Capítulo 4

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Gwyneth B.


Felizmente dormi um pouco mais do que eu esperava, apesar de ter ficado acordada por mais tempo do que gostaria durante a madrugada lendo tudo o que eu conseguia absorver sobre demonologia. No entanto, nada do que li condizia com o comportamento Azriel, e com a forma como ele havia me tratado ontem à noite. Ele não havia sido desagradável e muito menos violento como diziam os relatos que li. Não fazia sentido. Observei o lado esquerdo da minha cama ainda desforrado. Não poderia ter sido um delírio.

Busquei meu laptop para dar continuidade às assíduas pesquisas que fiz na madrugada, resolvendo optar desta vez pela busca de informações sobre promessas entre demônios e um humanos na esperança de entender melhor as intenções por trás dela. O site que entrei contava com desenhos macabros e figuras assombrosas ao lado de humanos, em sua maioria os demônios estavam em posição de dominação enquanto os da minha espécie eram retratados como servos. No entanto, todos os desenhos tinham algo em comum, o humano estava sempre com uma das mãos tocando o próprio pescoço com uma expressão exagerada de sofrimento.

Rolei a página para baixo em busca dos textos.

"A barganha entre um humano e um demônio deve ser realizada com o consentimento de ambas as partes, no entanto, só pode ser oferecida pelo ser sobrenatural, já que humanos não possuem magia para selar o acordo. É de extrema importância estar atento às condições da barganha, não se deve aceitar acordos que não deixem explícitos o período a qual aquela exigência se refere, ou a quantidade de vezes, caso contrário, você poderá acabar preso à barganha para sempre."

Barganha? Minha garganta oscilou. "Com uma condição. Qual a condição? Que volte." Ele não especificou quantas vezes eu precisaria voltar, e nem por quanto tempo.

"A única forma de finalizar o acordo é também com o consentimento de ambas as partes, o que é raro de acontecer, visto que demônios são seres movidos pelo egoísmo e não costumam se desfazer dos escravos humanos que ganham através de barganhas trapaceiras."

Escrava.

O ar fugiu de meus pulmões. Ele havia trapaceado, jogado sujo comigo. Eu estava presa àquilo, presa para sempre àquela barganha se ele assim desejasse.

"A barganha com um demônio é sinalizada através de um triângulo, que simboliza o fogo, elemento que os rege. A marca deve aparecer em poucos dias após o acordo ser fechado e fica localizada ao lado esquerdo do pescoço, tendo a aparência de uma pequena tatuagem preta em alto relevo."

Levei a mão imediatamente ao pescoço, sentindo lá uma pequena protuberância. Corri para o banheiro para confirmar visualmente o que eu achava que estava tocando.

— Droga! — Exclamei.

Tentei lavar a pele, esfregá-la com sabão e uma esponja de banho na tentativa falha de mandar aquilo embora, mas não adiantava, quanto mais eu esfregava mais minha pele ficava irritada, e mais evidente o triângulo preto se tornava.

Atirei a esponja no chão e olhei para frente, segurando as laterais da pia com força enquanto encarava meu próprio reflexo. Eu mataria aquele demônio trapaceiro se pudesse. E pensar que eu quase havia caído em sua enganação, toda aquela beleza e simpatia escondiam a podridão interior de seu ser. Eu não passava de uma humana burra para ele. Ele me queria como escrava, mas eu preferia a morte a ter que servi-lo.

Fui até a cozinha marchando em passos rápidos e decididos, segurando a marca com os dedos e xingando até a quarta geração daquele desgraçado. Parei em frente a gaveta de utensílios e tirei de lá de dentro a faca mais afiada que eu tinha. Eu não sabia bem o que iria fazer com aquilo, mas estava decidida a resistir caso ele tentasse me levar.

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora