Capítulo 15

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Gwyneth B.

Diferente do que nós humanos acreditamos, o Inferno não fica embaixo da terra, e o céu também não fica acima de nossas cabeças. Terra, Céu e Inferno coexistem, mas em dimensões diferentes. Deus é real, Lúcifer foi real, Demônios são reais, e até mesmo os Anjos são reais, tudo o que eu me recusava a acreditar que existia era cem por cento real. Cada página que eu passava para o lado me trazia uma enxurrada de conhecimentos inimagináveis sobre o universo à minha volta e suas origens, cada frase respondia perguntas que eu tinha comigo desde a adolescência, a sensação poderia ser descrita como a de usar óculos pela primeira vez após uma vida sem saber que era míope.

Anjos são imortais, soldados de Deus, Demônios são seres individualistas, governam o próprio mundo, e nós humanos estamos no meio disso tudo, completamente alheios ao que existe ao nosso redor. No final das contas o cristianismo não estava tão errado assim, toda aquela história sobre rebelião e anjos caídos era real. Lúcifer era um anjo, que fez aliados e se rebelou contra seu criador, e como punição esses anjos perderam sua imortalidade, sendo expulsos do paraíso, e por fim povoando o Inferno, dando origem a uma nova espécie. Para minha surpresa, os Demônios não têm ódio de Deus, na realidade são gratos pela sua misericórdia, pois poderia muito bem tê-los matado devido à rebelião, mas ao invés disso mostrou a eles misericórdia e permitiu que vivessem da forma como queriam em um lugar só deles.

Pelo que li, humanos não podem ir ao Inferno, não sem magia, e mesmo que com a ajuda de um ser mágico chegassem lá, não durariam sequer um segundo, já que a temperatura e gravidade são muito diferentes da nossa. O mesmo vale para o Céu. Aprendi também sobre a hierarquia do Inferno, sobre os tipos de Demônios existentes, caracterizados pelo seu tipo de poder e elemento que dominam, no caso de Azriel eram as sombras, mas também haviam Demônios do ar, do fogo e até mesmo da água.

E apesar de todas as informações que absorvi sobre o Inferno através da leitura das mais de seiscentas páginas, o que mais me chamou atenção foram as citações sobre o elemento sagrado: O fogo. Em todos os capítulos o fogo era citado, venerado como elemento matriz, o que deu origem a tudo que existe no Inferno, e, portanto, sagrado para todos os Demônios. O que para nós queima e destrói, para eles purifica e traz a vida, e esse é um dos maiores motivos de humanos e Demônios serem como água e vinho, porque diferem desde a sua criação.

Mesmo tendo aprendido muita coisa ao longo da leitura extensa, não houve nem sinal de mais informações sobre a marca em mais da metade do escrito, será que a velha me deu o livro certo? Eu estava quase completando-o, só faltava o último capítulo chamado de "Equivalent Flamma", que provavelmente também falava sobre a relação dos Demônios com o fogo, já que "flamma" significa "chama", algo que aprendi passando mais de oito horas de relógio traduzindo mais de seiscentas páginas do Latim com a ajuda do Google.

Já passava das três da madrugada, e eu não queria dormir, desejava terminar o livro o mais rápido possível porque estava curiosa e instigada demais para parar agora, mas meus olhos estavam decididos a desobedecer à ordem de permanecerem abertos, e eu sequer conseguia ler três frases sem ficar confusa ou acidentalmente dar de cara no livro de tanto cansaço. Sequer tinha tomado banho, estava com as mesmas roupas de quando fui até a biblioteca, o que era um pouco repugnante, então resolvi finalmente me dar por vencida, guardar o livro dentro do meu guarda-roupa e ir tomar um banho para dormir, eu terminaria o livro assim que acordasse pela manhã.


Azriel

Minhas sombras se dissiparam, liberando a visão do cômodo familiar no qual eu costumava frequentar todas as noites, mesmo quando não era convidado, e não foi diferente nesses últimos dias em que estive propositalmente ausente da vida de Gwyn. Minhas visitas, no entanto, não eram demoradas, e eu me certificava de ir embora antes do amanhecer para não cruzar mais linhas do que já cruzei. Eu juro que tentei ficar longe, me convencer de que seria melhor assim tanto para mim quanto para ela, mas o meu corpo simplesmente não obedecia, quando me dava por mim já estava aqui, parado em frente à sua porta, observando-a dormir como um cão de guarda. Eu precisava vê-la, só para checar se estava tudo bem, só para ter certeza de que ela estava segura, porque só assim eu poderia encontrar um pouco de paz.

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora