Capítulo 17

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Azriel


Uma única lágrima de Gwyn — apenas isso —, foi o suficiente para me fazer mudar a minha cabeça completamente. Eu sabia desde o início que meu plano não daria certo, fui muito bem avisado por Clotho, que não me poupou de saber do mártir que seria negar a chama, e que em toda a história do Inferno, ninguém foi capaz de suportar isso. Me julguei forte o bastante para resistir aos impulsos e anseios do vínculo, tentei negá-lo, me controlar, e falhei miseravelmente. Não sei se acabei me superestimando, ou subestimando o poder da chama. Talvez os dois.

Essa era primeira vez que um plano meu não dava certo, provavelmente porque era um plano de merda e porque, conhecendo bem como funciona a chama equivalente, era um plano que estava fadado ao fracasso antes mesmo de ser posto em prática.

Eu me decidi na noite passada, não iria mais fugir como um covarde, não iria mais tentar me afastar dela, eu iria lutar por nós dois, pelo que tínhamos. Eu daria um jeito como sempre dou para tudo, um jeito de fazer funcionar, iria atrás de todas as sacerdotisas e feiticeiras do Inferno, de todos os feitiços e encantamentos existentes nos três mundos se preciso fosse, mas eu faria nosso vínculo funcionar, só não sabia como fazer isso ainda.

Precisava fazer dar certo porque me conheço o bastante para saber que eu não aguentaria ver Gwyneth com outro macho além de mim, eu arrancaria meus próprios olhos só para não ter que vê-la perto de outro, imagine vê-la se casar e ter filhos com um homem humano medíocre que não poderá sequer dar a ela o mínimo do que eu sou capaz de dá-la com a chama. Se Gwyn fosse se casar um dia, seria comigo, se fosse ser feliz, seria ao meu lado, se fosse ser amada, seria por mim, porque ninguém além de mim pode dar a ela o que precisa.

E mesmo que no futuro, quando finalmente contasse a ela sobre a chama, e por algum motivo ela acabasse por rejeitar a nossa ligação, eu jamais deixaria que outro macho sequer respirasse perto dela. Eu não a obrigaria a ficar comigo se ela não quisesse, mas mandaria para o limbo qualquer um que se aproximasse dela pelo resto da sua vida humana.

Era egoísta para caralho, eu sabia disso, não me orgulhava, mas era a verdade. Era assim o amor de um Demônio.

*

Eu sabia que não deveria estar em sua casa outra vez, Gwyneth havia sido bem clara em sua ordem ontem à noite quando me mandou ficar longe, no entanto, eu não tinha o mínimo interesse em acatar a sua ordem de restrição. Ela estava na cozinha quando cheguei, e me surpreendi ao ouvir sua voz, já que ela quase não falava quando estava sozinha, o que era uma pena, porque eu adorava ouvi-la falar. Silenciosamente me aproximei do cômodo em que ela estava, e a julgar pelo cheiro, comida estava sendo preparada.

— Não amiga, eu tô bem, eu juro — uma voz desconhecida falou ao telefone de Gwyn, que não estava no viva-voz, mas que ainda assim eu podia ouvir perfeitamente.

— Aham — disse outra voz feminina.

Era uma chamada de três pessoas onde Gwyneth estava falando com mais duas mulheres sobre o relacionamento, ou o ex relacionamento, de uma delas. Provavelmente do outro lado da linha estavam Nestha e Emerie, as duas amigas que ela costumava mencionar às vezes em nossas conversas.

— Emerie, fala a verdade, você tá bem mesmo? Ninguém supera um término tão rápido — A ruiva disse enquanto lambia uma colher com um pouco de molho, experimentando o próprio tempero.

Ela estava perfeita daquele jeito, top alaranjado com um short curto de pijama verde-escuro, que acentuava sua bunda perfeitamente arredondada. Um pano de prato estava por cima de seu ombro, seus cabelos amarrados em um rabo de cavalo e o celular no ouvido, sendo apoiado entre a orelha e o ombro para que não deixasse de cozinhar enquanto falava com suas amigas.

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora