Capítulo 10

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Só para avisar, lancei dois capítulos, esse e mais um, ou seja 10 e 11 :)

Gwyneth B.


O banheiro feminino, era para lá que eu ia todas as vezes em que eu precisava me recompor. Eu já era familiarizada a estas sensações, aos tremores, a palpitação e a boca seca, mas dessa vez era diferente. Mesmo que já tivéssemos nos resolvido quanto a isso, ainda  assim não conseguia parar de pensar em Azriel e nem de imaginar a cena de horror que ele havia protagonizado quando assassinou três pessoas a sangue frio. As imagens sangrentas que meu cérebro criava eram as piores possíveis, sangue nas mãos de Azriel, a provável frieza com que os matou, se ele havia gostado de tirar aquelas vidas, isso tudo fazia meu estômago revirar e se torcer.

Mas em meio a todo esse caos, havia outra ideia em minha mente ganhando cada vez mais força, a de que nada e nem ninguém poderia me tocar, porque Azriel jamais permitiria.

Isso não deveria ser aterrorizante, não? Sim, deveria, mas não era para mim. Eu não fazia ideia do quão tóxica alguém precisava ser para considerar a proteção excessiva de Azriel um fator tão atraente, por ficar satisfeita ao me imaginar com o status de mulher intocável, protegida por um Demônio que faria de tudo para mantê-la a salvo.

Eu podia negar, espernear e gritar com ele, mas no final de tudo eu queria sim a sua proteção, e não apenas isso, eu queria sua atenção, seus sorrisos, seus olhares, seu abraço, tudo. Eu queria tudo dele. Até mesmo o seu sarcasmo irritante.

— Que merda de confusão — apoiei as palmas no mármore da pia, evitando fitar meu próprio reflexo.

Saí do banheiro limpando as mãos recém lavadas na barra da saia preta. Não prestei atenção no caminho, e nem ao meu redor — já que meus pés conheciam de cor a altura de cada um dos degraus que compunham a escada que eu estava subindo  —, estava ocupada demais pensando em Azriel e em tudo que envolvia ele quando um par de mãos segurou forte os meus ombros, e em menos de meio segundo minha boca quase beijou os degraus de mármore. Soltei um grito mais de surpresa do que de desespero, e me virei na mesma hora, sentando-me na escada para encarar o dono do agarre.

— Está tudo bem? Ia ser uma queda e tanto — disse a voz familiar.

Era Adam, meu colega de setor.

— Está sim — ri um pouco, constrangida com a situação em que me encontrava —, obrigada.

Adam assentiu, seus cabelos louros caindo por cima dos olhos castanhos, em seguida estendeu a mão, ajudando-me a levantar.

— Eu sei que não é da minha conta, mas já faz um tempo que você anda meio... aérea. Tem certeza que está tudo bem, não é?

Devo admitir que a pergunta me pegou desprevenida, e tenho certeza de que ele pode ver claramente em meu semblante. Eu nunca havia olhado para Adam por mais que meio segundo, e fiquei sem reação ao saber que ele me observava tanto ao ponto de perceber uma mudança em meu comportamento.

— Sim, claro! Estou ótima, eu só tive umas... hum, questões pessoais, mas nada sério — gesticulei com as mãos, tentando parecer o mais confortável possível.

Nada sério, só um demônio que me visitava todos os dias e que havia assassinado três pessoas apenas para me "proteger". Adam não me pareceu muito convencido, mas agradeci mentalmente quando ele não fez mais perguntas, apenas acenou com a cabeça.

— Sabe, se algum dia você precisar conversar ou apenas de um ombro amigo... — ele não completou, mas eu entendi exatamente o que ele quis dizer.

"Pode chorar no meu ombro se quiser, mas só se depois você deixar eu te comer." Era exatamente o que todo homem queria dizer com essa ladainha de "ombro amigo".

The Devil's Dagger • GWYNRIEL AUOnde histórias criam vida. Descubra agora