Capítulo 21

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24 de fevereiro – Sexta-feira

Tinha acordado bastante cedo, porque não conseguia parar de pensar no meu pai. Fazia dias de que não conversávamos sobre o Portal e o mundo das sereias, e Selena também não estava falando conosco, ou vice-versa. E isso estava começando a me preocupar. Não conseguia pensar em mais nada depois de que tivemos certeza do que Selena tinha feito com Zeke.

Agora eu só me importava em chegar ao outro mundo e pegar o que poderia curar meu pai definitivamente. E salvar o outro mundo, claro.

Me levantei da cama e tomei banho. Meus pais tinham comprado um dos tipos de uniforme para mim, enquanto eu me reencontrava com Logan, no retorno das aulas. Vesti a camisa social branca, de manga curta, e um short preto, de cintura alta. Calcei meus Converse novos e parei na frente do espelho para pentear o cabelo. Tinha que decidir se colocava a gravata preta ou não.

Fiz uma careta. Não estava a fim de usá-la, então, peguei meu blazer azul com o emblema da escola e saí do quarto em direção ao dormitório do meu irmão. Sentia saudades dele e queria conversar com ele, saber como estava se sentindo na nova escola e o que estava achando de tudo até aquele momento.

Segui até a Pequena Pacific, atravessando uma passarela que tinha no enorme muro que nos separava. Sorri ao me lembrar de Selena contando para mim e para Bridget que isso tinha sido baseado no Arco do Triunfo, um "monumento histórico que fica na França". Mas meu sorriso sumiu rapidamente. Ainda estava com raiva de Selena, e pensar nela me fazia sentir uma pontada no peito.

Assim que atravessei a passarela, vi que já havia umas crianças acordadas, correndo de um lado para o outro com seus uniformes brancos, pretos e azuis. A Pequena Pacific era um pouco diferente da Pacific que eu estava acostumava, mas era linda e incrível do mesmo jeito.

Olhei para os lados, tentando descobrir se Sammy estava entre aquelas crianças. Comecei a andar, ainda à sua procura. Caso não o encontrasse, precisaria ir até o seu quarto e, provavelmente, ele estaria dormindo. Respirei fundo, com o coração acelerado, esperançosa. Queria muito conversar com ele e, especialmente, abraçá-lo.

Então, minutos depois, quando eu tinha decidido voltar para o outro lado da Pacific, vi um garotinho de cabelo castanho sentado no banco, na frente de uma fonte. Parei para observá-lo. Sam parecia aflito com os cotovelos apoiados nas pernas inquietas e o corpo inclinado; suas mãos cobrindo os olhos. Senti uma pontada no peito.

Será que ele está sofrendo bullying como o irmão de Selena? Meus olhos ficaram marejados. Balancei a cabeça em negativa. Isso não podia ser real, podia? Se algo estivesse acontecendo com ele, Sammy teria me contado. Certo? Não tinha tanta certeza disso.

Respirei fundo, criando coragem para ir até ele e perguntar o que estava acontecendo. Assim que parei à sua frente, ele notou minha presença e ergueu a cabeça na minha direção. Percebi que seus olhos brilhavam por estarem cheios de lágrimas. Estremeci, engolindo em seco, tentando descobrir o que lhe acontecia.

Sam sorriu de orelha a orelha, e sua preocupação pareceu sumir de repente. Retribuí o sorriso, feliz ao vê-lo. Não sabia o que dizer, se perguntaria o que estava acontecendo ou se deveria deixá-lo livre para me contar o que estava sentindo, quando estivesse pronto. Mordi o lábio.

– Então... o que está achando da escola? – perguntei com os olhos fixos nos dele, me sentando ao seu lado. Começaria pelo básico, até chegar em algo mais profundo, no que ele estava sentindo. Não queria que Sammy se fechasse. – Escolheu alguma atividade extracurricular? Fez alguma amizade?

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