Pacific

Capítulo 36

Havia se passado quase uma semana desde a nossa ida à caverna do programa e, desde então, não consegui dormir direito. Simplesmente não conseguia fechar os olhos e adormecer. Como ter uma boa noite de sono não estava sendo possível, decidi utilizar esse meu tempo acordada para fazer pesquisas e tentar descobrir algo que pudesse nos ajudar mais com essa Guerra e esse outro mundo.

Enquanto minhas colegas de quarto dormiam, eu estava no meu esconderijo do dormitório, tomando café para me manter acordada. Elas não sabiam da existência desse lugar ou – se sabiam – não costumavam entrar nele. Fazia algumas horas que eu estava sentada à escrivaninha, mexendo no notebook e observando o livro de Lilly e alguns papeis que Jesse havia me dado.

Alguns dos noticiários estavam mencionando que os fenômenos ao redor da caverna Melissani – que ano passado estavam preocupando a todos – agora não aconteciam mais. Isso aconteceu – pelo menos, na minha opinião –, pois o Portal da caverna se fechou. Não tinha mais conexão entre o outro mundo e o nosso.

Prendi o cabelo em um rabo de cavalo, tomei mais alguns goles de café quente e voltei-me em direção ao computador. Não nos restava muito tempo para salvar o mundo das sereias. Tínhamos de encontrar esse outro portal e nos concentrar nos nossos poderes. Precisávamos focar no que poderia nos ajudar na hora da batalha – sendo ela como fosse –, e não poderíamos nos permitir distrair com problemas de seres humanos.

Tínhamos de esquecer esse novo programa que os homens do Além do Alcance estavam planejando para nós. Tínhamos de esquecer que Aaron não era exatamente uma boa pessoa, que nos usou... Não – na verdade –, usou Katheryn. Não podia ficar resmungando em relação ao Jesse e a Megan. Eu o havia ignorado quando ele disse que me amava e, então, ele encontrou uma namorada. Não podia ficar com raiva dele por causa disso... simplesmente não podia. Não tinha esse direito, todavia, a imagem dos dois namorando não me fazia sentir bem...

Eu queria falar com Jenner. Precisava do meu melhor amigo. Não havia motivo, somente precisava dele. Queria conversar, desabafar, e retomar nossa amizade. Queria que voltássemos a ser como antes. Então – como era tarde –, achei que ele estivesse no seu dormitório, arrumando-se para dormir ou algo do tipo.

Com o coração acelerado, atravessei o saguão e caminhei por entre os quartos do Dormitório Masculino, até parar à sua porta. Respirei fundo, erguendo o braço para bater na porta antes de abri-la. Infelizmente, não bati. Antes de ele se declarar para mim, eu entrava no seu quarto sem avisar. Não batia, apenas entrava. Ele nunca reclamou, e nunca vi problema nisso... até agora.

Decidi retomar esse hábito, levando a mão à maçaneta. Girei-a com calma e dei alguns passos para adentrar, todavia, uma cena me parou. Por algum motivo, doeu ver aquilo. Meus olhos se encheram de lágrimas. Não posso chorar – pensei. Não posso chorar. Sentia-me irritada, além de decepcionada. Aquele garoto não parecia ser o Jesse Jenner que conheci aos oito anos.

Seus companheiros de quarto não estavam presentes. Jesse estava quase sozinho, deitado na sua cama junto com Megan. Ela estava em cima dele, beijando-o, as mãos de meu amigo tocavam a cintura da namorada sem blusa. Não sabia o que fazer – se deveria interrompê-los ou não. Acreditei que, se o fizesse, Jesse ficaria com raiva de mim. Como eles não me viram, fiz questão que pensassem que ninguém os havia flagrado.

Dei alguns passos para trás, fechei a porta e me encostei nela. As lágrimas escaparam de meus olhos. Aquela cena doeu, de verdade. Não havia muito que fazer. Não tinha coragem de interromper aquele momento tão íntimo entre meu melhor amigo e sua namorada. A única coisa que poderia fazer era sair o mais rápido possível do dormitório masculino. Ansiava que ele jamais descobrisse que eu o tinha visto naquele instante. Passei as mãos nos olhos, incrédula e decepcionada, e corri em direção ao meu quarto, desejando ficar o mais longe possível dali...