Capítulo 12

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Gwyneth B.

Mordisquei a fatia de pão, olhos perdidos na decoração cafeteria, a mesma na qual eu havia ido naquela fatídica noite em que, se não fosse por Azriel, teria perdido a minha vida, a diferença é que estava no final da tarde, então o percurso era muito mais seguro. Talvez a cafeteria tenha se tornado meu ponto de reorganização de pensamentos sobre Azriel, já que era a segunda vez que eu vinha até aqui por conta dele. Só esperava que desta vez eu não estivesse sendo seguida.

Olhei ao redor, imaginando onde Az poderia estar se estivesse me seguindo outra vez. Atrás de mim? Na cadeira ao lado? Bem à minha frente? E se Azriel, na verdade, me seguisse o tempo inteiro? Eu jamais teria como saber, mas duvidava que ele fosse tão desocupado assim.

Deixei de lado meu pão com geleia para apoiar a cabeça sobre ambas as mãos, refletindo sobre o que poderia — ou não — ter acontecido na virada da madrugada para a manhã. Eu tinha tantas perguntas sem resposta, como acordei em minha cama? Azriel havia me colocado ali? E se sim, por que eu apaguei? Eu não senti em nenhum momento qualquer sensação de desmaio ou algo parecido, simplesmente desliguei como se a minha bateria tivesse se esgotado. E se eu caí no chão, o que não teria sido uma queda bonita, por que não havia sequer um hematoma em minha pele?

Nada fazia sentido, então era mais fácil realmente pensar que tudo havia sido apenas um sonho extremamente realista. No entanto, fora tudo tão real, tão palpável que impossibilitava a hipótese ser um sonho, a minha cabeça seria incapaz de reproduzir aquela sensação com tanta força, aquele sentimento caloroso em meu peito, o desejo incontrolável, o cheiro dele, o orgasmo... tudo. Acho que até mesmo os sonhos têm suas limitações, e saber disso era — muito — pior, já que isso significava que ele poderia ter me flagrado gemendo o nome dele.

Por pouco mais de três segundos me peguei seriamente cogitando a ideia de me converter ao cristianismo e me esconder de Azriel numa igreja pelo resto da minha vida, mas como poderia com esta porcaria de marca? A esta altura eu sequer sabia se eu poderia entrar numa igreja, a julgar pela quantidade de pecados que eu carregava, começando por me masturbar pensando em um Demônio. E mesmo que eu me escondesse em qualquer lugar do mundo, Azriel não precisaria fazer o mínimo esforço para me encontrar.

Bati a mão na testa tão forte que o estalo fez com que todos os clientes ao meu redor virassem em minha direção. Levantei a cabeça, notando os olhares de confusão e julgamento, principalmente da idosa sentada na mesa da frente. Era incrível a minha capacidade descomunal de me enfiar em situações constrangedoras.

— Foi um mosquito — menti, sorrindo sem graça, mas ela não pareceu nem um pouco convencida.

Engoli em seco, abaixando a cabeça novamente para evitar os olhares, que logo se dispersaram.

— O que eu faço? O que eu faço? — Sussurrei para mim mesma, baixo o bastante para ninguém ouvir.

Talvez a melhor estratégia fosse fingir demência e ensaiar na frente do espelho um sorriso que não entregasse a minha culpa no cartório.

*

Me dirigi ao espelho uma última vez para checar a minha aparência, vestia um vestido preto e justo de mangas longas, coturnos com saltos da mesma cor preta, e maquiagem com ar de saúde que nunca falhava em me deixar mais bonita. Os cabelos perfeitamente ondulados nas pontas, perfumada e bela, tudo em ordem, tudo minuciosamente preparado para me fingir de sonsa. Planejava surpreender Azriel hoje, não somente com a minha aparência, mas queria levá-lo a um lugar específico, um que gosto muito e que não faço ideia se existe no Inferno.

— Ok — respirei fundo e coloquei os dedos sobre a marca, dizendo seu nome em voz alta para conjurá-lo.

Azriel, como de costume, se materializou no mesmo instante em frente à minha porta, ele vestia roupas semelhantes às de costume, jeans, camiseta lisa e um fino cordão de prata que o deixava ainda mais atraente. Meu coração acelerou no mesmo segundo e eu engoli em seco para controlar o nervosismo de encará-lo, fazendo o possível para não deixar meus joelhos tremerem.

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora