Capítulo 9

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27 de dezembro – Terça-feira

Praticamente uma semana se passou desde que voltamos da caverna. Não conversei bastante sobre o assunto com as meninas, e encontrar outra entrada para o mundo das sereias estava sendo mais difícil do que imaginávamos. Então, para não ficar pensando muito nesse assunto, levei Sammy para passear no Parque Central, já que os nossos pais tinham saído para trabalhar.

Sam usava camisa de manga comprida e calça jeans, enquanto eu vestia uma regata preta sob minha nova jaqueta de couro e um short jeans. Chegamos ao Lago Secundário, que, na maioria das vezes, estava vazio. Não sabia o motivo de as pessoas não gostarem tanto dele. Era o meu favorito.

Nos sentamos encostados na ponte e ficamos em silêncio por um momento. Queria saber mais sobre a vida do meu novo irmão, mas tinha medo de perguntar e magoá-lo. O garoto parecia já ter sofrido bastante... Não queria fazê-lo relembrar o acontecimento que o separou da família. Apesar de que, ultimamente, talvez por causa do Natal, ele aparentasse pensar muito no assunto.

Olhava fixamente para ele, abraçando as pernas, hesitando em iniciar uma conversa. Sammy olhou para mim com um breve sorriso.

– No que está pensando? – perguntou. Provavelmente, fiquei vermelha. Era como se ele tivesse me pegado no flagra. – Sobre o que quer conversar? Sei que está interessada em algum assunto em particular.

– E-Eu só... e-estava querendo s-saber... – tentei falar com naturalidade, mas não consegui parar de gaguejar, fazendo-o rir de mim. – Como você chegou ao orfanato? Sei que teve um acidente, mas... não soube de nada muito detalhado, entende o que quero dizer? Se não quiser conversar sobre isso, não tem problema... compreendo completamente.

– Não tem problema, Amy. É até bom, sabe, contar para alguém que realmente se importa – respondeu, sorrindo e olhando para frente.

Percebi que ficou triste, seus olhos o denunciavam, mas ele não hesitou em continuar. Parecia determinado.

– Faz uns dois anos que sofri esse acidente. Eu estava no mesmo carro que meus irmãos. Não me lembro muito bem de como aconteceu, nem de como fui levado ao hospital. Só me lembro de acordar lá, sem nenhuma notícia dos meus irmãos ou dos meus pais. Não sabia se eles tinham sobrevivido, não sabia se meus pais ficaram sabendo sobre o acidente. O tempo foi se passando, e ninguém apareceu para me ver.

As mãos de Sammy começaram a tremer. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Em breve, ele choraria. E a culpa seria minha.

– Tinha sido abandonado, simples assim. Não tive notícias de ninguém. Tentaram entrar em contato com os meus pais, mas me disseram que não tinham conseguido falar com eles. Acho que meus irmãos morreram no acidente, já que não foram parar no mesmo orfanato que eu e... bem... os médicos ou diziam que não sabiam de nada sobre eles ou tentavam desconversar e iam embora. Talvez não quisessem me dar a notícia da morte deles...

As lágrimas agora escorriam por seu rosto. Senti uma pontada no peito. Mordi o lábio; meus olhos marejados.

– Quando não se sentir à vontade em continuar, pode parar. Tipo, não o obrigarei a nada, Sammy, e quero que saiba disso – falei, colocando a mão no seu ombro e fazendo-o olhar para mim, agradecido.

– Eu não conseguia, não queria, na verdade, ficar conversando com as pessoas. Todo mundo queria saber sobre o acidente, como eu tinha sobrevivido e como eu estava me sentindo, mas nunca me senti pronto para falar sobre isso... até agora – deu um breve sorriso. – Minha cabeça estava cheia de pensamentos, eu só fazia chorar e as pessoas não se importavam comigo. Elas só queriam saber das coisas para não ficarem desenformadas sobre algo.

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