Capítulo 22

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Eu sei, eu sumi, podem jogar tomates podres, eu mereço.





Gwyneth B.


Os nós de meus dedos reclamavam do peso das sacolas, mas só alguns passos e eu chegaria até o meu carro. Felizmente havia achado uma vaga livre próxima ao supermercado, o que não era muito comum no horário de pico da cidade. Abri o porta-malas acionando o botão e lá dentro coloquei as compras que havia feito.

Minha casa não ficava muito longe dali, então não demorou para que eu chegasse no meu quarteirão. E assim que cheguei, estacionei meu carro e repeti o processo de pegar as sacolas pesadas, desta vez para levá-las para dentro de casa. Tirei as chaves da bolsa e girei na fechadura, esperando ouvir o habitual som de "clique" de destrave, no entanto, aquele som não veio.

Mirei a fechadura com as sobrancelhas franzidas. Aquilo nunca havia acontecido antes. Será que já era a hora de trocar aquela fechadura? Acho que não, eu mesma havia comprado aquela por achar a antiga feia, não poderia já estar quebrada.

Não, aquilo não estava quebrado.

Girei novamente a chave no buraco, com a esperança de ouvir finalmente o clique e... nada. O que só poderia significar uma coisa: a minha porta já estava destrancada.

Engoli em seco. Eu tinha certeza de que havia trancado a porta de casa antes de sair, sempre fui paranoica demais, principalmente depois do ocorrido com os três homens, para não me certificar de que a tranca estivesse realmente travava.

Foi então que o pensamento me ocorreu. Azriel. Aquilo só poderia ser obra Azriel tentando me pregar uma peça. Bufei de forma audível, tendo certeza de que estava sendo ouvida por ele do outro lado da porta.

— Isso não tem graça, Azriel. — Disse antes de girar a maçaneta e entrar em casa para colocar as compras no balcão.

Estava começando a entrar no meu período pré-menstrual, ou seja, zero paciência para brincadeirinhas idiotas. Ao deixar as compras no balcão, me virei de costas para trancar a porta, dando o máximo de voltas possíveis, como sempre. Só para garantir. Mas quando me virei novamente para a cozinha, não foi o rosto de Azriel que vi me encarando de volta.

Minha espinha gelou como uma nevasca quando dei de cara com uma idosa parada em frente ao meu corredor. Tentei gritar, mas minha voz não saia da garganta, tentei correr, mas minhas pernas não obedeciam. Fiquei paralisada, tentando decifrar o que via a minha frente. Seria aquilo um espírito obsessor ou minha mente estava me pregando uma peça?

Ela me olhou de cima a baixo, mantendo as mãos atrás das costas enquanto minha alma ainda voltava para o corpo com o susto que levei.

Ei, espere um pouco... Estreitei os olhos. Óculos arredondados, pele branca e enrugada como uma roupa que havia acabado de sair de uma garrafa, baixa estatura, feição rabugenta. Eu conheço essa velha.

— Olá, menina — sua voz de timbre instável cortou o silêncio entre nós.

Sim, era ela. A bibliotecária que havia me emprestado o livro sobre demonologia semanas atrás. Fechei os olhos, inspirando com força enquanto o alívio preenchia meus pulmões. Não era uma assombração, apenas uma idosa inofensiva — aficionada por demonologia, mas ainda assim inofensiva. Eu acho.

— O-oi. — Engoli em seco. — O que está fazendo na minha casa? — Sorri amarelo, tentando disfarçar todo o meu desconforto com sua presença.

A expressão da velha permaneceu imperturbada. Sorri novamente, tentando diminuir a tensão entre nós e continuei:

— Como a senhora conseguiu entrar?

Não tinha como aquela mulher ter entrado na minha casa sem ter arrombado violentamente a porta — o que estava claro que não fora o caso —, ou forçado as janelas. A julgar pela estatura baixa e pelas pelancas no lugar dos músculos, duvidava muito que ela sequer tivesse altura e força para empurrar as janelas de madeira grossa. A não ser que tivesse tido ajuda para isso. Mas ainda assim, o que ela estava fazendo na minha casa?!

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora