia sequer uma sombra da minha bendita agenda. Um leve sorriso correu meus lábios quando peguei o pequeno Pégaso branco. Certo, talvez minha coleção de mini Pegasus não seja inútil, eles foram uma companhia agradável por muitos anos em todas as aventuras no quintal de casa e chazinhos da tarde. Afaguei o cabelo turquesa de Lessie, a minha Pégaso favorita da coleção, seu pequeno rosto tinha pequenas manchas devido ao passar dos anos, mas mesmo assim Lessie ainda tinha o doce cheiro de morangos frescos.

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora