Capítulo 13

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Azriel

Meu coração estava acelerado, e pela primeira vez em séculos, não era de cansaço, mas sim de pânico. Não atravessei de volta para as redondezas da minha casa, não queria ter que lidar com as pessoas que encontraria por lá, com a curiosidade dos rostos conhecidos ao me verem num estado alterado, principalmente Rhys e Cassian, que me encheriam de perguntas a respeito do motivo de eu estar tão nervoso. Eu normalmente não recorria à ajuda de ninguém para nada que eu precisava na vida, mas neste caso foi necessário afogar meu orgulho de Demônio e reconhecer que estava desesperado e precisando de ajuda, e para minha sorte, eu sabia exatamente a quem recorrer, e apesar de poder chegar ao lugar em segundos atravessando, decidi voar até lá, porque assim eu poderia tomar um pouco de ar no caminho.

O enorme par de asas de morcego se revelou atrás de mim, e eu as estiquei o mais largo que consegui, alongando-as antes de usá-las. O vento da noite eterna do Inferno soprou os fios de cabelo para longe da minha testa quando levantei voo com um único bater de asas, levando-me para longe do solo em instantes. Voei alto e com determinação por cima das casas iluminadas. O meu reino era rodeado de montanhas, e era exatamente em direção a uma delas que eu estava voando, a mais alta das redondezas, que abrigava um lugar sagrado e escondido em seu interior.

Assim que pousei, caminhei para dentro do templo construído dentro da montanha, o tapete extenso e de cor carmesim dando um ar ainda mais rústico ao lugar. Haviam incontáveis candelabros espalhados por cada uma das esquinas e curvas, mulheres vestidas com mantos pretos e vermelhos transitavam silenciosamente pelos corredores iluminados apenas pela chama das velas. Eram as sacerdotisas, as melhores feiticeiras do nosso mundo, estudiosas e conhecedoras de magias mais antigas que o próprio Inferno.

Ela estava de costas quando entrei na sua sala reservada, que era iluminada por magia ao invés de velas. As paredes do cômodo eram ofuscadas por fileiras de prateleiras que abrigavam mais livros do que eu poderia contar, alguns deles tão velhos quanto o próprio universo. A mulher não se virou para me cumprimentar, invés disso, o familiar pedaço de papel amarelado acompanhado por uma caneta de tinteiro preta e com detalhes de ouro flutuaram até mim, pairando à minha frente antes de se pôr a marcar o papel com tinta fresca.

"Olá, Azriel."

— Olá, Clotho.

A sacerdotisa finalmente se virou para mim, seu capuz vermelho rubro cobrindo completamente a sua face, deixando no lugar de seu rosto um breu absoluto.

"Qual foi a encrenca que se meteu desta vez? Rhysand e Cassian também estão envolvidos nisso?"

Bufei uma risada, balançando a cabeça em negativa. Mesmo que nunca tivesse ouvido sua voz, eu sabia exatamente quando a mulher estava usando sua ironia implícita nas entrelinhas. Clotho era mais velha que eu, Rhys e Cas juntos, e já nos livrou de muitas encrencas quando éramos apenas moleques, já que era aqui que procurávamos socorro quando fazíamos alguma merda, como na vez em que acidentalmente envenenamos Rhysand com um elixir que prometia aumentar a o tamanho da envergadura das asas.

— Preciso de ajuda — respondi com mais seriedade, ela sabia que eu não estava aqui por qualquer bobagem infantil desta vez.

A frase anterior sumiu do papel, e a caneta pôs-se a trabalhar outra vez.

"Eu sei porque está aqui, garoto."

Arqueei as sobrancelhas, desconfiado. A caneta continuou a escrever, e ela disse: Venha, deixe-me verificar o vínculo da Chama, não é por isso que está aqui?

Arregalei os olhos, não tinha como ela saber disso, ninguém sabia além de mim, nem mesmo Rhys e Cassian, eles sequer sabiam da existência de Gwyneth.

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora